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27.2.13

Rumi - A dança da alma (Projeto Rumi)

Rumi - A dança da alma foi lançado em 27.09.13:

Comprar o livro no Clube de Autores

Após Ad infinitum estar publicado e divulgado, inicio outro projeto. Desta vez, serei mais tradutor do que autor... O que segue abaixo é um trecho da introdução deste novo livro, que por enquanto será aqui chamado de Projeto Rumi [1]:


Já é noite, e a lua cheia da Pérsia estampa o tecido estelar, a refletir a luz que vem do outro lado do mundo. A sua volta, todos os discípulos estão tão taciturnos e quietos que, acaso fossem lamparinas vivas, poderiam ser confundidos com estrelas tristes.

Ao centro há um velho poeta dançarino. Ele encontrou e perdeu um grande amigo, ao mesmo tempo seu mestre e seu discípulo, pois que um completava ao outro como o sol e a lua... Mas isto foi há muitos anos, agora tudo o que ele faz é dançar. A tristeza incomensurável da perda em sua alma foi suplantada por chama ainda maior: um fogo que nunca se apaga.

Eis como se lamentava o seu filho ante sua aparente ausência:

Noite e dia, em êxtase ele dançava,
na terra girava como giram os céus.
Rumo às estrelas lançava seus gritos
e não havia quem não os escutasse.
Aos músicos provia ouro e prata,
e tudo o mais de seu entregava.
Nem por um instante ficava sem música e sem transe,
nem por um momento descansava.
Houve protestos, no mundo inteiro ressoava o tumulto.
A todos surpreendia que o grande sacerdote do Islã,
tornado senhor dos dois universos,
vivesse agora delirando como um louco,
dentro e fora de casa.
Por sua causa, da religião e da fé o povo se afastara;
e ele, enlouquecido de amor.
Os que antes recitavam a palavra de Deus
agora cantavam versos e partiam com os músicos [2].

Mas esta lamentação não inibiu seu espanto ante as palavras que o velho poeta parecia conseguir roubar do céu. Este silêncio todo é tão somente isto: o silêncio que antecede a chegada da poesia...

Ele faz um breve gesto, o sinal está dado. Os músicos começam a assoprar da alma para fora as melodias mais belas de todo o mundo árabe, e os escribas ficam a postos.

O poeta começa a dançar. Pé ante pé, suas passadas fazem com que gire agilmente em torno do próprio eixo, apesar da idade já avançada. Porém, assim como a Terra não gira no mesmo lugar, o poeta também circula uma estrela imaginária, um sol invisível a pairar no reino da imaginação [3]. É de sua luz que começam a chegar às palavras cantadas. Cada pequeno trecho é anotado:

Se você não me achar em você, nunca me achará.
Pois, tenho estado contigo, desde o início de mim.

Não há tempo a perder. É preciso aproveitar cada minuto do transe extático daquele que fora um grande sacerdote, mas que ao fim da vida havia se tornado algo ainda maior e mais profundo: um poeta que sabe como dialogar com Deus.

Lá onde nasce o verdadeiro amor
morre o “eu”, esse tenebroso déspota.
Tu o deixas expirar no negro da noite
e livre respiras à luz da manhã.

“Como pode, tão velho, após haver sofrido tanto de amor e de saudades, ainda conseguir trazer tanta água da fonte?” – pensam os escribas enquanto anotam, e anotam, e anotam... Foram milhares e milhares de poemas:

Está com ciúmes da generosidade do oceano?
Porque se recusaria a doar
esta alegria aos outros?
Os peixes não guardam o líquido sagrado em canecas!
Eles nadam nesta imensidão de liberdade fluída.

Ainda é noite, e o primeiro e maior dos dervixes rodopiantes, o dançarino em transe, continua a girar em torno de todo o Cosmos que, afinal, também está dentro dele mesmo.

Ele veio ao mundo para nos revelar a luz que vem do sol, pois que foi um dos poucos que a observou diretamente e não cegou – apenas amou, enlouquecidamente, e cada dia mais, até que seu espírito foi reclamado pelos que já estavam muito saudosos no outro mundo.

Isto foi há aproximadamente 8 séculos. O seu nome era Jalal ud-Din Rumi.

***

[1] Em 24/09/13 foi revelado o título do livro: Rumi - A dança da alma

[2] Texto de Sultan Walad, filho dileto, biógrafo e sucessor de Rumi. Walad foi o primeiro intérprete e exegeta de sua obra, e também o fundador da ordem sufi Mevlevi, conhecida como a ordem dos dervixes girantes, ou dançantes. O trecho citado foi transcrito da introdução de “Poemas Místicos” (Attar Editorial), com a seleção e tradução de José Jorge de Carvalho.

[3] Rumi criou a dança cósmica, o sama, praticada pela ordem sufi Mevlevi (ver nota 1). Sergio Rizek, editor da Attar, explica que essa dança se inspira no movimento dos astros: "Assim como todos os corpos giram por amor ao sol, os dervixes também giram por amor ao divino, que muitas vezes precisa de uma contrapartida humana, pois no Islã o amor humano é símbolo e reflexo do amor divino" (citação retirada do artigo de Débora F. Lerrer, “Quando o homem se confunde com Deus”).

» Veja também: Os dois mundos de Rumi

» Veja mais posts do Projeto Rumi

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Crédito da imagem: Ayon/Raph

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25.2.13

2013: o ano do livro digital

Texto de Raquel Cozer para a revista Superinteressante (Fevereiro/2013). As notas ao final são minhas.

O Big Bang dos livros digitais no Brasil finalmente aconteceu. Foi em 5 de Dezembro de 2012. Num intervalo de menos de 24 horas, estrearam a Amazon brasileira (trazendo junto seu leitor eletrônico, o Kindle), a canadense Kobo (rival da Amazon) [1] e a loja de livros digitais do Google. A Apple, aliás, tinha estourado a largada: para conseguir vender e-books em português antes de todas as outras, começou a oferecê-los em dólares mesmo, em outubro [2].

O Brasil já tinha suas próprias lojas de livros digitais, locais, desde o final de 2009. Mas faltavam dois detalhes essenciais para que vivêssemos o cenário que os Estados Unidos vislumbraram no final de 2007, quando a Amazon lançou o Kindle por lá. Faltavam aparelhos de leitura a preços razoáveis e um acervo que fosse digno desse nome. Ambos foram impulsionados pela chegada das lojas estrangeiras.

Gadgets para ler até já existiam por aqui, claro, já que os tablets também servem para isso [3]. Mas com a Amazon e a Kobo chegaram os aparelhos feitos apenas para a leitura, com tela que não brilha. Seus olhos agradecem. E tem o preço. Enquanto o iPad custa mais de R$1.000, um Kindle ou um Kobo saem por menos de R$300.

Outro problema começou a ser resolvido antes mesmo de as lojas estrangeiras chegarem. Como a vinda delas era iminente, as editoras nacionais passaram a digitalizar em massa seus catálogos. No começo de 2012, tínhamos 6 mil livros digitais em português. No de 2013, 15 mil [4]. Nem é tanto perto das centenas de milhares de títulos que as editoras têm a oferecer. Mas, para o leitor, o que existe agora já é um mundo. Especialmente no Brasil, onde quem não mora nas cidades grandes enfrenta uma barra para encontrar uma livraria.

Este leitor já dependia das lojas virtuais para comprar livros, mas, com a chegada dos digitais, não precisa mais esperar dias para recebê-los [5]. Sessenta segundos o separam daquilo que ele quer ler. Mesmo que esse leitor more numa capital, ele aprende que pode baixar um livro em menos tempo do que leva para fazer baliza no estacionamento do shopping.

Essa comodidade trouxe algo novo: nos países em que o livro digital já pegou, as pessoas começaram a ler mais. Uma pesquisa do Pew Research Center nos EUA mostrou que os leitores de e-books leem 24 livros por ano, ante 15 livros para quem se mantém fiel apenas ao impresso. Natural: para começar, livro digital não ocupa espaço. E espaço é um artigo precioso no mercado de livros. O metro quadrado nas livrarias é escasso. Custa caro. Então não é fácil encontrar por aí obras que não sejam os best-sellers de sempre. Por que elas vão gastar espaço com livros que vendem pouco? Já as lojas de e-books têm um espaço virtualmente infinito. Em tese, dá para comprar qualquer obra ali. Aquele livro que você sempre quis ter e nunca nem viu numa livraria quase que certamente vai existir um dia no formato digital. Nisso, cada leitor encontra o que mais gosta. Cada tampa acha a sua panela. E as pessoas acabam lendo mais [6].

E eles não leem mais só porque é mais fácil comprar. É mais fácil na hora de ler também. Baixou O Amanuense Belmiro para o vestibular e não sabe o que é a palavra “amanuense”? É só por o dedo em cima dela e um dicionário diz. Até deixar marcas de leitura no livro ficou mais tranquilo. Você seleciona o trecho com o dedo e ele já aparece em destaque. É tão intuitivo que uma hora você vai se pegar tentando selecionar palavras com o dedo num livro de papel [7].

Ah, também dá para ver quais trechos foram mais marcados pelos outros leitores [8]. Legal que, desse jeito, dá para aprender algumas coisas inusitadas sobre a cabeça das pessoas. Tipo: o livro mais sublinhado de todos os tempos no Kindle, fora a Bíblia, é Steve Jobs, de Walter Isaacson. E o trecho mais marcado ali é “finja que está no controle, e as pessoas vão achar que você está”. Aliás, esse tipo de dissimulação é mais ou menos o que a Amazon vem fazendo. A empresa gosta de divulgar que já vende mais e-books que livros em papel. Mas isso não significa que o livro digital já assumiu o controle do mercado. A verdade é que, mesmo com a clientela digitalizada da Amazon, só um em cada quatro leitores americanos já experimentaram um Kindle, um Kobo ou qualquer outro leitor [9].

Mesmo assim, a adesão ao digital surpreende. Outra pesquisa da Pew mostra que, há pouco mais de um ano, apenas 16% dos leitores tinham tido contato com livros digitais. Agora essa fatia está em 23%. Ou seja: é, sim, apenas um quarto. Mas até há pouco tempo era um sexto, então o que temos é um ritmo de crescimento impressionante. Chegar aos 100%, ao que parece, é questão de tempo. No Brasil não deve ser diferente. E em algum momento o livro impresso talvez seja para o digital aquilo que os manuscritos já foram para o livro de papel: uma sombra do passado. Tanto que a palavra que denomina o profissional que faz manuscritos está morta. É “amanuense”.

O livro de papel vai acabar, então? Por inusitado que pareça, não. A massificação dos livros digitais pode até ser boa para quem gosta de livros impressos. Livro, afinal, é também um objeto de decoração. Mesmo quem hoje praticamente só lê livros digitais gosta de exibir uma estante cheia de lombadas – o fetiche por livros, vale lembrar, é até maior do que aquele que ainda movimenta a indústria de discos de vinil. E agora só vão sobreviver no mercado de impressos as editoras que fizerem os livros mais bonitos, caprichados, daqueles que dá gosto de folhear. As tranqueiras podem ficar só no digital mesmo. Ainda mais porque, com ele, ninguém sabe o que você está lendo.

***

[1] Ainda em 2011 a Kobo foi vendida para a empresa de e-commerce japonesa Rakuten. Ela é hoje, na realidade, uma empresa japonesa.

[2] De todas as gigantes do livro digital, portanto, só falta chegar ao Brasil a Barnes & Noble (com o seu eReader, o Nook). Isto é, se é que ele vai sobreviver a concorrência.

[3] Para quem não tem recursos ou interesse em investir muito dinheiro em tablets, recomendo os tablets da coreana Genesis, com um custo-benefício assustador. Eles servem como leitores digitais, com o bônus de também permitirem o uso do Google Android e todos os seus recursos (web, YouTube, Angry Birds, etc).

[4] Há também uma crescente publicação de livros clássicos gratuitos (em português, já que em inglês já são milhares deles), particularmente na loja da Amazon. Se você ainda não leu nenhum livro de Platão, por exemplo, encontrará boa parte deles gratuitamente por lá... Isto por si só praticamente já “paga” o custo de um Kindle, por exemplo.
No entanto, mesmo os livros digitais pagos devem ser, em sua maioria, consideravelmente mais baratos que suas versões em papel. Qualquer livro digital com (o equivalente a) menos de 300 páginas sendo vendido atualmente por mais de R$20 tem um olho bem gordo da editora embutido – a margem de lucro é astronômica para estes casos.

[5] Eu pessoalmente achei esta uma vantagem importantíssima dos livros digitais. Me lembro que tive de esperar mais de uma semana para receber o A dance with dragons, do George R.R. Martin, quando ele saiu na Saraiva (felizmente a Saraiva lançou diretamente no Brasil, senão teria de esperar mais de um mês para importá-lo). No próximo livro da série, dificilmente irei esperar mais do que alguns minutos para começar a ler. Para este tipo de literatura, acho uma grande vantagem.

[6] A jornalista nem comentou acerca da enorme janela que o mercado de livros digitais abre para novos autores. Enquanto boa parte das editoras no Brasil levam de um a dois anos para avaliar manuscritos de autores iniciantes (e provavelmente recusa 99,9% deles), nas lojas da Kindle e da Kobo qualquer autor pode publicar seu próprio livro (desde que, é claro, saiba diagramar para o formato digital, ou contrate alguém que saiba). Como vocês devem saber, eu já aproveitei esta oportunidade.

[7] Não sei quanto a nós, adultos, mas tudo indica que as crianças e adolescentes de hoje já lerão mais neste formato digital do que no antigo, num futuro bastante próximo.

[8] Embora isto na prática ainda só funcione “nos best-sellers de sempre”.

[9] E, no Brasil, certamente menos ainda. Porém, vale lembrar duas coisas: (1) Que não é necessário um eReader para ler um livro digital, qualquer tablet, smartphone ou PC já é capaz de ler um; e (2) Que a tecnologia ainda vai avançar, e muito. Pensem, por exemplo, no dia em que as telas maleáveis, praticamente da finura de uma folha de papel, servirem como eReaders? Neste futuro cada vez mais próximo, em eReader será basicamente um livro mais fino, onde cada página trará conteúdo quase infinito.

Crédito da foto: Amazon.com (Divulgação)

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22.2.13

Frases (13)

Mais frases que vieram com o vento, geralmente primeiro aparecem no meu twitter, depois aqui:


"Somente em silêncio podemos ouvir o que não foi dito, nem escrito."

"Onde estarão os anjos? No céu não se viu... Anjos arteiros, estavam cá embaixo, distribuindo convites de amor aos que faltaram a cerimônia."

"Assim são os anjos: vivem no Céu, trabalham no Inferno."

"As vezes nossos esforços para melhorar a vizinhança podem ser vistos como 'nada mais que uma gota no oceano'. Mas o oceano é feito de gotas."


"O monoteísmo é uma vogal, o paganismo um alfabeto. Os ateus creem que ele serve apenas para se escrever palavras." (após Moore)

"Na antiga Grécia, em nenhum deus faltava a humanidade inteira. Desde que fossem muitos. A humanidade não caberia apenas num deus." (após Schiller)

"Os deuses são como as letras de um alfabeto da alma humana. Mas ninguém sabe quem criou essa linguagem, ela parece ser anterior ao Pai do Céu."

"A luz branca é decomposta num prisma. Não há branco: só luz. Assim é com os santos, deuses e orixás: a luz de um só Deus em cores infinitas."


"A prova de que existe a alma? Fernando Pessoa a navegar..."

"A alma que se reconhece jamais será consumida ou consumidora."

"'Causa aleatória': somente um outro nome que dão para o Grande Desconhecido."

"Nem todo religioso é dogmático. O dogma é uma represa, mas a religião precisa ser um rio, já que precisa chegar ao Oceano, seja o que ele for."


"A depressão é um dos negócios mais lucrativos da modernidade."

"Não há punição maior do que o trauma da culpa."

"Eis o que é a Alquimia: a depuração da alma, a transformação de sentimentos de Chumbo em sentimentos de Ouro."


"Ah! Os amantes e seus conflitos... Em último caso, tornam-se bons amigos. Num dia afortunado, podem se amar perdidamente, se acharem em si, e amar por amar, e viver para amar."

"'Trago a pessoa amada', dizem por aí... As vezes leva 3 dias, as vezes leva 3 vidas, ou mais..."

"Eu não acredito em idade, só lembro da minha porque fica chato não saber quando perguntam (não que acredite nela, para mim é só um número)."

"O maior clássico do futebol mundial: nem Brasil x Argentina, nem Barça x Real, mas Com Camisa x Sem Camisa."


"Os satanismos da vida, tanto os ingênuos de metaleiros quanto o satírico de LaVey, por vezes são espelho invertido do que se opõem." (Thuin)

"Como alguém pode ser si mesma enquanto estiver aceitando que os outros a digam para ser si mesma?" (Igor Teo)

"Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia." (Sagan)

"Now and Here = Nowhere; Éden is now and here, Éden is nowhere." (Campbell)

"Se você não me achar em você, nunca me achará. Pois, tenho estado contigo, desde o começo de mim." (Rumi)

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Crédito da foto: Gideon Mendel/Corbis (protestantes contra o sistema financeiro europeu fantasiados, abril de 2009)

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17.2.13

Como peixes presos no vento

Alguns leitores do meu livro (Ad infinitum) me disseram que ele lembra, ao menos na estrutura (um diálogo entre quatro personagens acerca "de quase tudo"), a um filme de 1990, que aparentemente nunca foi lançado em DVD: O ponto de mutação (Mindwalk), dirigido por Bernt Capra, e baseado na obra homônima do seu irmão, Fritjof Capra, também escritor de outro livro bastante conhecido, O Tao da física.

Até pouco tempo atrás, nunca tinha ouvido falar do filme, e havia apenas folheado os livros de Capra em livrarias, sempre os deixando para ler nalgum outro momento (talvez agora venha a lê-los mais em breve)... Hoje, finalmente, vi o filme de que falavam, e me senti imensamente honrado por haverem associado meu livro a ele. No filme há uma conversa entre três personagens: uma cientista norueguesa, Sonia Hoffman (interpretada por Liv Ullmann); um político americano e ex-candidato presidencial , Jack Edwards (interpretado por Sam Waterston); e o poeta Thomas Harriman (interpretado por John Heard), também um ex-redator de discursos políticos. Todo o filme gira em torno do diálogo desses três personagens, enquanto caminham ao redor de Mont Saint Michel, na França (um cenário belíssimo).

O filme serve como uma introdução à teoria de sistemas e pensamento sistêmico [1], enquanto alguns insights sobre modernas teorias físicas, tais como a mecânica quântica e física de partículas também são dados. O que o torna ainda mais extraordinário para os contempladores em geral é, no entanto, o uso que o filme faz da poesia, principalmente através de Thomas, que chega a recitar um poema inteiro de Pablo Neruda [2], num dos grandes momentos da narrativa. No fim, quem sabe (esta foi apenas minha interpretação), não somos como os relógios do cartesianismo, mas tampouco podemos ser reduzidos as teorias de sistemas - somos, enfim, transcendentes: somos poemas vivos!

Com vocês, o filme completo, no YouTube:

***

[1] Conforme Sonia explica ao longo do filme: "Um pensador de sistemas veria a vida da árvore somente em relação à vida de toda a floresta. Ele veria a árvore como o habitat de pássaros, o lar de insetos. Já se você tentar entender a árvore como algo isolado, ficaria intrigado com os milhões de frutos que produz na vida, pois só uma ou duas árvores resultarão deles. Mas se você vir a árvore como um membro de um sistema vivo maior, tal abundância de frutos fará sentido, pois centenas de animais e aves sobreviverão graças a eles. Interdependência. E a árvore também não sobrevive sozinha. Para tirar água do solo, precisa dos fungos que crescem na raiz e o fungo precisa da raiz e a raiz precisa do fungo. Se um morrer, o outro morre também. Há milhões de relações como esta no mundo, cada uma envolvendo uma interdependência. A teoria dos sistemas reconhece esta teoria das relações como a essência de todas as coisas vivas". Isto é, uma defesa profunda da ecologia, ainda em 1990...

[2] Peixe Preso Dentro do Vento:

Tu perguntas
o que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe.
E por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
'Quem as algas apertam em seu abraço...', perguntas
'mais firme que uma hora e um mar certos?' Eu sei.
Perguntas sobre a presa branca do narval
e eu respondo contando como o unicórnio do mar,
arpoado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador
que vibram nas puras primaveras dos mares do sul.
Quero te contar que o oceano sabe isto:
que a vida, em seus estojos de jóias,
é infinita como a areia incontável, pura;
e o tempo, entre uvas cor de sangue
tornou a pedra dura e lisa, encheu a água-viva de luz,
desfez o seu nó, soltou seus fios musicais
de uma cornicópia feita de infinita madrepérola.
Sou só a rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão
e de dedos habituados à longitude
do tímido globo de uma laranja.
Caminho como tu, investigando a estrela sem fim
e em minha rede, durante a noite, acordo nu.
A única coisa capturada é um peixe preso dentro do vento.

(Pablo Neruda)

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Vejam também:

» Reflexões sobre o materialismo

» Monismos e dualismos

» Onde está o seu deus?

Crédito da imagem: Divulgação

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15.2.13

Ad infinitum: Amala e Kamala são uma farsa?

Este é um comentário adicional acerca do meu livro: Ad infinitum.

Um leitor me alertou para estudos recentes, de 2007 [1], que afirmam que o caso das crianças selvagens indianas, Amala e Kamala [2], seria na realidade uma farsa elaborada pelo reverendo cristão (Singh) que as mantinha em seu orfanato em Midnapore. Eis o que tenho a dizer sobre isto, já que este caso é citado em meu livro:

Segundo estudos recentes, a história das meninas Amala e Kamala, "criadas por lobos" na Índia, pode ser uma farsa.
Apesar de não haver lido o estudo (se encontra num livro publicado apenas em francês), fontes da Wikipedia trazem informações que parecem apontar para um estudo realmente aprofundado. Parecem indicar, enfim, que o caso de Amala e Kamala se trata mesmo de uma farsa. Ainda que o objetivo do Reverendo Singh talvez tenha sido puramente altruísta (trazer recursos para seu orfanato, embora eu mesmo duvide que tenha sido apenas para caridade), isto não invalida a fraude em si.

Ainda que seja, não significa que não tenham ocorrido casos do tipo no mundo, ou que todos os relatos de "crianças selvagens" sejam falsos.
De fato, apesar de o caso de Amala e Kamala ser um dos mais famosos, ele está distante de ser o único. Provavelmente, os casos reais serão menos fantásticos e mais deprimentes, como pais alcoólatras do leste europeu que abandonam seus filhos, literalmente, na casinha do cachorro, e outras histórias ainda mais lamentáveis...

Mas mesmo que TODOS os relatos sejam falsos, isto não anula a lógica que pretendia ser demonstrada com a história.
Felizmente, no que tange a lógica e a filosofia do meu livro, ainda que todos os casos de crianças selvagens relatados na história sejam fraudes, isto não invalida a tese que pretendia ser demonstrada quanto citei o caso de Amala e Kamala.

Isto é: que nós somos seres de potencialidades que precisam ser despertadas na juventude, do contrário perderemos a oportunidade de despertá-las nesta vida.
Isto é algo que todo educador sabe: as crianças vêm a este mundo com plenas capacidades de desenvolvimento, mas são extremamente dependentes dos pais e de uma boa educação para que consigam desenvolver suas potencialidades. Conforme o exemplo de Mozart, citado também em meu livro: se seu pai não houvesse lhe apresentado um piano quando ele ainda era bem jovem, ele certamente não teria sido um menino prodígio, e talvez nem sequer fosse músico. Isto não significaria, no entanto, que Mozart não houvesse nascido com a potencialidade latente para a música – ela apenas não haveria sido desperta há tempo.

"Um ser humano criado por lobos será pouco mais que um lobo. Mas um lobo, ainda que criado por nossos melhores educadores, não tem a potencialidade de ser, cognitivamente, como nós".
Esta é a associação da potencialidade com a cognição de cada espécie. O lobo, que é inferior ao ser humano na capacidade de cognição, jamais poderia alcançar a cognição do ser humano mais ignorante, ainda que fosse o mais “genial” dos lobos, e ainda que fosse educado por nossos melhores adestradores. Apesar de todo animal ser um ser de potencialidades, as potencialidades da cognição humana só podem ser despertas na espécie humana [3].

***

[1] Um cirurgião francês, Serge Aroles, publicou em 2007 um livro onde analisa em profundidade diversos casos de crianças selvagens relatados na história. Seu livro se chama L'Enigme des enfants-loup (algo como O enigma das crianças selvagens, sem versão em português).

[2] O caso de Amala e Kamala é descrito neste artigo do meu blog: Os pequenos selvagens.

[3] Apesar de eu não citar isto no livro, poderíamos usar esta lógica como uma crítica a algumas ideias superficiais no âmbito da reencarnação: se um ser humano pudesse reencarnar num lobo, ou num cachorro, algum adestrador já haveria conseguido ensinar algum desses animais a se comunicar de forma avançada. Entenda-se como uma anedota.

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Crédito da imagem: Ayon/Raph.

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14.2.13

Condutoras

» Conto pessoal, da série “Cotidianos”, com breves reflexões acerca dos eventos do dia a dia...

“Só podia ser mulher! Nessas horas eu sou machista...”.

Quem disse isso foi uma mulher. Ela estava dirigindo o carro, e eu era o carona. No cruzamento, alguma outra mulher conduzia seu carro sem muita pressa, o que é sempre um incômodo para o mundo do fast food.

Mas eu não estou aqui para falar de fast food, e sim de machismo. Já pararam para pensar? – São as mães, são as mulheres, primordialmente, quem ensinam seus filhos e filhas a serem machistas. Ou, pelo menos, a maioria pouco faz para evitar a sedução do pensamento machista na maior parte das sociedades do mundo.

Em comerciais de TV (inclusive de carros), músicas pop, novelas, e até mesmo na literatura softcore altamente vendável: o machismo ainda está por toda a parte. Mas é claro que as coisas mudaram: hoje em dia, na maior parte do mundo civilizado, as mulheres tem alma, podem escolher com quem vão se casar, tem direito ao voto, e estão a caminho de ganhar quase tanto quanto os homens pela mesma função no trabalho. Dizem até que no ensino superior já ultrapassaram os homens há algum tempo, ao menos em porcentagem de inscritos... Então, qual é o problema?

O problema está na origem do machismo, isto é, na origem do mundo patriarcal. Como alguns devem saber, há muito, muito tempo, a maioria das sociedades tribais era matriarcal, pois eram as mulheres, as sacerdotisas, quem “dominavam” os mistérios da vida, e da Deusa Mãe. Era somente através delas que novos seres humanos chegavam a Terra, e por isso parecia justo que fossem elas as responsáveis por organizar e celebrar os cultos e rituais religiosos.

Então chegou a agricultura. No início, deu ainda mais poder as mulheres: afinal, elas já cuidavam de organizar a tribo enquanto os caçadores-coletores se arriscavam no meio selvagem. Agora cuidavam também da plantação e do estoque de grãos. Estocar comida, isto sim, era algo inédito na história humana. Infelizmente, nem todas as tribos tinham a mesma habilidade para tal função.

Em épocas de fome, tribos de nômades pensaram assim: “Porque me arriscar a caçar na selva, se posso simplesmente invadir aquela tribo onde há vasos cheios de comida estocada, e somente mulheres cuidando dela?”. Os caçadores nômades passaram a invadir tribos estabelecidas, e foi então que o mundo viu o surgimento do primeiro exército: um grupo de caçadores passou a ser pago em comida, para proteger a comida.

Ainda que todo soldado sirva, idealmente, para manter a paz, na prática foi com violência e sangue, muito sangue derramado, que ela vem sendo mantida desde então. O matriarcado não fazia mais sentido num mundo violento. A Deusa Mãe tornou-se submissa ao Deus Pai. Freyja tornou-se apenas a esposa de Wotan.

O machismo está, portanto, intimamente ligado à violência, a ideia de que “os homens são fortes e lhe protegem, mas não os irrite porque eles são mais fortes que você”. Então, se na teoria o machismo pode parecer somente algo engraçado que aparece de vez em quando na TV, na prática o que ele gera são estatísticas alarmantes de violência doméstica e estupros. E isto não aparecia na TV até pouco tempo, mas mesmo o que aparece é somente a ponta do iceberg...

No entanto, isto não responde a pergunta: “se o machismo é tão nocivo as mulheres, porque grande parte delas, quem sabe a maioria, é machista?”.

Neste caso, precisaremos recorrer a mitologia: Enquanto boa parte das deusas perdeu sua força ancestral, o gênero feminino conseguiu se manter no pensamento masculino como uma espécie de joia preciosa, de troféu... A musa que dá inspiração aos artistas, a princesa que precisa ser resgatada de algum monstro vil (e que é ela mesma o prêmio da aventura), a miss que, com sua beleza, reina sobre homens e mulheres.

E, conforme os mitos não existem, mas existem sempre, isto significa que existem ainda neste momento. Talvez por isso muitas mulheres aceitem o machismo. Elas podem até saber, ainda que inconscientemente, que correm algum risco de serem estupradas ou esbofeteadas ocasionalmente num mundo de homens machistas, mas talvez aceitem o risco pela possibilidade de serem, elas mesmas, o grande prêmio cobiçado por todos!

Qual mulher machista, afinal, não quer ser a musa, a princesa prometida ao grande herói, a miss universo, a mais bela de todo o mundo, de todo o Cosmos?

E isto só é possível num mundo machista. Num mundo machista as mulheres que são mais cobiçadas não são exatamente aquelas donas do próprio nariz, senhoras de si, livres pensadoras, mas sim aquelas que esperam, tal qual a princesa do castelo, pelo príncipe encantado. Num mundo machista estamos atrás de mulheres-troféu. E as mulheres machistas, afinal, querem muito ser este troféu tão adorado.

Infelizmente para elas, e felizmente para os que desejam um novo mundo, a grande maioria das mulheres não alcança tal posto... Um dia, quem sabe, elas cansem das dietas milagrosas e da obsessão pela estética, e se voltem para dentro, e descubram a si mesmas, e rasguem esta ridícula veste de princesa que as limitam por todos os lados. Quem sabe, um dia, as mulheres aceitem a celulite e algum tanto de culote.

Neste dia o machismo estará em sérios apuros. Neste dia a Deusa Mãe, e a sensibilidade, e o amor e respeito a Natureza, e o amor e respeito a integridade da mulher, estarão em vias de retomar seu lugar no mundo. Não um lugar de dominância, acima do Deus Pai, pois neste novo mundo Deus poderá ser, finalmente, Pai e Mãe!

E, em toda essa história, teremos citado apenas uma lenda, um mito efetivamente falso: As mulheres são melhores condutoras de automóveis que os homens, e já faz algum tempo. Se duvidam, pesquisem pelo preço do seguro para homens, e para mulheres.

O que falta a mulher é, portanto, ser a condutora da própria vida. Os homens, afinal, não as deixaram num mundo tão maravilhoso assim. O príncipe encantado, e seu Reino Encantado, podem existir no futuro, não hoje.

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Crédito da foto: Tomas Rodriguez/Corbis

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Ad infinitum: Porque não há 2 substâncias incriadas?

Este é um comentário adicional acerca do meu livro: Ad infinitum. Este comentário pode parecer complexo, mas devo dizer que o livro foi escrito para ser o mais compreensível possível. Portanto, não deixe de ler a Amostra grátis antes de descartá-lo por alguma razão de aparente complexidade.

Algumas pessoas parecem não ter compreendido muito bem alguns conceitos chaves do livro, e da ideia de Substância de Benedito Espinosa.

Uma das questões que encontrei se referia ao motivo lógico de não poder haver mais de uma substância incriada, no caso, 2+. Ou seja, entre 2 ou 1 milhão ou 1 googolplex de substâncias incriadas, o problema lógico seria o mesmo. Mas, para facilitar o entendimento, vou considerar apenas 2 aqui.

Devo dizer que o que vou falar aqui é exposto bem mais aprofundadamente logo no início da obra prima de Espinosa, a Ética. Mas, devido à linguagem “geométrica” utilizada na obra, o entendimento pode ser mesmo complexo para quem não está muito acostumado com uma filosofia um pouco mais densa. Somente por isso venho aqui tentar explicar o mesmo, procurando usar a linguagem mais simples possível:

Ou há "0" ou há "1" (onde "0" = nada).
Conforme nada pode surgir do nada, temos que ou deve existir algo, ou deve existir nada.

Já que estamos aqui, há "1". Há informação, e não nada.
Conforme estamos aqui pensando, e conforme a nossa volta existem cadeiras e tortas de maça [1], temos que algo existe. Poderia ser somente uma única informação, um único bit [2], ou poderia ser tudo o que há no Cosmos. Tanto faz: fato é que algo existe, e não nada. De fato, esta é uma das poucas certezas que podemos ter em filosofia.

Acaso existissem duas substâncias incriadas, precisariam ter dois atributos diferentes: "1a" e "1b".
Se imaginarmos que poderiam existir duas substâncias incriadas, ou causas de si mesmas, temos que elas precisariam ser diferentes uma da outra, do contrário seriam a mesma. Desta forma, seria necessário que tais substâncias tivessem ao menos um atributo, uma informação, capaz de diferenciá-las entre si. Então, neste caso, teríamos algo como: “1a" e “1b”. Onde “a” e “b” são atributos diferentes um do outro.

Mas "a" e "b" são informações, e toda informação é já um efeito da causa primeira: "1".
Conforme os atributos “a” e “b”, atribuídos às supostas substâncias incriadas, são por si só informação, e como nenhuma informação poderia surgir sem uma causa [3], daí concluímos, pela lógica pura, que “1a" e “1b” na verdade partilham informações já criadas. Isto significa que “1a" e “1b” não poderiam ser as responsáveis por haver criado, respectivamente, “a” e “b”. Ou seja, apenas partilham uma informação que foi criada por uma substância necessariamente pré-existente a elas: “1”.

Dessa forma, temos que "1a" e "1b" nada mais seriam do que subdivisões, efeitos de "1".
Conforme “a” e “b” eram já informações pré-existentes, isto significa que “1a" e “1b” não seriam substâncias incriadas, mas antes subdivisões, substâncias filhas da substância incriada, que deve necessariamente ser única: “1”.
Outra analogia que nos cabe fazer é imaginarmos a luz e suas cores: Ora, hoje sabemos que as cores nada mais são do que a luz (fótons) em diferentes comprimentos de onda. Poderíamos, portanto, imaginar que “existe a cor azul” e que “existe a cor verde”. Mas ambas as cores são apenas percebidas assim por nossos olhos, subjetivamente, pois objetivamente são formadas por luz. Não é que as cores não existam, elas existem, mas existem somente porque antes existiu a luz, e depois uma mente capaz de perceber a luz. Quando rodamos um disco de cores (ou Disco de Newton) percebemos que o que resulta da mistura de todas as cores é a cor branca. Da mesma forma, poderíamos nos iludir imaginando que “1a" e “1b” seriam substâncias incriadas, quando em realidade seriam como que “cores” de “1”, que corresponderia, por analogia, a cor branca, a luz em si.
Lembremos, porém, que isto é somente uma analogia, pois que mesmo os fótons em si já seriam subdivisões de “1”.

A conclusão lógica é que há somente uma única substância incriada, e que estamos dentro dela.
Esta é a beleza desta reflexão profunda: conforme tudo o que existe é subdivisão da substância incriada, e conforme tudo o que existe é formado por informação, daí concluímos, pela lógica, que somos também formados por esta mesma substância, que estamos neste momento, e em todos os outros, navegando dentro dela [4].
Isto não significa crer num deus pessoal (e Espinosa, de fato, não acreditava), mas significa, quem sabe, reconhecer que debaixo de cada pedra e dentre qualquer galho seco, há uma brisa de Eternidade, há algum pedaço do Infinito.
E, agora que vocês sabem disso, podem se tornar também, nesta Criação, cocriadores!

***

[1] “Para criar uma torta de maça a partir do nada, primeiro seria necessário criar todo o universo” (Carl Sagan, em Cosmos).

[2] Um bit de informação corresponderia a “sim” ou “não”, “falso” ou “verdadeiro”, ou qualquer outro conjunto de dois valores. Atentem, porém, que neste caso o “0” ou “1” já não corresponderia ao “0” (nada) ou “1” (algo) da primeira suposição lógica. Neste caso, o “0” seria já alguma informação, e não nada.

[3] Isto é: Nenhuma informação poderia surgir sem uma causa, e nem mesmo a própria ideia de informação em si, pois que nada poderia ser formado por alguma informação sem que a própria informação em si já fosse existente. Seria o mesmo que dizer que uma árvore foi árvore sem antes ter sido semente, ou que “1” ao mesmo tempo é “1+1”, ou “1a", o que é ilógico. Primeiro veio “1”, primeiro veio à semente, e depois veio todo o resto.

[4] De fato, conforme exponho no decorrer do livro, mesmo nossos pensamentos são formados por subdivisões da substância incriada. Lidamos com informações o tempo todo.

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Crédito da imagem: Ayon/Raph.

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9.2.13

Ad infinitum na Amazon!

É com enorme prazer que lhes informo que meu livro, Ad infinitum, já se encontra disponível para venda na maior livraria do mundo, a Amazon. Para quem já tem um Kindle, é só questão de comprar e, em cerca de 1 minuto após a compra, baixar e começar a ler!

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“Gostei do livro! Como posso ajudar a divulgá-lo?”

1 – Boca a boca: é a alma do negócio!

2 – Você pode entrar na página dele na Amazon.com.br e escrever uma “avaliação de cliente”.

3 – Você pode tirar uma foto com o Kindle ou outro gadget nas mãos (com meu livro aberto na tela), e nos enviar por nossa página no Facebook (clique em mensagens e mande uma mensagem com a imagem em anexo). Contanto que dê permissão para que eu possa publicar sua foto nas galerias de imagens por lá. Acredite, isto já será uma baita ajuda...

4 – Você pode comprar outros livros e dar de presente para quem ama.

5 – Você pode ajudar de alguma outra forma criativa, que não consta nesta lista, contanto que seja de coração...

***

[1] Alguns dos livros clássicos da seção “Sugestões de estudo” do Ad infinitum se encontram na Amazon.com.br para download gratuito! Basta ter um Kindle ou instalar o software/app para lê-los.

[2] Isto também significa que você poderá receber novas versões revisadas e atualizadas do meu livro. Para tal não deixe de se certificar que esta função esteja na opção "ligada", acessando, quando logado no site da Amazon: "Sua conta > Gerencie seu Kindle > Atualização de livro automática Whispersync".

[3] A Amazon também está atuando como uma editora virtual para o meu livro, neste caso. Ela é ao mesmo tempo editora, distribuidora e vendedora, e talvez por isso também dê condições excelentes aos autores.


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8.2.13

Pouse suave...

“Acorde! Recorde que você é um ser, que veio de uma estrela, que está em uma estrela, que irá para outra estrela. Pouse suave. Os mensageiros orientam”

O vídeo é de Inga Birgisdóttir para o Valtari Mystery Film Experiment, da banda islandesa Sigur Rós, responsável por esta música que parece vir de algum lugar celeste... A citação é atribuída a Hermes Trimegisto.


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Empédocles: Amor e Ódio

Empédocles, um filósofo pré-socrático [1], acreditava que o Cosmos era regido por duas forças primordiais: o Amor unia a tudo, e o Ódio afastava. Difícil dizer hoje o porque de ele haver usado especificamente estes termos, mas talvez ele tenha percebido um parentesco entre as forças naturais, externas a alma, e as forças da própria alma.

Ora, hoje sabemos que o que Empédocles chamou de Amor, a ciência chamou de Gravidade. E a cosmologia atesta que o espaço-tempo continua a se expandir. Seria pelo Ódio que os agrupamentos de galáxias se afastam umas das outras? Acredito que Empédocles apenas lamentava pelo tanto de gente que nunca iria conhecer, pois que estavam afastados tanto no tempo quanto no espaço.

Mas há ainda uma espécie de pensamento que pode reconciliar a todos, tanto os unidos na Gravidade, quanto os afastados no Ódio... Não há substância que possa haver criado a si mesma a partir do nada, e portanto tudo o que há, galáxias, planetas, filósofos e amantes, etc, tudo é parte desta mesma substância incriada, que existe exatamente porque o nada inexiste.

Dentro dela, estamos todos navegando. Estamos todos profundamente conectados, uns com os outros, em nossa essência mas primordial. Hoje, mesmo a cosmologia poderia responder a Empédocles: "através dos átomos, todos estamos conectados - o Ódio era ilusão, o Amor venceu ao tempo e ao espaço".

***

[1] "O mundo evoluiu da água por processos naturais. Sobrevive aquele que está mais bem capacitado", concluiu cerca de 2460 anos antes de Darwin e Wallace. Conforme Wallace, porém, era reencarnacionista.

Crédito da imagem: Google Image Search

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7.2.13

Agora também estamos no Wattpad!

Artigos, contos e poesias do Textos para Reflexão agora também estão disponíveis, gratuitamente, no Wattpad.

O Wattpad já é a maior comunidade de amantes de eBooks do mundo, e isto tudo parece ser só o começo!

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6.2.13

Ad infinitum: versão impressa em promoção até 12.02.13

Para quem ainda não comprou, que tal passar um carnaval filosófico? Versão impressa de "Ad infinitum" com desconto até 12/2, aproveitem!

[à venda somente no Clube de Autores]
clubedeautores.com.br/book/139681--Ad_infinitum

[amostra grátis (25 pgs.)]
www.raph.com.br/tpr/livros/Adinfinitum_amostragratis.pdf

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5.2.13

Silas Malafaia, Eli Vieira e o "gene da homossexualidade"

Normalmente não me envolvo muito com "polêmicas de última hora" nas redes sociais, mas esta em específico merece uma reflexão mais aprofundada...

O que me preocupa nesta história da entrevista do pastor Silas Malafaia para a Marília Gabriela, e na (em boa parte brilhante) resposta do geneticista Eli Vieira a polêmica da "influência genética na homossexualidade", é que sabemos hoje que não há "gene da homossexualidade", e que pode ser muito perigoso crer que exista um. Vamos refletir um pouco:

(a) A hipótese da influência genética decisiva em qualquer tipo de comportamento humano, ainda que sexual, não é conclusiva e tampouco decisiva. Talvez um dia encontrem uma associação direta e decisiva entre algum gene ou grupo de genes e um tipo de comportamento, mas este dia ainda não chegou [1]...

(b) Crer que exista um gene assim nos força a considerar a hipótese de que há outros genes do tipo. Por exemplo, vamos citar um trecho do livro "Evolução em quatro dimensões", de Eva Jablonka e Marion J. Lamb (Companhia das Letras):

"O livro A natural history of rape [Uma história natural do estupro], de Thornhill e Palmer, é um exemplo perfeito desse gênero [de suposta determinação genética decisiva].
Eles não afirmam não ser possível sobrepujar a manifestação de um comportamento como a propensão ao estupro, mas sugerem que isso é muito difícil por se tratar de um comportamento embutido num módulo mental que evoluiu. Nem é preciso dizer que não existe nem sombra de evidências para essas alegações evolutivas. São apenas histórias inventadas".

Entenderam o problema? (Obs: as autoras também são geneticistas brilhantes).

(c) Genes não são como deuses, astros ou orixás, que supostamente influenciam nossa personalidade. Não são, mas é exatamente assim que alguns dos "adoradores da ciência" os veem (e ainda criticam os astrólogos).

(d) Os homossexuais não tem de se "desculpar" por sua homossexualidade. Não tem de explicar que "são assim porque nasceram com um gene alterado", etc. Homossexualidade não é doença, mas algo perfeitamente natural. Se não acredita em mim, lhe dou duas palavras-chave para pesquisar online: "bonobos" e "homossexualidade na Grécia antiga" (Obs: alguns dos homens mais sábios da humanidade viveram na Grécia antiga).

***

[1] E, admito: torço mesmo para que nunca chegue. Se chegar, o próximo passo será a "terapia genética para dar fim ao mal da homossexualidade", ou vocês acreditam que não?

Vejam também:

» 3 chimpanzés (também sobre os bonobos)
» Levítico: pedras não faltarão

***

Crédito da imagem: Divulgação (Silas Malafaia e Eli Vieira)

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O Reino

I.
“Que é a vida?”
Um desconhecido me perguntou
Há muitas vidas, quando lhe disse:
“A vida é o que me foi revelado
Por um profeta cheio de segredos
Falando aos brados”

“Tudo é pecado, tudo é pecado!”
Gritava aquele homem santo
Que sabia ver a sombra do Demônio
Debaixo de cada pedra e galho seco...

Com ele aprendi a orar para me salvar
Do grande Fim de Tudo
E do Julgamento do Pai Justo:
Aquele quem diria quem de nós iria ao Céu
E quem iria arder abaixo da Terra

Mas, foi nalguma vida que pensei...
“Ó Pai Justo e Onisciente, se Tu a tudo criou
Mesmo o Inferno é Tua obra
E mesmo do que lá ocorre, Tu bem sabes:
Sabes de cada gemido e ranger de dentes
De cada filho Teu a arder no enxofre
Sabes perfeitamente!”

Foi nesta vida que tornei-me ateu...

II.
“Que é a vida?”
Perguntei a um rabi que andava pela Galileia
E parecia estar cheio de vida
No olhar
E em todos os poros do corpo...

“A vida é uma festa que se dá no Reino”
“Mas onde está o Reino, é alguma ilha além do mar?”
“Se o fosse, os peixes teriam nos precedido...”
“Então, estaria acima das nuvens?”
“Se estivesse, os pássaros seriam já como anjos...”
“Onde está tal Reino? Diga-me, ó rabi!”

“Primeiro é preciso que você aprenda a dançar;
Pois que, do contrário, não será convidado para a festa”

III.
Foi então que me dediquei a essa tal dança
De corpo e alma
E, em cada vida que fosse
Se houvesse aprendido mais um passo
Um movimento sequer...

Não teria vivido em vão

IV.
“Que é a vida?”
Me perguntará outro desconhecido
Nalguma vida que virá;
E eu citarei o rabi:
“Uma dança. Uma dança belíssima”

E mostrarei seus passos
E o desconhecido ficará espantado
E achará que sou um homem santo
Ou profeta...

“Não há santos nem profetas”
“Mas como se pode dançar tão perfeitamente?”
“Nenhuma dança nunca será perfeita”
“Mas quero dançar como tu, ó dançarino!”
“Digo-te o que me disse uma vez um rabi, há muitas vidas:
Tudo que tenho feito, dia virá que farão o mesmo
Mesmo a minha dança, dia virá que a dançarão com ainda mais vida
E ainda mais entusiasmo
Pois que são deuses
E é dançando
Que os deuses alcançam ao Céu”

“Mas, onde está o Céu?”
“Onde sempre esteve: na alma do dançarino...
Hoje danço e apenas danço
E sei que nada precisa ser revelado
Além do que já percebo em meu coração
Ouça, ouça o ritmo!”
“Nada ouço, ó dançarino”
“Como pode?
Como pode não ouvir o ritmo da vida
Na ânsia por si mesma
Tempestuosa e caudalosa
Preenchendo todos os espaços?”

“Onde está a vida? Está aqui, no presente?”
“O presente é como um rio a escaldar
Uma chuva torrencial
De vida ancestral

Não há mais medo
Não há mais dúvida ou certeza
Não há mais profecias
Nem Deus ou o Demônio
Há apenas esta dança na chuva
Há apenas esta vida, gota de inúmeras outras
Que encharcam há tudo que há...

Agora vejo:
Debaixo da cada pedra e galho seco
Além do mar e das nuvens
E ainda dentro da alma que dança:
Tudo foi Céu
Tudo será Céu
Tudo é Céu!”

Bem vindo, tu que não é mais desconhecido
Meu semelhante...
Bem vindo ao Reino

raph'13'A.'.A.'.

***

Crédito da foto: favim.com (Anônimo)

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2.2.13

Citações (11)

Algumas citações minhas e de outros autores. Elas geralmente já terão aparecido anteriormente na página do Textos para Reflexão no Facebook...


Neste mundo há espaço, e há tempo, tanto para que o mais sábio dos mestres evolua, quanto para o mais ignorante dos discípulos. Quando a sabedoria chega, enfim, não há mais discípulos na ignorância. E, de fato, nem mestres... Em cima do Pé de Feijão mágico há um Céu, e em cima do Céu há uma festa onde todos, mestres e discípulos, entrarão de mãos dadas.

Os convites estão chegando...

***

Paganismo: Vem do latim paganus, que significava "camponês", "rústico", "alguém que mora em aldeias". Desde muito cedo, nas primeiras cidades, houveram elites sacerdotais que tentaram ditar qual doutrina religiosa seria dominante, e desde esta época todos aqueles "vindos de fora" eram geralmente considerados inferiores, rústicos, camponeses, seres da periferia - pagãos. Na origem, nenhum pagão chamava a si mesmo de pagão, assim como nenhum gnóstico chamava a si mesmo de gnóstico, mas geralmente de cristão.

***

Igreja: O termo grego ekklesia originalmente se referia a principal assembleia da democracia ateniense, na Grécia antiga. Já a palavra latina, ecclesia, de etimologia muito próxima, originalmente significava “um curral, ou abrigo de ovelhas”. Em sua origem etimológica, portanto, a palavra que hoje chamamos “igreja” não necessariamente tinha cunho religioso algum. Mas é a partir do cristianismo que é feita esta associação de “abrigo de ovelhas” com uma comunidade onde os fiéis são as ovelhas e os eclesiásticos, os pastores. O que os pastores têm prometido, é que mediante a fé (fidelidade a Deus), aquele grupo comunitário alcançará, eventualmente, a salvação. Daí a ideia, para muitos de nós equivocada, de que possa existir “uma comunidade dos escolhidos de Deus”, que se salvam, enquanto todos os demais são condenados a arder num lago de enxofre por toda a eternidade.

***

Não há como não haver uma festa celestial para cada um de nós quando, finalmente, alcança o Céu.

Isto é, dentro de nós mesmos...

Joseph Campbell, grande estudioso de mitologia do século passado, uma vez concluiu que "o Éden não foi nem será, o Éden é".

É assim que vejo este mito universal... Primeiro foi preciso que comecemos o fruto do conhecimento do bem e do mal, que fossemos expulsos do estágio animal e ignorante, para então retornar aquele estágio de pureza, só que desta vez conscientemente... Não por intervenção divina, mas por mérito próprio.

Eu sei que nem todos creem nisso, mas para mim é uma crença libertadora.

A existência pode ser uma festa. O Éden pode ser aqui e agora; e, as vezes, até mesmo eu consigo dançar no ritmo de sua música...

***

É muito difícil que as pessoas entendam que um milagre (conforme a maioria das pessoas compreende um milagre, pelo menos) seria uma injustiça de Deus para com os seres que vivem em igualdade dentro das leis naturais. Interceder por um ou outro em detrimento dos demais é injusto.

Mas isso não significa que a oração seja inútil, imagino. Penso que a oração serve para que o próprio ser que ora solidifique sua fé, e doe de si mesmo para o outro ser pelo qual está orando. Não que nossa própria energia seja maior que a de Deus, mas as vezes as pessoas "se fecham" para a energia que preenche todo o Cosmos, e orando por alguém, quem sabe não a ajudemos a "se abrir".

Acho que a maior oração que podemos fazer por alguém é amar alguém. E, neste caso, nenhuma palavra (decorada ou não) sequer precisa ser dita para que nossa oração de amor funcione...

***

Seria a "escalada do crime" um efeito da "escalada do ateísmo"? Tem gente que gosta de dizer isso a tarde na TV aberta...

Mas, vamos refletir um pouco:
Se os cristãos dizem que os ateus são uma grande minoria, significa que a maioria dos criminosos é cristã. Ora, na verdade, o que faz um criminoso não é sua orientação religiosa ou não religiosa, mas sua moral. Se todo cristão fosse automaticamente um ser de "elevada moral", o paraíso já haveria chegado há tempos.

Eu, que também me considero cristão, não acredito que isto seja a garantia para que eu seja uma pessoa boa. Eu serei uma pessoa boa se for, enfim, uma pessoa boa.

***

Chico dizia que "o telefone só toca de lá para cá". E há muitos espiritualistas que condenam a possibilidade de "ligarmos de cá para lá". Só que Kardec, por exemplo, cansou de fazer ligações assim. Chico decerto teve suas razões para dizer o que disse. Lembrem da quantidade de gente que ia visitá-lo somente pelas mensagens que chegavam, imaginem se ainda se achassem no direito de pedir ao Chico para "ligar para os parentes do lado de lá". Ou seja, há que se analisar o contexto em que Chico se manifestou. Mas, sobretudo, há que se tomar cuidado com a conta das ligações que pretendemos fazer.

(escrito com o auxílio de uma arara)

***

"Não digo: eu descobri essa terra porquê meus olhos caíram sobre ela, portanto a possuo. Ela existe desde sempre, antes de mim." 
(Davi Yanomami ; pajé e líder do povo Yanomami)

"Para nós indígenas, a palavra é de grande valor. É através das histórias contadas pelos mais velhos que mantemos viva a nossa identidade e firme a memória da nossa história, o uso e o cuidado com a nossa terra sagrada. Mas, descobrimos nesses 500 anos de colonização que para os não-índios a palavra não vale nada." 
(Carta do Ororubá; IV Assembléia Geral do povo Xukuru do Ororubá)

"Eu não fico deitado sem pensar." 
(Rupawê; velho sábio do povo Xavante, do Mato Grosso)

***

Fábio de Melo, católico, dá uma lição sobre como "descrer sem desmerecer"...

***

Crédito da imagem: Berndnaut Smilde

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