A chuva
Há pouco você via pela primeira vez a chuva
a cair do mesmo céu de onde veio;
aguando o mundo indistintamente, sem julgar
qual solo cá abaixo é mais ou menos digno.
Olhos de pequenino a fitar a imensidão:
me pergunto em quantas vidas nossas almas
viram a chuva desaguar;
quantas vindas e quantas criaturas foram necessárias,
quantas caçadas e quantos amores,
para que cá estivéssemos,
pai e filho
a fitar as gotas que o ar chora.
No entanto nenhuma chuva é igual
a chuva que passou,
e nenhuma gota, e nenhum alma, e nenhuma era
são as mesmas: apenas se assemelham.
Pois que em todos os tempos
houve pais e filhos
que se entreolham e reconhecem
a primeira vez.
Penso nas constelações de neurônios
que já estão aí dentro,
erigindo nova consciência, uma nova vida,
um novo "eu":
eu, seu filho; eu, seu pai.
A verdade é que entre eu e você
há somente poeira de estrelas
e gotas de uma eterna e peculiar
chuva de almas.
Nós dois aqui, em plena tardinha;
a chuva desaguou, o sol se foi,
nossas irmãs já bailam cintilantes
pela noite sem fim.
Você chora, tem fome...
e, enquanto mamãe não chega
eu lhe embalo em meu colo,
coração a coração:
por um momento, observando seus olhos entreabertos,
sinto estar em meus braços
toda a humanidade.
raph'19
***
Crédito da imagem: Cole Keister/unsplash
Marcadores: pais e filhos, poesia, poesia (161-170)
1 comentários:
I really like and appreciate your post.Thanks Again. Keep writing.
Postar um comentário
Toda reflexão é bem-vinda:
Voltar a Home