Hedonismo
 
Texto de José Arreguy Pimentel que circula pela web há alguns anos, mas ao contrário de boa parte desse tipo de texto, é muito profundo. Os comentários ao final são meus.
Eu li em um dos livros do Ruy Castro que, ainda mais legal do que unir o   útil ao agradável, é unir o agradável ao agradável. A exaltação do   desfrute.
  
  Há tempos venho ruminando sobre isso.
  
  Conheço   muitas pessoas que vão ao cinema, a boates e restaurantes e parecem   eternamente insatisfeitas. Até que li uma matéria com a escritora   Chantal Thomas na revista República e ela elucidou minhas indagações   internas com a seguinte frase: "Na sociedade moderna há muito lazer e   pouco prazer".
  
  Lazer e prazer são palavras que rimam e se   assemelham no significado, mas não se substituem. É muito mais fácil   conquistar o lazer do que o prazer. Lazer é assistir a um show, cuidar   de um jardim, ouvir um disco, namorar, bater papo. Lazer é tudo o que   não é dever. É uma desopilação. Automaticamente, associamos isso com o prazer: se não estamos trabalhando, estamos nos divertindo. Simplista demais.
  
  Em   primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando, é só redefinir o   que é prazer. O prazer não está em dedicar um tempo programado para o   ócio. O prazer é residente. Está dentro de nós, na maneira como a gente se relaciona com o mundo.
  
  Chantal   Thomas aborda a idéia de que o turismo, hoje, tem sido mais uma   imposição cultural do que um prazer. As pessoas aglomeram-se em filas de   museus e fazem reservas com meses de antecedência para ir comer no   lugar da moda, pouco desfrutando disso tudo. Como ela diz, temos   solicitações culturais em demasia. É quase uma obrigação você consumir o   que está em evidência. E se é uma obrigação, ainda que ligeiramente   inconsciente, não é um prazer.
  
  Complemento dizendo que as pessoas   estão fazendo turismo inclusive pelos sentimentos, passando rápido   demais pelas experiências amorosas, entre elas o casamento. Queremos   provar um pouquinho de tudo, queremos ser felizes mediante uma novidade.   O ritmo é determinado pelas tendências de comportamento, que exigem uma   apreensão veloz do universo.
  
  Calma. O prazer é mais baiano.
  
  O   prazer não está em ler uma revista, mas na sensação de estar aprendendo   algo. Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que ele   pode lhe trazer. Não está em faturar uma garota, mas no encontro das   almas.
  
Está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos.   Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na   contramão. O prazer está em sentir. Uma obviedade que merece ser   resgatada antes que a gente comece a unir o útil com o útil, deixando o   agradável pra lá.
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Comentário: O título desse texto é "Hedonismo". O hedonismo é uma doutrina filosófica que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, seus maiores representantes foram Aristipo de Cirene e, principalmente, Epicuro. O problema é que muita gente entende por hedonismo uma simples busca desenfrada por prazer, particularmente de cunho material - como aquisição e consumo de bens e riquezas -, mas isso está um tanto longe do que Epicuro ensinava.
O filósofo grego em  realidade afirmava que “o homem que   alega não estar ainda preparado para a  filosofia ou afirma que a hora   de filosofar ainda não chegou ou já passou  assemelha-se ao que diz que é   jovem ou velho demais para ser feliz.” Longe de  ensinar uma busca   desenfreada por prazeres mundanos, ele defendia que uma vida    equilibrada e na companhia de boas amizades era todo o necessário para a    felicidade – neste caso, pão e água eram suficientes... “De todas as   coisas que  nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a   maior é a aquisição  da amizade... alimentar-se sem a companhia de um   amigo é o mesmo que viver como  um leão ou um lobo.”
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Crédito da foto: Ken Seet/Corbis.
Marcadores: autores selecionados, autores selecionados (81-90), Epicuro, filosofia, José Arreguy Pimentel
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1 comentários:
Interessante é observar o que acontece na Israel antiga quando os saduceus se entregam ao hedonismo. Foi bom rever este texto.
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