O poema do oceano
Poema de Walt Whitman em "Folhas de Relva" (Ed. Martin Claret). Tradução de Luciano Alves Meira. O comentário ao final é meu.
Na cabine dos navios em pleno mar,
o azul sem limites em toda a direção se expande
com o assobio dos ventos e a música das ondas, as ondas grandes e imperiais,
ou alguma nau solitária que baliza a densa marina,
onde jovial, cheia de fé, abrindo suas velas brancas,
ela atravessa ao meio o espaço celeste, no brilho e na espuma do dia, ou sob o céu estrelado da noite,
entre marinheiros jovens e velhos serei eu, uma reminiscência da terra, lido,
em plena harmonia, afinal.
"Aqui estão nossos pensamentos, pensamentos de viajantes,
aqui não é a terra, a terra firme que aparece sozinha", possam eles dizer então.
"O arco do céu alcança aqui, sentimos o convés ondular debaixo dos pés,
sentimos a longa pulsação, o refluir e o afluir de um movimento sem fim,
os tons de um mistério nunca visto, as sugestões vagas e vastas do mundo salgado, as sílabas do líquido gracioso,
o perfume, o débil ranger da cordoalha, o ritmo de melancolia,
o panorama infinito e o horizonte longínquo e opaco estão todos aqui,
e este é o poema do oceano."
Então, ó livro, não hesites! Antes, realiza teu destino.
Não és a reminiscência da terra solitária,
tu também, como uma nau atravessando o éter – propósito mais claro do que o teu desconheço – repleto sempre de fé,
casa-te a todo navio que navega, navega tu!
Dá a eles o meu amor que vai depositado (queridos marinheiros, por vós eu deposito aqui o meu amor em cada folha);
Corre, meu livro! Espalha tuas velas brancas, minha ínfima nau, através das ondas imperiais.
Prossegue cantando, navega adiante, desentranha o azul infinito de mim e lança, em cada mar,
esta canção por todos os marinheiros e suas naus.
***
Por sugestão de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), acabei chegando a este outro grande poeta da alma, que me era desconhecido até pouco tempos atrás. Digo, apenas o nome dele me era desconhecido, pois os seus versos se parecem mais com a lembrança de alguma coisa muito antiga, ou quem sabe, eterna...
***
Crédito da imagem: wallope.com
Marcadores: autores selecionados, autores selecionados (151-160), poesia, Walt Whitman
4 comentários:
Irmão, ótima escolha de texto (mas tem um erro de digitação no título)
Abraço
Obrigado, acabei de corrigir :)
Abs!
raph
Eu conheci o Whitman por causa do filme Sociedade dos Poetas Mortos. http://en.wikipedia.org/wiki/O_Captain!_My_Captain!
Abraço
Sim, muita gente fora dos EUA conheceu ele por conta do filme também :)
Abs!
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