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29.5.14

Projeto William James

Há mais um projeto atualmente em andamento nas Edições Textos para Reflexão. Este muito especial, por se tratar da primeira tradução da mais nova integrante de nossa equipe: Hipátia (pseudônimo de Kamila Janaina Pereira), também colaboradora do blog Queremos Querer.

O livro em questão é The Will to Believe (A Vontade de Crer), de William Janes, e trata de uma discussão quanto às filosofias e crenças presentes no mundo acadêmico e científico. Como Kamila trabalha na área de psicologia, pensamos que seria uma boa ideia ela estrear por aqui traduzindo um dos fundadores da psicologia moderna.

Abaixo, segue um trecho da sua tradução (lembramos que os direitos da tradução pertencem inteiramente a tradutora, estaremos somente a editando e publicando)...

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Vamos dar o nome de hipótese a qualquer coisa que seja proposta a nossa crença; e, assim como os eletricistas tratam de fios vivos e mortos, vamos tratar qualquer hipótese como viva ou morta. Uma hipótese viva é aquela que se mostra como uma possibilidade real àquele a quem ela é proposta. Se eu lhes pedir para acreditar em Mahdi [1], essa ideia não faz qualquer conexão elétrica com sua natureza – ela se recusa a cintilar com qualquer credibilidade. Como uma hipótese, está completamente morta. Para um árabe, todavia (mesmo que ele não seja um dos seguidores de Mahdi), a hipótese está entre as possibilidades da mente: ela está viva. Isto mostra que a morte e a vida em uma hipótese não são propriedades intrínsecas, mas se relacionam ao pensador individual. Elas são medidas pela disposição do indivíduo em agir.

O máximo de vivacidade em uma hipótese significa disposição em agir de forma irrevogável. Na prática, isto significa fé; mas há alguma tendência em crer em qualquer lugar que haja disposição em agir.

Em seguida, vamos nomear qualquer decisão entre duas hipóteses como opção. Opções podem ser de vários tipos. Elas podem ser: 1) vivas ou mortas; 2) forçadas ou evitáveis; 3) momentosas ou triviais; e, para nossos propósitos, podemos chamar uma opção como genuína, quando ela for do tipo forçado, viva e momentosa.

1. Uma opção viva é aquela em que ambas as hipóteses estão vivas. Se eu lhes digo: “Sejam teosofistas ou sejam muçulmanos”, essa é provavelmente uma opção morta, porque para vocês nenhuma das hipóteses tem probabilidade de estar viva. Mas se eu digo: “Sejam agnósticos ou sejam cristãos”, acontece o contrário: dada a sua formação, cada hipótese tem seu apelo, ainda que pequeno, à sua crença.

2. Em seguida, se eu lhes digo: “Escolham entre sair com ou sem guarda-chuva”, eu não lhes ofereço uma opção genuína, pois não é forçada. Vocês podem facilmente evitá-la ao não sair. Da mesma forma, se eu disser “Amem-me ou me odeiem”, “Chamem minha teoria de verdadeira ou a chamem de falsa”, sua opção é evitável. Vocês podem permanecer indiferentes a mim, nem me amando nem me odiando, e vocês podem se recusar a fazer qualquer julgamento a respeito da minha teoria. Porém, se eu digo “Aceitem esta verdade ou a deixem para trás”, eu lhes dei uma opção forçada, pois não existe escolha além das alternativas. Todo dilema baseado em uma disjunção lógica completa, sem a possibilidade de não se escolher, é uma opção do tipo forçado.

3. Finalmente, se eu fosse o Dr. Nansen e lhes propusesse se juntar a minha expedição ao Polo Norte, sua opção seria momentosa; pois esta seria provavelmente sua única oportunidade semelhante e sua escolha presente iria excluí-lo totalmente do grupo imortal do Polo Norte ou dar-lhes-ia alguma chance disso ocorrer. Aquele que se recusa a aceitar uma oportunidade única perde o prêmio tão certamente como se ele tivesse tentado e falhado. Ao contrário, a opção é trivial quando a oportunidade não é única, quando a aposta é insignificante ou quando a decisão é reversível se ela se mostrar imprudente posteriormente. Tais opções triviais abundam na vida científica. Um químico considera uma hipótese viva o suficiente para gastar um ano em sua comprovação: ele acredita nela a esse ponto. Mas se seus experimentos se mostrarem inconclusivos de qualquer maneira, ele está redimido de sua perda de tempo, sem qualquer dano vital.

Facilitará a nossa discussão se mantivermos todas as distinções em mente.

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[1] Nota da tradutora: Mahdi, de acordo com as versões xiitas e sunitas da escatologia islâmica, é o redentor profetizado do Islã, que chegará a Terra alguns anos antes da chegada do juízo final, o Yawm al-Qiyamah (“Dia da Ressurreição”). Os muçulmanos acreditam que o Mahdi, juntamente com Jesus, livrará o mundo do erro, da injustiça e da tirania.


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