Minha impressão sobre o Simpósio de Hermetismo

Texto de Danilo Kiss, um grande entusiasta da Ciência, que a meu pedido gentilmente falou da sua experiência em seu primeiro Simpósio de Hermetismo.
Antes falar sobre minha impressão em relação ao Simpósio, vou tentar ser breve em relação a minha história, até para que as pessoas entendam o motivo desse texto estar aqui. Minha família de uma certa forma é bem religiosa, onde como a maioria dos Brasileiros se voltou ao Cristianismo. Cresci vendo minha avó materna a rezar terço, escutando orações na rádio pontualmente às 18:00hs, via quando pessoas pediam para que as benzessem quando não estavam se sentindo bem. Com um prato fundo cheio de água e pingando gostas de óleo que banhava em seus dedos, ela fazia sua oração e com sinal da cruz – pingando o óleo na água via a situação da pessoa no momento – se as gotas se justassem ou cresciam, era sinal de quebranto ou mal olhado, se as gotas se mantivessem no lugar estava tudo bem. De fato as pessoas ligavam para agradecê-la, reportando estarem melhores. Seu enorme santuário com as mais diversas imagens de santos, anjos , de Cristo e Buda, além de ser devota de Nossa Senhora de Aparecida. Minha mãe também não foge a esse ritual. Acordo às 05:30hs para ir trabalhar, e quando saio ela esta ligada em um canal de orações, com seu terço nas mãos, onde o mesmo processo se repete da parte da noite. Pessoas ligam para serem benzidas por ela também. Meu pai é agnóstico e tenho três irmãos: um umbandista, outro espírita kardecista e o mais novo maçom, e eu cético em relação a tudo isso que descrevi até agora.
Meus questionamentos em relação a divindades e na crença de um deus criador, que olha por tudo, que sabe o que faz, e que não posso questioná-lo, começou quando tinha por volta de nove anos de idade. Lembro-me olhando para uma folha em branco, tentando entender como algo pudesse amassá-la sem alguma interferência externa. Era assim que via toda aquela história de um deus que veio do nada, para criar e ser dono de tudo. Em meio às conversas que tinha com meus pais em relação ao meu ceticismo, resolveram me colocar para fazer a primeira comunhão quando tinha quatorze anos de idade, e na segunda aula o Padre (Fernandes) responsável pelas aulas de catecismo, disse a minha a mãe de forma serena que meu lugar não era ali, e que logo entenderiam – talvez fosse pelos meus questionamentos. Ao completar dezoito anos fizeram com que começasse crisma, e confesso que só fiz por causa da minha avó. Nessa época já estudava a história das religiões, bem como Astronomia. Como não encontrava algo que me fizesse acreditar de fato em tudo que via dentro da religião e em relação a um criador onipotente, onisciente e onipresente, resolvi estudar o macro, o começo de tudo.
Em meus estudos em relação às religiões, frequentei todos os principais cultos para entender o que se passava em cada uma delas, onde cheguei a uma conclusão. A espiritualidade como fonte de saber e de harmonia interna é ótima ferramenta para aqueles que precisam, mas o ser humano que tem por trás dos passes e das incorporações não! Já vi de tudo: desde “reze cem ave marias e cem pais nossos” pelo dízimo que não consegui dar, até que “deus não quer suas moedas, pois ele precisa de notas para terminar suas obras na eternidade”, até aqueles que davam passe em você no centro espírita e lá fora batiam na mulher e ignoravam os filhos. Que tipo de vibração um mamífero desses vai reportar a uma pessoa?
Enfim, foi nesse estudo sobre as religiões, que em meados de 2015 encontrei uma página no youtube chamada Conhecimentos da Humanidade, com um vídeo sobre a introdução as Religiões. Dali pra frente me tornei um espectador e fã da página, pois tratavam do assunto religioso de forma imparcial, e principalmente com cunho histórico, que era exatamente o que gosto de estudar. Assistindo alguns vídeos tomei conhecimento de um Simpósio que seria realizado no início de Novembro (2017) – o Simpósio de Hermetismo e Ciências Ocultas. Confesso que dez anos atrás acharia um absurdo o fato de pensar em participar de algo relacionado a Ciências Ocultas, afinal pra mim não existe nada mais transparente que a Ciência natural. Me permiti ir a esse Simpósio e ver o que os participantes tinham a dizer, além de conhecer as pessoas que fazem parte de um grupo fechado de discussão referente ao canal Conhecimentos da Humanidade [grupo de apoiadores do canal no Padrim]. São pessoas extraordinárias, cada uma na sua percepção de fé e espiritualidade, onde não entendo de onde tiram tanta paciência para escutar as chatices de um cético :)
Nos dois dias de Simpósio percebi que cada Ordem e Religião tendem a puxar o que mais se adequa a crença de cada um em um determinado grupo. A verdade, a magia, os deuses, as energias etc. Todos possuem uma comunhão dentro das determinadas crenças. Penso que poderia existir apenas uma para englobar tudo, seria mais coerente não? Mas talvez o ser humano precise dessas diversas possibilidades, pois nós somos assim. Queremos pertencer a um grupo específico, e a maneira mais fácil de se organizarem é a separação pelos ideais. Percebi também que mesmo com tantos pontos diferentes, o intuito é lavar ao mesmo lugar. Observei que sempre que abordavam o assunto Religião vs. Ciência cometiam algum deslize, e percebi também que a preocupação em querer linkar as duas coisas é muito grande, mas acredito que seja mais uma forma de se falar aleatoriamente sobre o assunto. Hoje me parece que o créme de la créme da Religião em conjunto com a Ciência é a Física Quântica. O fato é que nem a Ciência sabe exatamente como empregá-la dentro do próprio meio científico, que é onde se abre brechas para oportunistas. Vejo que a parte mística ou ocultista começa onde a ciência deixa de explicar – e é aí que para mim começa o grande problema. A Ciência em cem anos veio para desmistificar milênios de mitos e/ou interpretações de livros sagrados e profetas. Tenho que dizer que não presenciei muitos paralelos em relação a Ciência e Religião, a não ser quando uma espectadora disse que a Bíblia era “quântica”, mas até aí absorvi bem essa questão :) Bom, não estava em um Simpósio de Ciências, então de uma certa forma relevei o que foi dito, sem problema algum.
Quanto a minha impressão final em relação ao Simpósio, posso dizer que foi muito boa, na verdade muito melhor do que esperava! Me arrisco a dizer que esse encontro sirva mais para pessoas como eu. Para os demais acredito que seja mais um complementando de sua busca. Escutar o que o outro lado tem a dizer é muito importante, é respeitar a fé e suas crenças, afinal é isso o que nos faz ser uma pessoa melhor dia após dia. Ouvi magos, bruxas e benzedeiros falarem sobre a forma com que enxergam a vida, e posso dizer que foi muito rico. Por mais que isso não faça parte do meu dia a dia, é bonito saber que há pessoas que através de sua magia se preocupam em ajudar o próximo. Senti muita cumplicidade, harmonia, respeito e principalmente o amor de todos!
Amor – um nome curto, com um significado enorme e tão difícil de ser empregado verdadeiramente em nosso dia a dia, mas quando é feito tudo de forma sincera percebemos a diferença que faz. O amor quando empregado de forma verdadeira, e aí não importa a Religião, a Ordem , ou apenas a percepção intrínseca: ele mudará sua casa, seu bairro, sua cidade, seu país... ele mudará o mundo! E foi exatamente isso que aprendi no Simpósio – não importa os meios, mas sim o final de tudo! E talvez o deus, as divindades, os santos, os guias, os anjos sejam apenas a forma de amor materializada da qual eles tanto falam. Talvez tudo isso seja apenas o amor! Pretendo voltar nas próximas edições e entender esse enorme mundo. E que dessa forma amemos mais, todos os dias!
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Crédito da imagem: Martin Satler/unsplash
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1 comentários:
Acho que esse final foi exatamente onde cheguei ano passado, quando fiz o vídeo sobre isso...
Valeu Raph, Valeu Danilo!!
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