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8.8.24

O Buda que Ri

Quando muitos ocidentais pensam em “Buda”, geralmente não visualizam o Buda histórico, seja meditando ou ensinando. Este “Buda verdadeiro” é conhecido mais precisamente como Buda Gautama ou Buda Sakyamuni, e é quase sempre retratado em profunda meditação ou contemplação. Geralmente a imagem ilustra um indivíduo muito magro com uma expressão séria no rosto, embora plena de paz.

A maioria dos ocidentais, no entanto, traz à mente um personagem gordo, careca e alegre chamado “O Buda que Ri” quando pensa no Buda. De onde veio essa figura?

O Buda que Ri surgiu dos contos populares chineses do século X. As histórias originais do Buda que Ri retratavam um monge zen budista chamado Chi-tzu, ou Qieci, de Fenghua, no que hoje é a província de Zhejiang. Chi-tzu era um personagem excêntrico, mas muito amado, que fazia pequenas maravilhas, como prever o tempo. A história chinesa atribuiu a data aproximada entre 907 e 923 d.C. para o nascimento de Chi-tzu, o que significa que ele viveu consideravelmente mais tarde do que o histórico Sakyamuni, o verdadeiro Buda.

De acordo com a tradição, pouco antes da morte, Chi-tzu revelou ser uma encarnação do Buda Maitreya. Maitreya é nomeado nas escrituras como o Buda de uma era futura. As últimas palavras de Chi-tzu foram:

Maitreya, verdadeiro Maitreya,
renascido inúmeras vezes,
de tempos em tempos manifestado entre os homens:
[mas] os homens de sua época não o reconhecem.

Os contos de Chi-tzu se espalharam por toda a China, e ele passou a ser chamado de Budai, que significa “saco de cânhamo”. Ainda segundo a tradição, ele carregava um saco cheio de coisas boas, como doces para crianças, e muitas vezes é retratado com muitas delas ao seu redor. Budai representa felicidade, generosidade e riqueza, e também é considerado um protetor das crianças, dos pobres e dos fracos.

Hoje, uma estátua de Budai pode ser encontrada perto da entrada na maioria dos templos budistas chineses. A tradição de esfregar a barriga de Budai para se obter sorte é uma prática popular; todavia, não é um ensinamento budista genuíno.

Seja como for, é um claro sinal da ampla tolerância do budismo à diversidade que este Buda risonho do folclore seja aceito na prática oficial. Para os budistas, qualquer qualidade que represente a natureza búdica deve ser encorajada, e o personagem folclórico do Buda que Ri não é visto como algum tipo de sacrilégio, mesmo que as pessoas inconscientemente possam confundi-lo com o Buda Gautama.

Budai também está associado ao último painel dos Retratos dos Dez Pastores de Bois. Estas são dez imagens que representam estágios de iluminação no zen budismo. O último painel mostra um mestre iluminado que entra em cidades e mercados para dar às pessoas comuns as bênçãos da iluminação.

A figura de Budai seguiu a disseminação do budismo em outras partes da Ásia. No Japão, ele se tornou um dos Sete Deuses da Sorte do Xintoísmo, e é chamado de Hotei. Ele também foi incorporado ao taoísmo chinês como uma divindade da abundância.

***

Este texto será um dos textos adiconais da minha tradução do “Atthaka Vagga, O Livro Budista das Oitavas”, a ser lançado em breve tanto em ebook como na versão impressa.

Crédito das imagens: [topo] Wikipedia (Budai na entrada de um templo budista chinês); [ao longo] Google Image Search (Buda Gautama).

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