Palavras de Oxalá dos Ventos
Os ventos sopram, e sopram, e não param de sôpra
Os ventos sopram em tudo quanto é lugá
E vocês, gente de outras terra, além do má
Acham que são dono du mundu, que são mais antigu que nós
Que foram à primeira tribo, só que não foram
E sabem que não foram, não é mesmo?
Quando vocês vieram com seus navio nêgro
E seus pensamentos nêgro, e suas correntes nêgra
Escravizá nossa gente, separar nossas famílias, nossas tribos
Vocês diziam ser uma outra raça, de tribo superiô
E diziam que meu povo negro não tinha alma
E que eu, Oxalá dos Ventos, não tinha força
Mas eu vi, e quem era bom viu comigo
Que meu povo tinha alma grande em pele negra
E vocês tinham a pele branca, e a alma tão nêgra
Nêgra que nem seus pensamentos, meus fiô...
Que vocês também são meus fiô, fiô dos fiô que saíram daqui
Há muito, muito tempo, pelos desertos do norte
E eu não pude seguir vocês, meus fiô
Porque meus ventu não corta deserto
Nem meu amô aguenta tanta secura!
Mas aqui em nossa casa, aqui nesse canto da África
Cada irmão de vocês aprendeu há muito tempo
A respeitar, a guardar a natureza nu coração
Tem irmão de vocês que guardava uma montanha
Uma floresta, um lago, um rio...
Tudo, tudo nu coração
Tudo, tudo odara nu coração dus irmão
Mas nos seus navios nêgro, de corretes nêgra
Meu povo sofreu muito, e não conseguiu guardá quase nada
Não tinha mais montanha, nem floresta, nem lago, nem rio...
Quem salvô nossa cultura foi eu e o má
Eu ventava para que os navio chegasse logo, e houvesse menos dô
E o má chorava, e do choro do má meu povo se alimentava d’noitê
(e ventou, e ventou, e ventou...)
Os ventos sopram, e sopram, e não param de sôpra
Os ventos sopram em tudo quanto é lugá
E meu povo foi parar do outro lado do má
E teve de lutar, lutar por muito tempo
Para provar que tinha alma
E que tinha a pele negra, a pele odara...
Porque protegia a alma grande
De todo nêgro do pensamento da gente de alma pequena
E a maior dô, meus fiô
Não era a dô do chicote nem da morte
Mas da saudade, saudade de todas essas tribos
Que ficaram do outro lado do má
Mas saibam, saibam meus fiô
Que eu sou forte, que eu venci
Pois que vento que sopra aqui,
Também sopra acolá
E a essência da alma do nosso povo
É assim como eu
É como o ventu...
Epa Epa Babá, Oxalá de todos os ventos, ventos da terra, ventos do mar!
Um conto inspirado em Oxalá. Através de raph em 2011.
***
» Parte da série "Voz dos Orixás"
Crédito da imagem: Carolina Harte
Marcadores: contos, contos (21-30), espiritualidade, natureza, umbanda sagrada, Voz dos Orixás
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