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14.5.11

Algo existe

Ó príncipe, tu me pede para resolver
Essa tua angústia do ser
Mas eu tudo que sei, é que nada sei
Que poderia então lhe dizer
Senão que aquilo que sei
É tão somente que há algo a existir
Que sabe, antes mesmo de eu saber
Que é, antes mesmo de eu ser
Que já o era, na noite ancestral
Antes do primeiro sol luzir
E da primeira vida sentir

Logo tu, que tem buscado tanto
Que até o nascer do dia viajou
Conquistando, com teu exército, tudo por onde passou
Já deveria ter encontrado algum encanto
Uma oração, ou poesia que seja
Que te permitisse a própria alma enxergar
Para saber que tais respostas
Não estão sequer além do mar

Ó príncipe, tu que acreditou que poderia
Converter todo mundo a tua imagem
Logo tu, jamais suspeitou do que não sabia
Que tua armada tem somente circundado a margem
Do infinito reino submerso
No oceano de um verso:
“Algo existe no arcabouço da tua vontade”

Aí está toda riqueza
Aguardando tua conquista
Ainda antes do teu coração
Fundo, no alçapão da mente
Esteve tal centelha a existir
Em delicada beleza
Bem debaixo da tua vista

Logo tu que marchou
Até a fronteira deste mundo
Jamais percebeu, jamais sentiu
Toda essa misteriosa vontade
Que arde no tempo sem idade
E, tal qual chuva caudalosa
Nos irradia profunda calmaria
Até que toda angústia cesse
E todos os pontos estejam igualados
E todos os pensamentos de amor
Percam-se ao céu, como seres alados

Ó príncipe, abra os olhos e veja
Que afinal existe algo
E toda nossa angústia perante o nada
Será nalgum dia tão relevante
Quanto o choro de uma criança
Ao finalmente perceber
Essa tal fronteira do ser


raph'2011

***

Crédito da imagem: Angelo Hornak/Corbis (tumba do filho de Napoleão, esculpida por Joseph Edgar Boehm - o personagem não tem relação com o poema, a imagem, sim)

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