Uma entrevista com Papa Francisco
Em uma entrevista histórica, a primeira (exclusiva) desde que se tornou Papa, Francisco responde sem hesitação (e com toda a doçura que lhe é peculiar) a todas as perguntas do jornalista Gerson Camarotti da GloboNews, provavelmente um dos homens que mais compreende a política vaticanista; mesmo estando fora do Vaticano. A entrevista foi concedida na semana passada, enquanto o Papa participava da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro.
No Estúdio I de hoje à tarde, Camarotti confessou que o Vaticano não havia aprovado a entrevista exclusiva, e que "tudo dependeu da intuição do Papa em aceitar falar". Além disso, ocorreu algo muito raro para o caso de uma entrevista a um chefe de Estado: nenhuma pergunta foi vetada a priori. Ou seja, Camarotti podia perguntar sobre o que quisesse perguntar - e não faltaram perguntas difíceis, como as que remetiam aos problemas de corrupção no chamado Banco do Vaticano (IOR) e as recentes manifestações nas ruas do Brasil. Sobre o que sabia responder, Francisco respondeu pausadamente e com enorme clareza, nos trazendo uma sabedoria que vai muito além da mera intelectualidade. Sobre o que não sabia responder, teve a humildade de admitir:
Alguns trechos selecionados da entrevista acima:
Trecho sobre o inconformismo da juventude
Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre negativa. A utopia é respirar e olhar adiante.
O jovem é mais espontâneo. Não tem tanta experiência de vida, é verdade, mas as vezes essa experiência nos freia. O jovem tem mais energia para defender suas ideias. O jovem é essencialmente um inconformista, e isso é muito lindo! Isso é algo comum a todos os jovens.
Então eu diria que, de uma forma geral, é preciso ouvir os jovens, dar-lhes meios de se expressar e cuidar para que não sejam manipulados.
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Trecho sobre a idolatria do dinheiro
O mundo atual em que vivemos caiu na feroz idolatria do dinheiro. Há uma política mundial impregnada pelo protagonismo do dinheiro. Quem manda hoje é o dinheiro.
Isso significa uma política mundial economicista, autossuficiente, sem qualquer controle ético, que vai arrumando os grupos sociais de acordo com essa conveniência.
O que acontece então? Quando reina no mundo a feroz idolatria do dinheiro, se concentra muito no centro, e as pontas da sociedade, os extremos, são mal atendidos, mal cuidados, descartados.
Até agora, vimos claramente como se descartam os idosos. Há toda uma filosofia para descartar os idosos: "Não servem. Não produzem". Os jovens tampouco produzem muito, pois é uma carga que precisa ainda ser formada. O que estamos vendo agora é que a outra ponta, a dos jovens, está em vias de ser descartada.
O alto percentual de desemprego entre os jovens da Europa é alarmante. Em certos países já há mais da metade dos jovens desempregados. Nós vemos um fenômeno de jovens descartados.
Então para sustentar este modelo político mundial, estamos descartando os extremos... Curiosamente, estes que são a promessa para o futuro. Porque o futuro quem vai dar são os jovens, que seguirão adiante, e os idosos, que precisam transferir sabedoria aos jovens. Descartando ambos, o mundo desaba.
Falta uma ética humanista em todo o mundo.
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Trecho sobre a Torre de Babel
Se me der um minuto, direi algo a mais sobre esse tema (Camarotti: "lógico que dou").
No século XII havia um rabino muito sábio que escrevia explicando à sua comunidade, com fábulas, os problemas morais que havia em algumas passagens da Bíblia.
Uma vez, falou sobre a Torre de Babel. Ele explicava assim:
Qual era o problema com a Torre, porque houve o castigo divino?
Ora, durante a construção da Torre, era necessário fabricar tijolos do barro, meter-lhes palha, levá-los ao forno e, já cozidos, transportá-los para o alto da edificação. Cada tijolo era um tesouro, devido a todo o trabalho envolvido em sua fabricação. Quando caía um tijolo do alto da Torre, era uma catástrofe, e o operário que o deixou cair era castigado.
Mas se caísse um operário, nada acontecia...
Hoje, há crianças que não têm o que comer no mundo; há crianças que morrem de fome e desnutrição; há doentes que não têm acesso a tratamento; há mendigos que morrem de frio no inverno; há crianças que não têm educação nem perspectivas de futuro. Nada disso é notícia.
Mas quando as bolsas de algumas capitais caem 3 ou 4 pontos percentuais, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Compreende?
Esse é o drama desse "humanismo" desumano que estamos vivendo. Por isso é preciso recuperar os extremos da sociedade, os idosos e os jovens, e não cair numa globalização da indiferença em relação a esses dois extremos que são o futuro do mundo.
Marcadores: catolicismo, economia, entrevista, Gerson Camarotti, GloboNews, Papa Francisco, videos
1 comentários:
Atenção Agentes da Matrix! Falha derectada!
Em pleno Domingão, no Fantástico (TV aberta)!
Um papa mostrando as cartas na mesa assim, sem rodeios, algo muito estranho está acontecendo...
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