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18.3.17

Ante tamanha beleza

E antes de tudo o mais
olhou ao redor,
e não tendo visto
nada além de si,
proclamou: "Eu sou";
e este foi o primeiro nome.

No princípio não era o verbo,
era o inefável, o inominável,
o infinito que o antecede,
a eternidade,
o que é, foi e será:
"Eu sou"

Depois, vieram muitos outros nomes,
e deuses e titãs
e anjos e demônios
e homens e animais...
mas, até este dia, e todos os dias,
não há noite em que não se lembrem
daquele que antes de tudo os imaginou
(isto ocorre pouco antes de fecharem os olhos);
e então tudo é sonho,
tudo bruma e escuridão.

Até que surge a manhã seguinte,
e quando eles despertam
e olham ao redor,
ante tamanha beleza,
todos brevemente se esquecem
da angústia da separação;
e então tudo ainda é sonho,
tudo luz difusa sob um véu
de ilusão.

Sim, é justamente assim que tem sido,
e será para sempre!

Eu gostaria de poder explicar melhor,
mas tudo isso por aqui, todas as palavras,
ainda que impressas em sangue,
são tão somente as cascas que restaram
dos frutos que só podem ser colhidos
das árvores proibidas...
para saber mais é preciso queimar,
é preciso arder sob o véu,
é preciso morrer para si,
e renascer
na imensidão.


raph'17

***

» Parte da série "Mito da criação"

Crédito da imagem: Katerina Plotnikova

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2 comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Nos raros momentos em que me encontro ante tamanha beleza - na realidade, nos momentos em que a percebo, pois sei que por ela estou envolvido, mas incapaz de contemplá-la - tudo o que faço é permanecer em silêncio, incapaz de explanar - mesmo apenas para - o meu sentir.

18/3/17 15:24  
Blogger raph disse...

E faz muito bem :)

18/3/17 21:47  

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