O templo dentro de mim
O texto abaixo foi retirado de uma de minhas respostas dentro de um debate entre pensadores e espiritualistas.
Esta questão do universalismo espiritual é interessante.
Muitos grandes estudiosos de mitologia do século passado, e mais especificamente Joseph Campbell, acabaram por estudar inúmeros mitos nas mais diversas regiões e culturas do globo, assim chegando aqueles "pontos em comum" entre as mitologias (como os mitos de Origem ou do Dilúvio), o que o Campbell depois chamou de Monomito. No entanto, estudar mitologia é uma coisa, se iniciar nas ordens e religiões é outra muito diferente, até mesmo porque a maior parte delas requer uma dedicação exclusiva, do contrário você acaba ficando só na superfície.
Eu mesmo me considero um turista de egrégoras e doutrinas religiosas. Já fui médium em casa espírita, já dancei com ciganos incorporados e gurus indianos, já cantei mantras com uma mestra em ascensão, já "meio que me iniciei" no sufismo, já fui em alguns simpósios de hermetismo, já fiz a Contagem do Ômer (meditação da cabala judaica) etc. A maior parte disso transparece num canto ou noutro do meu blog, mas nem contar tudo eu contei.
Apesar de fazer amigos em muitas estradas, eu sei bem que não posso seguir profundamente em nenhuma delas, pois teria necessariamente de abandonar parte dos meus passeios pelas demais. Assim, eu visito algumas estalagens em diversas estradas que rumam para os grandes templos, mas não chego em templo algum.
É por isso que tive de criar o meu próprio templo. Não a toa o símbolo do meu blog é um torii japonês. Os toriis, no xintoísmo, são portais que demarcam a entrada ou a proximidade de um local sagrado. Ora, ocorre que eles estão espalhados pelo Japão todo, pois no xintoísmo se acredita que tudo o que é vivo é animado e habitado por espíritos, e para eles toda a Natureza é viva. Assim, o meu templo também é tudo o que está a minha volta, acima e abaixo, a esquerda e a direita, a frente e atrás. Esta foi a maneira com que consegui chegar a um templo: o carregando dentro de mim.
Por isso que digo, "minha religião é meu pensamento", pois se religião é religação a Deus ou ao Cosmos, e se pensamento é a forma com que a mente se aventura pelos caminhos e estalagens e templos, então é com esta carruagem, este veículo, que eu poderei um dia chegar lá.
E, se o fato de parar em tantas estalagens pelo caminho por ventura me atrasar um bocado, eu sinceramente não ligo. Pois ainda que eu chegasse lá antes dos demais, em todo caso eu teria de voltar para convidar os que ainda se arrastam pela estrada.
Em todo caso, no Céu continuaremos trabalhando.
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Crédito da imagem: Joel "Boy Wonder" Robinson
Marcadores: A ciência do invisível, artigos, artigos (251-260), espiritualidade, mitologia, religião, Universalistas, xintoísmo
4 comentários:
Obrigado por sintetizar isso. É como tenho caminhado, também! Abraços e uma boa Jornada!
Nós, os carregadores de templos :)
Abs!
raph
Excelente texto, me identifiquei bastante.
Obrigado Fer :)
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