Poemas de Rumi
Jalal ud-Din Rumi foi um místico sufi do século XIII que, após ter cruzado seu caminho com um andarilho chamado Shams de Tabriz, passou a compor poemas de imensa profundidade espiritual, que o fizeram conhecido em todo o mundo – inclusive no Ocidente. Essa história já foi relatada aqui no blog, em um post intitulado O encontro de dois oceanos.
Aqui trago apenas alguns dos seus poemas traduzidos de versões inglesas. Eles farão parte do meu próximo livro sobre Rumi, intitulado Rumi – Além das ideias de certo e errado (veja a capa ao final):
[Eu e você]
Na verdade nós somos uma só alma,
eu e você.
Nos mostramos e escondemos,
você em mim,
eu em você.
Eis o sentido profundo da nossa relação:
é que entre você e eu
não existe nem eu
nem você.
[Um momento de felicidade]
Este é um momento de felicidade,
eu e você sentados na varanda:
duas formas, dois rostos,
uma só alma,
você e eu.
A beleza das flores
e o canto dos pássaros
nos ofertam a água da vida
quando entramos neste jardim,
eu e você.
As estrelas do céu vêm nos ver,
e mostramos a elas a lua,
você e eu.
Eu e você,
unidos em êxtase e alegria,
libertos do juízo e da razão,
você e eu.
Os beija-flores do Paraíso bicam açúcar
enquanto nós rimos,
eu e você.
Ainda mais mágico,
estamos aqui ao mesmo tempo
no Iraque, na Pérsia,
você e eu:
numa forma aqui na Terra,
e noutra forma, no Paraíso.
E na Terra do Açúcar,
uma só alma,
eu e você.
[Morri como mineral]
Morri como mineral,
e tornei-me planta.
Morri como planta,
e surgi como animal.
Morri como animal,
e sou humano...
Ó caminhantes,
por que tanto medo?
O que perdemos ao morrer?
Eu sei que morrerei de novo,
como humano, até que possa enfim
voar com os anjos, abençoado.
E mesmo como anjo, terei de morrer.
Todos perecem, exceto Allah...
Quando eu tiver sacrificado
minha alma de anjo,
me tornarei o que a mente
sequer pode conceber!
Ah! Que seja!
Que eu não exista!
Pois a não-existência proclama,
como um órgão,
que retornaremos ao Amado.
[O néctar]
Qualquer alma que tenha bebido o néctar do seu amor
foi elevada aos céus.
Eu bebi o líquido da vida e entrei em êxtase.
Veio a morte, me farejou de pertinho,
mas foi o seu perfume que ela sentiu.
Desse dia em diante, a morte perdeu suas esperanças em mim.
[O segredo]
O amor não tem nada o que ver
com os cinco sentidos ou as seis direções;
o seu único objetivo é experimentar
a atração exercida pelo Amado.
Depois, quem sabe, Allah permitirá
que os segredos sejam revelados.
Então, os segredos serão contados com a mesma eloquência
das metáforas mais confusas.
É que o segredo não partilha sua intimidade
com ninguém mais, ninguém
além do conhecedor do segredo.
Aos ouvidos de um descrente
o segredo não é segredo algum.
Veja mais poemas em nosso próximo livro sobre Rumi, que deve ser lançado EM BREVE (em e-book e versão impressa):
***
Crédito das imagens: [topo] Google Image Search (Rumi); [ao longo] Hossein Irandoust; Rafael Arrais e svklimkin/unsplash license (capa do livro).
Marcadores: espiritualidade, islamismo, poesia, Rumi, sufismo
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