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24.8.21

Amor sob vontade

Há uma praga lá fora, pelas ruas.
Um inimigo que mata sem ser visto;
e, como tudo o que é invisível,
está aberto à interpretações:
nesse momento, teólogos e cientistas debatem
se tal mal foi obra de Deus, do acaso ou do homem.
Entra um pensador na sala e pergunta:
“Mas Deus, o acaso e o homem não são a mesma coisa?”

Fato é que estamos em quarentena,
isolados uns dos outros. De modo que se antes
nós perambulávamos sem rumo pelas vielas e estradas,
agora estamos sem rumo dentro de quatro paredes:
há uma grande diferença!

Assim, tanto tempo dentro de casa, dentro de nós,
quem sabe a roda da carroça enfim deixe de perseguir o boi,
e passe a rodar pelos velhos sulcos
deixados no Caminho.
Quem sabe nesses dias e noites tenhamos a preciosa chance
de desvelar o homem e a mulher e tudo o mais.
Nada disso precisa rimar,
a única rima necessária
é a da alma com a consciência dela mesma.

Então vemos uma foto nossa na parede,
e notamos que já não há nada em comum entre a antiga imagem
e o que somos hoje: nada, exceto pelo fato
de serem a mesma pessoa.
E, se morremos tantas vezes em vida,
por que imaginar a morte como um fim?
Por que temer que o sol se ponha para nunca mais nascer?
Faz algum sentido,
se toda aquela antiga vida, em todo caso,
não passava de um poema de rimas forçadas?

Há uma praga lá fora, pelas ruas,
mas o único inimigo sempre esteve aqui,
e ele é um muro que construímos à duras penas:
um muro entre o que pode ser nomeado
e o que simplesmente é.
Desde então, cada movimento da vida é dedicado
a derrubar paredes, romper casulos:
um tijolo, um pensamento de cada vez.
Até que não reste em nós nada além de amor,
amor sob vontade.


raph'21

***

Crédito da imagem: Sasha Freemind/Unsplash

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1 comentários:

Blogger Maxwel Marinho disse...

o/

11/9/21 18:01  

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