Tempo cíclico
Através de  você meu tempo bagunçou:
já não se  trata de uma sucessão de olimpíadas e copas do mundo,
mas algo que  circunda a eternidade
e dança e  sorri
e vai e volta
e é aqui e  agora,
e lá, e  acolá.
Quando você  veio e o segurei nos braços
  como uma  pequenina parte de minh’alma,
  eu logo o  entreguei à enfermeira;
  e, quando  estive novamente só,
  me ajoelhei  no chão e agradeci;
  não sei a  quem ou ao quê:
  uma oração  que se faz sem dizer nada,
  algo que  simplesmente irrompe.
  Se pudesse colocar  em palavras,
  diria assim:
  “Muito  obrigado, ó você que veio
  da Mansão do  Amanhã!”
Através de  você eu me vi na passagem do meio,
  não como se  pudesse haver antes, ou depois,
  mas antes  como alguém que já não é um homem:
  é pai e é  filho
  ao mesmo  tempo,
  tal um  espírito santo
  que existe  para sempre.
Quando você  cresceu e fui lhe deixar
  em seu  primeiro dia na escola,
  já não sabia  se era você que conhecia sua nova turma
  ou eu que  estava lá de volta,
  na doce  timidez dos primeiros encontros,
  na revoada da  alma
  que desvela o  mundo
  (outra vez).
Através de  você eu cumpri o destino
  dos  descendentes do Kalahari.
  Quantos dias  de caça,
  quantos  reinos e quantas noitinhas sob as estrelas
  de lá até  aqui?
Ó meu filho,  você também é filho
  das histórias  dos primeiros xamãs
  e do fogo sagrado
  das primeiras  fogueiras.
Isso não acaba nunca!
raph'22
***
Crédito da imagem: CHUTTERSNAP/Unsplash
Marcadores: espiritualidade, paternidade, poesia, poesia (161-170)
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2 comentários:
Raph, achei encantador esse texto. Tocou minha alma. Abraços!
Obrigado; e que bom, esse era o objetivo :) Abs!
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