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3.2.22

Tempo cíclico

Através de você meu tempo bagunçou:
já não se trata de uma sucessão de olimpíadas e copas do mundo,
mas algo que circunda a eternidade
e dança e sorri
e vai e volta
e é aqui e agora,
e lá, e acolá.

Quando você veio e o segurei nos braços
como uma pequenina parte de minh’alma,
eu logo o entreguei à enfermeira;
e, quando estive novamente só,
me ajoelhei no chão e agradeci;
não sei a quem ou ao quê:
uma oração que se faz sem dizer nada,
algo que simplesmente irrompe.
Se pudesse colocar em palavras,
diria assim:
“Muito obrigado, ó você que veio
da Mansão do Amanhã!”

Através de você eu me vi na passagem do meio,
não como se pudesse haver antes, ou depois,
mas antes como alguém que já não é um homem:
é pai e é filho
ao mesmo tempo,
tal um espírito santo
que existe para sempre.

Quando você cresceu e fui lhe deixar
em seu primeiro dia na escola,
já não sabia se era você que conhecia sua nova turma
ou eu que estava lá de volta,
na doce timidez dos primeiros encontros,
na revoada da alma
que desvela o mundo
(outra vez).

Através de você eu cumpri o destino
dos descendentes do Kalahari.
Quantos dias de caça,
quantos reinos e quantas noitinhas sob as estrelas
de lá até aqui?

Ó meu filho, você também é filho
das histórias dos primeiros xamãs
e do fogo sagrado
das primeiras fogueiras.

Isso não acaba nunca!


raph'22

***

Crédito da imagem: CHUTTERSNAP/Unsplash

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2 comentários:

Blogger Docke Lima disse...

Raph, achei encantador esse texto. Tocou minha alma. Abraços!

8/2/22 17:38  
Blogger raph disse...

Obrigado; e que bom, esse era o objetivo :) Abs!

8/2/22 21:33  

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