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24.1.23

Terra, fogo, água e ar (parte 1)

Um convite para a caminhada

Tales de Mileto, possivelmente o primeiro grande filósofo do Ocidente, considerava a água a substância primordial, de onde se originaram todas as coisas. Já um de seus discípulos, Anaxímenes, afirmou que era o ar o princípio de todas as coisas. Parmênides de Eleia, nascido quando Tales já era idoso, defendia que a tal substância é imutável, e que suas transformações visíveis, tudo o que vemos no mundo a nossa volta, era mera ilusão. Heráclito de Éfeso, que viveu na mesma época, discordava totalmente, e dizia que “não podemos atravessar duas vezes o mesmo rio”, pois que tudo na natureza está em constante mudança.

Para um materialista atual, é muito difícil compreender o que todos esses pensadores da nossa antiguidade estavam realmente discutindo. Para a ciência moderna, os elementos são formados pelos diferentes tipos de átomos que formam as moléculas. A água, por exemplo, é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Nos primeiros minutos após o big bang, o evento cósmico que originou o universo conhecido, havia de fato uma abundância de hidrogênio (e hélio), mas o oxigênio só surgiu centenas de milhões de anos depois. A terra e o ar podem ser formados por uma infinidade de materiais sólidos e gasosos, e o fogo sequer pode ser considerado “matéria”, uma vez que é o resultado de reações químicas.

Falta à visão moderna, obviamente, a concepção metafórica do mundo. Ora, é claro que Tales não supunha que o mundo inteiro era uma espécie de ilha surgida, de alguma forma estranha, de um oceano primordial infinito. A “água” a que o pensador antigo se referia não era somente a água que encontramos nos rios, ou que usamos para beber e tomar banho, mas uma ideia, um conceito. Para Tales, fazia mais sentido que todas as coisas tivessem se formado a partir de uma substância tão plástica quanto àquela que encontramos em um jarro de cerâmica – e que, se despejada, por exemplo, numa caneca de latão, assumirá imediatamente a nova forma.

O que os antigos compreendiam pelos quatro elementos – terra, fogo, água e ar – era essencialmente um conjunto de metáforas, usualmente associadas a ideias grandiosas, como substâncias primordiais ou deuses, mas igualmente a tipos psicológicos e qualidades e características puramente humanas. Nesse sentido, tais elementos ainda estão presentes no nosso dia a dia, em nossa linguagem e simbologia, quiçá com outros nomes, sem que percebamos.

Minha intenção aqui é, portanto, investigar a origem de tais associações simbólicas. Se puderem me acompanhar nessa viagem de pura imaginação, ela nos levará aos primórdios da civilização humana – da escrita, da religião, da filosofia etc. –, não importando realmente a região do planeta ou etnia específica. Dito isso, vale lembrar que inúmeros povos antigos chegaram a sistemas parecidos de quatro ou cinco elementos, por vezes se valendo de tipos diversos, como madeira, metal, vácuo ou éter. Minha intenção não é dar uma explicação definitiva para tudo isso, o que seria impossível, mas tão somente refletir sobre a terra, o fogo, a água e o ar.

Nossa viagem percorrerá cavernas iniciáticas, onde o fogo engravida a terra; mares calmos e raivosos, governados pelos espíritos do vento; pensamentos elevados, que necessitam de âncoras densas para permaneceram no mundo; e, finalmente, aos mistérios das chamas que caíram do céu.

Nada disso será acadêmico, no sentido de tentar explicar metáforas antigas, mas talvez uma experiência literária interessante. Se lhe interessa, vamos caminhar juntos por aí.


» Na sequência, a iniciação da terra.

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Bibliografia
Kabbalah Hermética (Marcelo Del Debbio). Wikipédia.

Crédito das imagens: [topo] Google Image Search.

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