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17.1.08

Eu aqui

A música lá e eu aqui.
As estações me passaram a muito.
As pedras, os fungos e outros seres.
As plantas e os insetos.
Os animais, até mesmo o homem.
Tudo passou...
E eu fiquei aqui nesse silêncio.
Afinal para onde eu vou?

A música lá e eu aqui.
Todos do outro lado da cerca.
Brincando, vivendo.
Enquanto eu fico aqui adoecendo.
Cercado de seres desprezíveis.
Nunca houve luz para mim.
E aqui nesse lugar, ela só mesmo chega
pelas asas do serafim.

Venha comigo, ele me diz.
Não há castigo.
Todo ser é um aprendiz.
Tu já erraste bastante.
Não há sentido
em ser tão arrogante.
Venha, aceite minha ajuda,
peque minha mão...
Vamos retornar enfim.
Ouvir uma vez mais a canção,
a música tão querida.

Não! Vá embora...
Deixe-me com minha vergonha.
Eu quis ter poder.
Achei que o mal iria vencer.
Tanto caos e sofrimento.
Como eu poderia acreditar na luz?
O mal teria de vencer...
Teria, como não?
Ao menos, é claro,
que o mal fosse aliado da canção...

A música lá e eu aqui.
Fui enganado, ludibriado.
O mais medíocre dos seres veio a mim.
Me disse de sua guerra.
Convenceu-me que o mundo
não tinha salvação.
Fez o que sempre fez.
Eu fui o iludido da vez.

Agora eu sei, serafim.
Não há guerra não.
E tudo, tudo mesmo,
segue a sublime canção.
Ainda não posso ouvi-la...
Estou surdo, doente.
Mas aguarde-me meu caro.
Eu não pedi para ser assim,
e mesmo eu posso escapar.
Não custa esperar.
Pois aposto que lá no fim,
mesmo eu,
mesmo eu estarei lá.

(Do outro lado da cerca.
Onde há música...)

raph'99

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