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28.4.09

O mensageiro dos céus

Há quase dois milênios atrás, um sexagenário budista indiano, que tinha um grande número de seguidores estudantes da doutrina de Buda, resolveu viajar até o oriente médio. O senhor só iria levar consigo suas roupas, seu cajado de madeira e um seguidor ainda jovem... Poucos na localidade sabiam o que iria o velho monge fazer tão longe, mas alguns especulavam que ele seguia uma mensagem dos espíritos; Iria atravessar enormes distâncias em nome da fé: a mensagem dizia que o mensageiro dos céus, o filho de deus, estava entre os povos do mundo; E logo iria se revelar, mudando para sempre o coração entristecido e desorientado da humanidade.

Ayatsu foi o escolhido para acompanhar o monge. Era ainda jovem e vibrava com o glorioso destino de conhecer o filho de Deus! Após anos de andanças, os dois finalmente chegaram à cidade de Jerusalém. Lá encontraram um outro velho budista, que havia vindo do Nepal anteriormente. O outro monge disse que havia desistido da procura; Afinal, era impossível achar um único homem numa região tão extensa... Depois voltou para sua terra natal.

Após algum tempo de reflexão, o monge teve uma idéia e a seguiu: montou uma tenda numa das entradas da cidade e mandou Ayatsu espalhar a notícia de que naquela tenda recrutavam-se pobres e pastores para trabalhos de empregaria em casas abastadas. No outro dia formava-se uma pequena fila fora da barraca. O monge disse a Ayatsu que iria se ajoelhar e reverenciar cada um dos que entrassem pela tenda como o filho de Deus, mas só uma reação específica indicaria ser aquele o homem dos céus.

Durante aquele dia e outros, e semanas, e meses, nenhum homem reagiu da forma adequada... E finalmente o monge se deu por vencido e decidiu retornar a Índia. Ayatsu tentava imaginar que tipo de reação indicaria ser o filho de Deus: brilhar como o Sol? Levitar? Fazer algum milagre?

Depois de anos voltaram a Índia. O monge já estava conformado e não esperava mesmo encontrar o mensageiro dos céus. Porém, numa ensolarada manhã, um homem de aparência judia, barba e cabelos acastanhados, olhos verdes e trajando roupas leves e de cores quentes apareceu na entrada do mosteiro. Ele falou:

"Eu vim aprender sua religião. Não procuro nada senão teu conhecimento."

Extasiado, o velho monge ajoelhou-se ante o homem; E o homem, inconformado com a atitude do monge, ajoelhou-se também. O monge então encostou sua cabeça no chão, e foi imediatamente acompanhado. Com enorme alegria em seu coração, o budista olhou nos olhos do desconhecido e bradou:

"Tu és o senhor de todos nós, o mensageiro dos céus!"

Com a face plena de paz, o homem respondeu:

"Não, nada além do que você ou qualquer homem do mundo, todos nós trazemos um pouco de Deus em nosso interior. Todos somos filhos de Deus. O que eu fiz foi olhar em meu coração e descobrir a verdade sobre todas as coisas maravilhosas que compõe a divina criação, o tudo."

raph'96

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Este texto "chegou" para mim de maneira inesperada. Em meados de 1996 eu era apenas um jovem universitário que gostava de quadrinhos, esportes e RPG - nunca tive qualquer tipo de educação religiosa, a não ser as intuições que trouxe comigo desde o nascimento (imagino)... No entanto, não lembro bem o que assistia na TV, peguei uma carta impressa de condomínio, uma caneta, e na parte de traz do papel (que estava em branco) escrevi a mão esse conto que acabou de ler (não estou dizendo que psicografei o texto, apenas estava estranhamente inspirado).

Fato é que, de lá para cá, obviamente a temática de meus textos mudou consideravelmente (embora não tenha deixado de escrever sobre fantasia). Se hoje tenho esse blog, um livro de filosofia espiritualista e mais de uma centena de poesias escritas, é porque de certa forma tudo se iniciou naquele dia em que escrevi esse conto - em que deixei ele chegar, por assim dizer. Para mim pessoalmente ele é importante por inúmeras razões: pelos comentários que recebeu, pelas pessoas que o leram, pelos lugares onde foi lido, etc. Mas acima de tudo ele iniciou um ciclo pessoal, por assim dizer. Ciclo este que se renovou com o conto que vem na sequência deste:

» Leia o próximo conto desta série, O Rabi

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Este conto também se encontra traduzido para o inglês: "The messenger of the skies"

Crédito da foto: Wikipedia (cristianismo arcaico)

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