O assombro no olhar
Há esta distinta idéia de retorno à escuridão, ao nada
Onde tudo o que construímos nessa longa estrada
Da vida, nada restará: não há homem são
Que não trema, com um assombro no olhar
Ante tal nefasto pensamento, uma existência inteira
A navegar pelo oceano à beira, tudo em vão,
Tudo perdido neste derradeiro momento:
Da água do mar ficará apenas o gosto amargo do sal
Do mundo, apenas uma brisa, uma curiosidade,
Uma ansiedade por saber de seu final
Entretanto há também outra espécie de assombro
A olhos vistos naqueles que, abrindo-os, vêem
Um baile infinito de partículas pelo ar, um turbilhão
De belos pensamentos a escorar pelo ombro
E não adianta se virar para ver onde vão dar:
O vento sopra onde quer, e não há uma compreensão
De onde vem nem para onde vai; há somente este alento
De se saber que quase nada sabemos realmente
Que nossa ciência não fala exatamente do princípio,
Então, também do fim, não há nada do que se preocupar
Tenha em mente não o futuro em angustiada expectativa
Nem o passado em melancólica lembrança fugitiva
Pois que tens o tempo em suas mãos, e a vontade à disposição
Para dar o passo à frente, caminhar sem mourejar
Com um incerto assombro no olhar:
O assombro de quem molhou os pés na beirada do mar
E se encantou, e mergulhou na profundeza do ser
Apaixonando-se por este momento eternamente...
Tudo o que temos é o presente
raph'09
***
Crédito da foto: Bettmann/CORBIS (Rabindranath Tagore)
Marcadores: espiritualidade, existência, morte, poesia, poesia (41-60), tempo
2 comentários:
Uou... simplesmente ...
Simplesmente ...
Simplesmente...
Bem você entendeu...
T+
Obrigado.
Eu também acho que consegui um ritmo único neste poema, algo que talvez nunca mais tenha alcançado em nenhum outro (quando eu digo "eu", no campo da poesia, estou me referindo a "inspiração que chegou com o vento")..
Abs
raph
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