Não é preciso perder a esperança
Stephen nasceu em Oxford, na Inglaterra, em 1942. Filho de um biólogo, sempre se interessou por ciência, mas nunca foi um estudante particularmente excepcional. Era mais um jovem inglês, bom aluno, interessado em seguir a carreira em pesquisas científicas. Só isso.
Seu pai desejava que fosse médico, mas Stephen se interessava mais por matemática. Quando entrou no University College de Oxford, foi obrigado a mudar de planos: o curso de matemática não estava disponível, então optou pela física, e se formou em 1962. Interessado em prosseguir seus estudos sobre termodinâmica, relatividade e física quântica, prosseguiu para o doutorado na Trinity Hall em Cambridge.
Mais ou menos na época em que obteve o doutorado, Stephen estava muito desiludido com sua vida[1], não parecia haver nada que vale-se a pena fazer. Talvez o universo não fosse, afinal, tão interessante assim...
Porém, nessa mesma época, Stephen foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir as funções cerebrais. Esta é uma doença que ainda hoje não possui cura, e normalmente mata em poucos anos.
Talvez esse fosse o golpe final na esperança de Stephen e no seu interesse pela vida. Mas ocorreu exatamente o oposto: a partir desse diagnóstico, Stephen passou a pensar que se iria morrer de qualquer jeito, era melhor fazer alguma coisa de decente nos anos que lhe restavam. Isso também surgiu de sua constatação, a partir da observação de outros pacientes em condições muito piores que a dele nos hospitais, de que talvez sua condição não fosse tão ruim assim.
Stephen seguiu a vida, namorou, casou-se, teve filhos. Prosseguiu com suas pesquisas em cosmologia teórica e gravitação quântica, especializando-se no estudo e comprovação de teoremas sobre a singularidade dos buracos-negros, dentre inúmeras outras coisas. Enquanto realizava descobertas que iriam colocá-lo na história da ciência moderna, Stephen foi vendo seu corpo perder cada vez mais movimentos, até o ponto em que não podia sequer falar, e tinha de se comunicar com o mundo externo através de um computador e um sintetizador de voz.
Apesar de tudo, não perdeu o bom humor inglês, nem por um momento. Depois de famoso, em suas palestras e aparições na TV sempre teve um comentário mais espirituoso sobre sua condição aparentemente terrível: “o problema com esse sintetizador é que fiquei com um sotaque claramente americano”.
Também já lhe perguntaram se a sua condição física teve alguma influência em seu status de celebridade e gênio da ciência, ao que respondeu: “As pessoas são fascinadas pelo contraste entre minhas limitações físicas e a natureza infinita do universo com o que eu trabalho. Eu sou o arquétipo de um gênio desabilitado, ou um gênio com dificuldades locomotoras, para ser politicamente correto. Ao menos eu obviamente tenho dificuldades locomotoras. Se sou um gênio já está aberto à discussão.[2]”
Fosse Stephen apenas Stephen, e não um dos maiores cientistas e divulgadores de ciência de nosso tempo, ainda assim sua história já seria digna de nota e admiração. Há tantos e tantos que preferem a morte quando tem apenas parte de seus movimentos comprometidos, e Stephen conta praticamente apenas com pequenos movimentos dos dedos das mãos, dos olhos, e alguns músculos da face (ele felizmente ainda pode sorrir). Mas Stephen não teve nem sua mente e, principalmente, nem seu espírito, comprometidos por sua doença. Viveu em função de sua genialidade de raciocínio lógico, mas também em função de sua enorme capacidade emocional de lidar com uma doença que para muitos soa tão avassaladoramente terrível.
Stephen Hawking vive até hoje (fez 67 anos em 2009). Ele diz que teve sorte: “Eu tive esta doença por praticamente toda a minha vida adulta. Ainda assim ela não me impediu de ter uma família linda e ser bem-sucedido no trabalho. Isso graças ao apoio que tenho tido da família, dos amigos, e inúmeras organizações. Eu tenho tido sorte pelo fato de minha doença ter progredido de forma bem mais lenta do que seria o normal. Mas isso mostra que não é preciso perder a esperança.[3]”
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[1] De acordo com textos publicados por Stephen Hawking em seu site oficial.
[2] De acordo com a seção de Perguntas e Respostas no mesmo site.
[3] Idem a nota #1.
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Crédito da foto: Rune Hellestad/Corbis
Marcadores: artigos, artigos (41-60), ciência, esperança, Stephen Hawking
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