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18.11.09

Reflexões sobre o nada, parte 1

O que não existe nem nunca existiu

Ao longo da história filósofos têm se digladiado com a questão do nada. Não é para menos, já que grande parte das pessoas não compreende exatamente o cerne do problema: o nada não é um lugar vazio, ou um espaço em branco, ou a escuridão do vácuo no espaço profundo. O nada não existe. O nada nunca pode ter existido.

A ciência nos diz que a história do espaço-tempo é um conjunto gigantesco de ações e reações de partículas. No universo nada se perde e nada se cria, as coisas apenas se transformam, como dizia Lavousier. Coisas são formadas por partículas, em todo caso: a maça que Newton viu cair, era afetada pela gravidade, mas também era composta por partículas que formavam o fruto utilizando a energia proveniente do sol. O sol por sua vez também é afetado pela gravidade das outras estrelas da Via Láctea, além de exercer um campo gravitacional sobre os planetas próximos, como a Terra. Mas o sol também é formado por partículas que se aglutinaram, também por conta da gravidade. E todas as estrelas da Via Láctea, e todas as galáxias, se afastam ou se aproximam de acordo com reações gravitacionais. Não existe espaço para o nada neste universo. Ao menos desde o Big Bang, tudo obedece a elegantes leis de ação e reação.

O vácuo é um espaço não preenchido por qualquer matéria, nem sólida, nem líquida, nem gasosa, nem plasma, nem mesmo a matéria escura. Mesmo assim cada pequeno espaço dele é preenchido por trilhões de neutrinos e outras partículas a vagar pelo cosmos, assim como radiações de luz em diversas freqüências vibratórias, e campos gravitacionais. O vácuo possui energia, e suas flutuações quânticas podem dar origem à produção de pares de partícula e anti-partícula. O vácuo não pode ser o nada.

O vazio seria um espaço em que não houvesse nem matéria, nem campo e nem radiação. Mas no vazio haveria ainda o espaço, isto é, a capacidade de caber algo, sem que houvesse. No universo não existe vazio, pois todo o espaço, mesmo que não contenha matéria, é preenchido por campos gravitacionais e pela radiação que o atravessa, de qualquer espécie. Mas ainda que o vazio existisse no universo, não poderia ser o nada.

O nada não pode ser um espaço a ser preenchido. Em realidade, não pode nem mesmo ser um lugar ou dimensão onde a noção de tempo seja válida. No nada não pode existir o tempo, nem o tempo curto nem o longo. No nada não existe a noção de seqüência de eventos, e ainda que fosse um lugar a espera de ser preenchido, o evento do preenchimento nunca ocorreria, pois demanda que exista o tempo.

Nesse sentido, o nada se assemelha a noção de eternidade dos orientais. Porém, mesmo assim o nada não pode ser a eternidade, pois na eternidade residem as essências das coisas. Ainda que tais essências sejam totalmente imateriais e metafísicas, ainda assim seriam algo, e não nada. O nada não pode ser uma essência, ou idéia, ou conceito, ou pensamento... Nada existe no nada. Nada pode ter algum tempo existido no nada.

O nada não existe sequer como representação mental, ou lingüística. Quando se fala do nada, quando se menciona a palavra como conceito filosófico, obrigatoriamente estamos nos referindo ao conceito do não-existir, e nada mais. Ainda que tenhamos diversas interpretações do nada, nenhuma delas será válida. Nunca. Pois simplesmente não há o que ser interpretado.

Por isso mesmo o nada é um grande problema. Não porque exista, mas exatamente pelo contrário: como o nada não pode existir, nada pode surgir ou ter surgido do nada, nem mesmo este universo.

À seguir, porque afinal existe algo, e não nada?

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6 comentários:

Blogger HeldPereira disse...

Sempre tive essa visão, difícil de se explicar, de que o NADA não existe, muito boa explicação!

A matéria, tal como o pensamento e a energia, são "alguma coisa", logo, nada pode ser definido com NADA.

11/9/10 15:32  
Blogger raph disse...

Pois é, para existir alguma coisa, para termos o Um em oposição ao Zero, é preciso que o nada não exista, e nunca tenha existido, e jamais vá existir. O Um é eterno!

Abs
raph

11/9/10 15:35  
Anonymous Franco-Atirador disse...

Achei fantástico a frase de Nassim Haramein sobre o vácuo; algo óbvio que jamais tinha notado, e comecei a entender que o nada não existe. Disse ele:

"Se todas as coisas irradiam para o vácuo, o vácuo deve estar cheio!"

Fabulosa dedução! Então ele discorre sobre a densidade infinita do vácuo e a jogada suja dos físicos que não sabem lidar com infinitudes e jogaram o conceito para baixo do tapete com a Normalização de Planck.

Estive pensando se isso é mesmo verdade, pois como poderiam cientistas fazerem algo tão anti-ciência? Certamente não são cientistas genuínos. Como não temos grandes conhecimentos em física é difícil saber se é realmente isso que fizeram ou se existem explicações, ou se Nassim forçou a barra, ou se ele mesmo não entende alguma outra parte da coisa/história... enfim. Mas não duvido. Pode ser apenas fruto da obstinada mente humana querendo definir tudo.

30/8/12 15:47  
Blogger raph disse...

Oi Franco,

Bem, boa parte da Academia abomina as ideias do Nassim Haramein, mas naquela longa palestra dele no YouTube existe muita coisa sólida, embora na maior parte "misturada" com todo tipo de teoria espiritualista diversa (talvez seja isso que o atrapalhe em relação a Academia, talvez, hehe).

Sobre a perda de informação nos Buracos Negros, também não sou nenhum expert no assunto, mas acredito que existam duas teorias para contornar a possível "perda":

- Buracos brancos ou buracos de minhoca: ou seja, a informação entre numa espécie de "ralo" do tecido do espaço-tempo, e ressurge nalgum outro local do tecido. Infelizmente no entanto nunca detectaram um "buraco branco", de modo que alguns postulam que essa informação vai "para outro universo a flutuar junto ao nosso num multiverso hipotético".

- A informação simplesmente ainda está toda lá, concentrada de alguma forma "infinita", e provavelmente nunca sairá de lá, mas tampouco "deixou de existir". Eu acho essa segunda abordagem particularmente pobre :)

Abs
raph

30/8/12 17:37  
Anonymous Franco-Atirador disse...

Pois é, a segunda a abordagem é a de Nassim: a densidade infinita do vácuo. Nessa mesma palestra ele nos afirma isso, diz que não podemos senti-la fazendo uma comparação um pouco confusa de que é como um peixe que jamais é tirado de fora d'água. Eu tentei visualizar o que ele dizia sobre a energia irradiada para o vácuo se curvar em determinado momento no espaço-tempo para então formar o sistema de retro-alimentação que produz a estrutura fractal no sentido infinitamente pequeno. Confesso que achei legal. Esta faixa produziria energia e a jogaria nas direções de expansão e contração (pra fora e pra dentro das moléculas) - embora o conceito de produzir energia, neste ambiente fractal infinito deve ser substituído por movimentar energia, uma vez que é uma grande dinâmica de energia de cima pra baixo e de baixo pra cima.

Que coisa, não?!

Mas de qualquer forma, foi legal a parte em que ele diz que estava em uma conferência com grandes físicos e discorre sobre a imagem - amplamente usada na física - do garoto inflando uma bexiga com moedas (estas representando as galáxias) para ilustrar a expansão do cosmos, e diz: "Se uma coisa se expande, outra têm que contrair, como os pulmões. Para cada ação há uma reação igual e contrária. Primeira lei da física."

Enfim, mais uma vez estamos em um beco sem saída, onde leigos podem ser facilmente ludibriados.

31/8/12 15:00  
Blogger raph disse...

É eu acho interessante pensar nessas teorias, mas acredito que não devamos abandonar uma certa ideia de "agnosticismo", ou seja: de que há certas questões que não podemos responder hoje, e talvez nunca possamos (ao menos enquanto seres humanos).

31/8/12 16:38  

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