Caso Parmod, parte 4
Texto de Ian Stevenson em "Reencarnação, 20 casos” (Ed. Vida e Consciência) – Trechos das pgs. 163 a 185. Tradução de Carolina Coelho Lima. Os comentários ao final são meus.
Reconhecimentos mais relevantes feitos por Parmod
Abaixo listarei os 6 reconhecimentos mais relevantes de uma lista original com 36 itens. Também optei por ignorar alguns que já foram citados ao longo do meu resumo do texto completo deste caso.
1. Ele “morreu em uma banheira” (Informantes: M. L. Sharma; Verificação: M. L. Mehra, J.D. Mehra, segundo irmão de Parmod)
Comentários: De acordo com Sri M. L. Sharma, Parmod disse que “morreu em uma banheira”. As testemunhas da família Mehra afirmaram que Parmanand tentou uma série de tratamentos com banhos naturopáticos, quando teve apendicite. Ele fez alguns desses tratamentos dias antes de morrer, mas não morreu na banheira. Em uma carta de 6 de setembro de 1949, Sri B. L. Sharma afirmou que Parmod tinha dito que morreu “por ter sido molhado com água” e que ele (Sharma) soubera (supostamente por meio da família Mehra) que alguém dera um banho nele imediatamente antes de sua morte.
2. Ele tinha um cinema em Saharampur (Informantes: B. L. Sharma; Verificação: M. L. Mehra)
Comentários: A família possuía um cinema em Saharampur [1].
3. Seu nome era Parmanand (Informantes: B. L. Sharma; Verificação: M. L. Mehra)
Comentários: Parmod não havia dito o nome Parmanand até o momento em que cumprimentou Sri Karam Chand Mehra, na estação de Moradabad. Ele disse: “Olá, Karam Chand. Eu sou Parmanand”.
4. Explicação de como mexer na máquina de refresco na loja dos irmãos Mohan, em Moradabad. (Informantes: M. L. Mehra, B. L. Sharma, N. K. Mehra)
Comentários: Quando Parmod entrou na loja, um de seus primeiros comentários foi: “Quem está cuidando da panificadora e da fábrica de refrescos?” (Essas eram as funções de Parmanand nos negócios da família.) Ao ser levado até a máquina de refrescos, Parmod sabia exatamente como fazê-la funcionar. A água tinha sido desligada para enganá-lo, mas ele percebeu sem que ninguém lhe dissesse, como aquela máquina complicada tivesse condição de funcionar.
5. Reconhecimento da esposa de Parmanand. (Informantes: Nandrani Mehra, B. L. Sharma, M. L. Sharma)
Comentários: Sugestão não intencional pode ter entrado neste reconhecimento, uma vez que Parmod foi levado entre um grupo de moças e perguntaram a ele se conseguia reconhecer “sua” esposa. Ele ficou tímido e olhou para a viúva de Parmanand. Ela desviou o olhar. Mais tarde, ela disse a outros que Parmod havia dito: “Eu vim, mas você não colocou o bindi”. Essa afirmação referia-se à marca redonda de pigmento vermelho usada na testa das esposas, mas não por viúvas na Índia. O comentário teria sido muito incomum para um menino fazer a uma mulher mais velha, mas totalmente apropriado na relação entre marido e mulher. Ele indica como Parmod acreditava que a senhora era “sua” esposa [2]. Ele também a reprovou por estar usando um sári branco, como as viúvas hindus costumam fazer, em vez de um colorido, como é próprio às esposas.
6. Reconhecimento de Yasmin, um cobrador muçulmano de Parmanand. Parmod disse a ele: “Preciso receber um dinheiro de você”. (Informantes: B. L. Sharma, Raj. K. Mehra)
Comentários: Yasmin, a princípio, ficou relutante em assumir a dívida, mas quando membros da família Mehra afirmaram que não pediriam o dinheiro de volta, ele disse que, de fato, existia uma dívida. As testemunhas disseram valores diferentes [3].
O desenvolvimento posterior de Parmod
Não encontrei Parmod entre agosto de 1964 e novembro de 1971. Mas, durante esses anos, fiquei sabendo notícias dele por meio do Dr. Jamuna Prasad, que havia incluído o caso de Parmod entre aqueles nos quais uma equipe liderada por ele vinha estudando correspondências dos traços comportamentais entre indivíduos e personalidades anteriores relacionadas de casos de reencarnação. Durante esses anos, também recebi algumas cartas de Parmod ou de seu pai com notícias sobre suas atividades atuais.
Em novembro de 1971, pude conversar longamente com Parmod em Pilibhit. Nós nos reunimos no escritório do Soil Conservation Service, no qual ele trabalhava na época. Parmod tinha um pouco mais de 27 anos.
(...) Parmod continuava mantendo amizade com os membros da família de Parmanand, e os encontrava com frequência. Às vezes passava alguns dias com eles em Moradabad, apesar de não ter vivido com eles no período em que estava trabalhando em Moradabad. Com preferências condizentes com as de Parmanand, Parmod via mais os filhos de Parmanand do que a esposa dele em Moradabad.
Parmod disse que às vezes pensava na vida como sannyasi ou homem sagrado (anterior àquela de Parmanand) de que ele havia-se lembrado antes. Ele se lembrava dessa vida de vez em quando, em ocasiões em que se encontrava com pessoas com interesses filosóficos. Das três vidas das quais tinha lembranças, a do sannyasi, a de Parmanand e a de Parmod, ele preferia a de Parmanand. Não conseguia explicar essa preferência.
(...) Discutimos o valor de ele ter se lembrado de uma vida anterior. Parmod respondeu que a experiência não tinha sido útil nem prejudicial, mas imediatamente continuou dando exemplos que sugeriam que a experiência tinha sido as duas coisas.
Por um lado, ele concordava com a mãe em relação ao fato de sua lembrança da vida anterior ter interferido em seus estudos; e se isso fosse verdade, ele não havia se recuperado totalmente dessa deficiência, uma vez que seu avanço futuro dependia em grande parte do fato de completar os estudos e ter um diploma. Por outro lado, ele acreditava que suas lembranças de uma vida anterior também haviam trazido vantagens. No nível prático, ele acreditava que sua perspicácia nos negócios vinha do que ele havia aprendido da vocação da Parmanand [4].
E de modo mais geral, a certeza da continuação da vida depois da morte que suas lembranças lhe davam fazia com que tivesse equilíbrio, o que o ajudava muito em seus relacionamentos pessoais [5].
» Na continuação, minhas considerações finais acerca do caso Parmod.
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Comentários sobre esta parte. Ao final da série trarei comentários gerais:
[1] É preciso considerar que naquela época (e até mesmo ainda nos dias atuais, em muitas regiões da Índia) os cinemas eram pequenos e administrados como um negócio de família. Mesmo assim, pouquíssimas famílias indianas tinham um cinema, o que aumenta consideravelmente a relevância da informação. É o tipo de coisa que parece a primeira vista uma fantasia, mas que termina por se tornar uma verificação relevante.
[2] É curioso ler nas entrelinhas. Percebam como o menino não se virou para a “esposa” e apontou: “é aquela ali”. Ao invés disso, comportou-se como se apenas houvessem se separado por algum tempo. A relação tempestuosa entre os dois também fica evidente: mesmo após terem sido separados pela “morte”, a primeira declaração de Parmod é uma represaria.
[3] Em todo caso, melhor assumir uma dívida menor do que a real...
[4] Em realidade, sua vocação para negócios era uma de suas potencialidades bem desenvolvidas ao longo de inúmeras vidas, enquanto a personalidade anterior era tão somente a última de uma série onde teve a oportunidade de aprimorar esta potencialidade em específico... Ou, em outras palavras, ninguém nasce gênio por bênção divina ou uma graça aleatória da combinação genética, mas tão somente reflete a potencialidade (ou a “genialidade”) que vem sendo desenvolvida, passo a passo, vida a vida, pelas eras pregressas.
[5] Talvez ninguém tenha mais “certeza” disso do que uma criança que “já nasceu sabendo”. Há muitos que creem em vida após a morte, mas são pouquíssimos os que compreendem ao menos uma parte do mecanismo pelo qual isso ocorre. Crianças que lembram vidas passadas são especiais no sentido de que trazem uma crença que está por si só além de qualquer sistema religioso, científico, ou filosófico, pré-estabelecido pela sociedade.
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Crédito da foto: Doug Pearson/JAI/Corbis.
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