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7.5.13

O mundo assombrado pelas teorias

Este texto me foi enviado por um amigo de longa data e que também se interessa por filosofia. Seu nome é Silvio Soares Santos (não "aquele" Silvio Santos...):


Parece-me muito claro que como método de conhecimento rigoroso e objetivo, o conhecimento oriundo do modelo científico, propõe-se a fundamentar empiricamente os fenômenos naturais que constituem o mundo. Fundamentar empiricamente, não significa explicar os porquês sobre um evento fenomênico, mas apenas organizar estruturalmente o ‘como’ eles ocorrem.

Hume (1711 – 1776)[1] na obra Ensaio sobre o entendimento humano já afirmara que a ciência parte da observação e baseia-se na ideia de causa e efeito sobre os eventos constantes na natureza. Hume afirma que o sujeito do conhecimento apenas apreende os fatos concretos da realidade, sendo estes revelados pela experiência sensível. O procedimento utilizado como fundamento sensível é então a experiência. Porém, como não se podem fazer todas as experimentações e também porque a mente humana é que relaciona um evento com outro evento, o conhecimento científico tem como sustento apenas o hábito das repetições, analisadas por nossa lógica. A lógica é puramente mental e cognoscente, portanto, não representa com garantia a realidade factual e material.
Ou seja, a natureza não é obrigada a seguir nossas leis, nem ser cúmplice de nossas demonstrações. Acabamos assim, em uma espécie de crença instrumentalizada, objetiva, técnica e lógica, muito propensa a irracionalidade por diversas instâncias.

Obviamente que ninguém é maluco de dizer que o mundo prático não é funcional. Porém, nos parece funcional, por que a nossa lógica o cria assim. Relacionamos causas a seus efeitos, teorizamos leis após hipotetizarmos possíveis explicações. Aí nesse ponto, consideramos irrelevantes, os termos arbitrários inventados pelo cientista, como ‘a ideia de força’ aplicada no movimento.

Quanto às generalizações e as teorias dedutivas que partem de observações indutivas, estas também oferecem como problemas alguns pontos.
Primeiramente, a deficiência da observação, que além ser relativa pela não garantia de observarmos da mesma forma o mesmo evento e da contribuição da mente na complementação das percepções sobre as leituras das sensações, temos a problemática do instrumental, que pode interferir e influenciar os resultados.

Em segundo lugar, aparece a interferência direta do observador e a relação arbitrária dos eventos entre si. Nada garante que a cor vermelha que vejo seja o mesmo vermelho que você vê, caro leitor-observador. Nada garante que a queda de um lápis, segue as mesmas leis da queda de uma pedra lá na montanha. E a ‘coisa’ fica ainda mais complicada quando generalizamos uma mesma lei para todos os eventos, inclusive aqueles que ainda não ocorreram.

Em suma, o hábito é a única forma de se sustentar leis. Como reflexão, podemos tomar exemplos de teorias que pareciam corresponder conclusivamente aos eventos que ocorriam e foram abandonadas ou modificadas. Também podemos trazer para a crítica, os eventos anômalos que a Ciência não consegue explicar com sua teoria aplicada.

Aqui, me ausento de reflexões mais apuradas, sobre, por exemplo, o interesse econômico e político aos quais a Ciência pode estar sujeita, e mesmo as implicações éticas sobre o procedimento científico, pois não vem ao caso, de acordo com o que foi proposto nessa atividade discursiva.
Penso que o modelo tradicional ou convencional de Ciência, deva ser revisto, pois, o mundo moderno técnico-científico, não é o melhor dos mundos possíveis.

***

[1] HUME, D. Ensaio sobre o entendimento humano. Tradução de Maria Eloisa P. Tavares. Traduzido do texto disponível em inglês em gutenberg.org/files/36120/36120-h/36120-h.htm#OF_THE_DIGNITY_OR_MEANNESS_OF_HUMAN_NATURE


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4 comentários:

Blogger Vinícius Dalí disse...

Esse assunto me lembra algo que li no antigo blog do Franco-Atirador, em que o autor propunha que a nossa concepção do Universo é um Simulacro, e que a Razão se move na verdade neste Simulacro criado na nossa imaginação, e não na Realidade Objetiva. Teorias são, na verdade, muito próximas dos símbolos mágickos, no sentido de que apenas representam uma realidade, e não são, definitivamente, essa realidade.

E tudo está OK com isso. Exceto quando confundimos o Real Desconhecido com as criações mentais que correspondem à Realidade. Ficamos lindamente presos em um emaranhado de pensamentos que turvam a luz que vem de fora. Sejamos todos bem-vindos à Caverna de Platão...

17/5/13 00:08  
Blogger raph disse...

Oi Vinícius,

Interessante como isso que falou também se aproxima do que a própria Neurociência têm postulado ultimamente:

http://textosparareflexao.blogspot.com/2013/05/nunca-desliga.html

Abs
raph

17/5/13 09:52  
Blogger Bruno de Oliveira disse...

Acho que a ciência já foi mudada do período de Hume para cá, principalmente considerando que ela não depende mais da filosofia para fundamentá-la, como era no século dezessete para baixo. Mostrar a arbitrariedade das inferências científicas não importa para a ciência hoje, uma vez que ela está mais preocupada com o resultado, que parece ser seu único "fundamento".

Eu só faria um apontamento, que é o fato de que lógica no contexto do Hume não tem o mesmo significado que você está empregando no texto. No período a lógica não era vazia, mas comportava metafísica, psicologia e muitos outros conteúdos; algo bem diferente do que entendemos por lógica atualmente.

16/12/13 11:48  
Blogger Silvio S. Santos disse...

Bruno;

A lógica de raciocínio fundamentada em Aristóteles descrevem três princípios fundamentais. Nesta lógica é que alicercei na crítica. Hoje temos a lógica transdisciplinar que superou a lógica aristotélica, considerando um terceiro incluído, mas em suma, nossa percepção racional quanto aos fenômenos percebidos ainda é a velha lógica binária.

3/2/14 16:19  

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