Chesed shebe Chesed
Viemos do pó.
Habitamos o pó.
Somos todos poeira de estrelas;
e, ainda assim, elas nos amam,
e nos regam com sua luz,
e nos vivificam com seu calor,
e dançam conosco
através dos dias e das noites,
e pelas estações,
e por cada palavra
de nossas orações.
Somos um fruto de casca muito grossa.
Nem a serpente nos fendeu –
é preciso um fogo mais intenso,
que arde sem se ver
e irrompe o seu casulo
de dentro para fora...
O que não conhecíamos,
dia virá que conheceremos...
O que não percebíamos,
dia virá que perceberemos...
Mas o que não sentíamos,
o que não amávamos,
não será jamais sentido ou amado
nalgum dia futuro...
O que amamos e sentimos
é para sempre –
arde no farfalhar das gramas,
sussurra no crepitar das chamas,
e nos abraça e afaga
e diz, bem baixinho,
dentro de nossa mente:
“Eu estive a sua procura;
em cada sorriso,
em cada lágrima,
em cada suspiro de vida
ou de morte,
eu estive lá
e ainda estou...
Eu estive a sua procura;
mas você jamais esteve
nem longe
nem fora
de mim”
Viemos das estrelas,
e somos estrelas,
e tudo quanto há
são constelações...
“Venha! Venha para fora!
Há tantas luzes na noitinha...
Venha! E traga a sua luneta!”
raph’15.04.14
***
Crédito da imagem: Dimitri Lomanova
Marcadores: poesia, poesia (121-130), Sefirat ha Omer
5 comentários:
Lindo poema! :)
Ha, postei a mesma foto na segunda-feira mas não sabia o autor >.<
Abraço,
Petri
Oi pessoal,
Obrigado :)
Eu cheguei a pensar em postar todos os poemas do Sefirat ha Omer, mas cheguei a conclusão que isso seria um certo exagero...
Ao invés disso, pretendo juntar todos eles num eBook gratuito, quem sabe, para usarem no Omer de 2015 :)
Também não poderia me "forçar" a escrever um poema todos os 49 dias. Até agora eles têm chegado, mas não posso garantir que cheguem todos os dias - daí então terei tempo para preenches as "lacunas" até o ano que vem.
Abs!
raph
Mas eventualmente vou postando alguns deles, quem sabe um por semana...
Este foi o do segundo dia:
[Geburah shebe Chesed]
Quem quer que adentre em meu bosque
encontrará beleza, mas não paz.
A época da inocência já se foi.
Hoje o amor é uma guerra,
e a cada vez que o sol nos rodeia
todas as árvores lutam por sua luz.
As mais frondosas buscam tanto proteger as demais
que a sua sombra as impede de contemplar o sol,
e elas não aprendem a crescer por si mesmas...
As mais apaixonadas brotam tão próximas uma da outra
que as suas raízes entrelaçadas
definham sugando os mesmos nutrientes...
E ainda temos as trepadeiras
que se enroscam nos troncos alheios
e jamais desenvolvem o seu próprio...
Quem quer que adentre em meu bosque
encontrará beleza, mas não paz.
Há um lenhador terrível
andando oculto pelas sombras.
Sim, é ele quem decepa os galhos a machadadas,
para que os troncos sigam retos, rumo ao céu...
Até que possam observar toda a floresta do alto,
e ver o sol, face a face –
e então agradecer do fundo da alma
por cada golpe
deste divino jardineiro.
raph'16.04.2014
Belíssimo, caro.
Lembrou-me um conto que escrevi há algum tempo em que trata de um amor desmedido e, nesse caso, literalmente sufocante:
http://operavida.blogspot.com.br/2011/11/filhas-de-aqueloo.html
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