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16.3.14

Lançamento: Gitanjali

As Edições Textos para Reflexão têm a enorme alegria de lhes trazer Gitanjali, a obra que tornou Rabindranath Tagore o primeiro Nobel de Literatura não europeu. Ela foi traduzida do original em inglês por Rafael Arrais.

"O Grande Mestre"... Assim Mahatma Gandhi o chamava. Aliás, quem deu a alcunha de Mahatma ("Grande Alma") a Gandhi foi o próprio Tagore. E, até hoje, quando ouvimos aos hinos da Índia ou de Bangladesh, ouvimos a composições suas. Mas Tagore foi muito mais do que um compositor de hinos, um Prêmio Nobel, ou mesmo um "grande mestre". Tagore foi um poeta da alma, um grande místico, e talvez isto por si só, ou somente isto, possa explicar a qualidade inefável e atemporal de seus poemas, contos, textos e músicas. Tagore conservou até o seu último dia a fé no homem espiritual, no homem do amanhã. Ele foi um daqueles poucos, pouquíssimos, que não se contentou em simplesmente esperar pelo Céu - tratou de tentar erguê-lo aqui mesmo, neste mundo...

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Abaixo, seguem trechos da luxuosa introdução ao Gitanjali por outro Nobel de Literatura, W. B.Yeats:

Desde a Renascença os escritos dos santos europeus – apesar da familiaridade com suas metáforas e a estrutura geral de seu pensamento – cessaram de nos atrair a atenção. Nós sabemos que um dia deveremos enfim abandonar o mundo, e estamos acostumados, em nossos momentos de cansaço e exaltação, a pelo menos considerar um abandono consciente do mundano; mas como poderemos nós, que lemos tanta poesia, contemplamos tantas obras de arte, escutamos a tantas músicas grandiosas, e atingimos um estado onde o choro da carne e o choro da alma se uniram num mesmo pranto, como poderemos abandonar tal mundo de maneira tão rude e severa?

O que nós temos em comum com o ato de São Bernardo, que cobriu os próprios olhos, de modo a que não pudessem se maravilhar com à beleza dos lagos suíços, ou com a violenta retórica do Livro das Revelações? Nós acharíamos, caso tentássemos, conforme neste livro, palavras cheias de cortesia. “Esta é a minha deixa. Me deem adeus, meus irmãos! Eu me curvo a vocês e tomo o meu caminho. Aqui lhes deixo as chaves de minha porta – assim como a minha casa inteira. Apenas lhes peço por carinhosas palavras de despedida. Nós fomos vizinhos por tempos, mas eu recebi mais do que poderia retribuir. Agora a manhã chegou e a lamparina que iluminava o meu quarto escuro se apagou. Uma convocação chegou até mim, e eu estou preparado para a minha jornada”.

E é tão somente nosso estado de espírito que nos faz chocar com os extremos de um Tomás de Kempis ou um São João da Cruz, que clamam, “E porque eu amo esta vida, sei que deverei amar também a morte”. No entanto, não são apenas em nossos pensamentos acerca de nossa partida que este livro penetra. Nós não sabíamos de nosso amor por Deus, nós mal sabíamos se realmente acreditávamos nele; ainda assim, olhando para nossa vida em retrospectiva nós descobrimos, em nossa exploração pelas trilhas das florestas, em nosso encanto solitário no topo dos montes, na misteriosa reivindicação que fizemos, inutilmente, pelo amor da mulher que amávamos, ainda assim descobrimos, enfim, a emoção que desencadeou toda esta doçura insidiosa.

“Adentrando meu coração sem ser convidado, como alguém da multidão comum, desconhecido, você marcou com a estampa da eternidade muitos dos meus momentos fugidios, meu rei”. Esta não é mais a santidade da cela e do açoite; é tão somente uma nova inspiração para uma nova intensidade na alma de um artista, a pintar o pó e a luz do sol, e devemos recitá-la com vozes como as de São Francisco ou William Blake, que sempre nos pareceram tão alienígenas ao longo de nossa história violenta.

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Nós escrevemos livros longos onde, talvez, nenhuma página possua alguma preocupação em tornar a leitura agradável. Confiantes nalgum design geral, lutamos para fazer dinheiro e preencher nossas mentes com política – e outras coisas enfadonhas –, enquanto o Sr. Tagore, assim como a própria civilização indiana, têm estado contentes com a descoberta da alma e com sua submissão espontânea a ela.

Muitas vezes ele põe esta vida em contraste com a vida desses que têm amado mais a nossa maneira, e se voltam para o peso aparente do mundo, mas ele sempre, humildemente, termina por considerar o seu caminho o mais apropriado para ele: “Aqueles que seguem para casa me encaram e sorriem, e me enchem de vergonha. Eu me sento como uma serviçal miserável, cobrindo o rosto com meu vestido, e quando me perguntam, ‘O que desejo’, eu baixo meus olhos e não os respondo”.

Noutro tempo, lembrando-se de como sua vida teve um dia um perfil diferente, ele diz assim, “Perdi muitas horas com o conflito do bem e do mal, mas hoje o grande prazer do meu colega dos dias vazios é atrair o meu coração para ele; e eu não sei o porquê deste chamado repentino para tal vã inconsequência!”.

Uma inocência e uma simplicidade que não se acham noutros cantos da literatura fazem com que os pássaros e as folhas pareçam estar tão próximos dele quanto das crianças, e com que o passar das estações pareçam eventos tão grandiosos quanto o eram antes de nossos pensamentos cruzarem a idade adulta.

Por vezes eu penso se ele adquiriu tal qualidade da literatura bengalesa ou da religião, e noutras vezes, lembrando-me dos pássaros aterrissando nas mãos de seu irmão, encontro prazer em imaginar isto como algo hereditário, um mistério que veio crescendo através dos séculos, como a lenda de Tristão e Isolda.

De fato, quando ele fala de crianças, tal qualidade se parece tanto com uma parte dele mesmo, que não ficamos certos se ele não estaria, da mesma forma, falando dos santos...
“Elas constroem suas casas com areia e brincam com as conchas vazias. Com as folhas secas elas tecem seus barquinhos e os colocam, sorridentes, para flutuar na vastidão do mar.
As crianças brincam na praia dos mundos. Elas não sabem nadar, e tampouco arremessar as redes. Pescadores de pérolas mergulham atrás de pérolas, mercadores navegam em seus barcos, enquanto as crianças catam pequeninas pedras, e depois as espalham novamente.
Elas não buscam por tesouros ocultos, e tampouco sabem arremessar as redes”.

W. B. Yeats, Setembro de 1912 (citando, entre aspas, trechos do Gitanjali)


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2 comentários:

Blogger Eddie freitas disse...

Eu preferia este site quando voce fazia seus textos com o que voce pensava.Por favor, não torne isso comercial... Sua mente ...ou espirito não precisa de copias.


24/3/14 09:30  
Blogger raph disse...

Oi Eddie,

É claro que o fato de eu estar editando e traduzindo quase um livro digital por mês reduziu consideravelmente a frequência de textos meus aqui no blog, mas acho que vale a pena pois estou conseguindo, de certa forma, fazer com que alguns grandes livros sejam lidos por pessoas que talvez jamais nem ouvissem falar deles, ou nem tivessem a oportunidade de encontrar numa livraria ou mesmo num sebo...

Não se trata de algo propriamente comercial. É claro que os meus livros mesmo, que fiquei anos elaborando, como o "Ad infinitum" e o "Rumi - A dança da alma", eu até cobro um pouquinho mais (R$5,99), mas os demais, pelo menos na Amazon, estarão sempre no preço mínimo de venda (R$1,99). O próximo livro das Edições Textos para Reflexão, inclusive, vai ser gratuito - "O grande computador cósmico", que será uma edição dos primeiros textos do Marcelo Del Debbio no Teoria da Conspiração.

O objetivo do blog sempre foi a reflexão da luz, e há muitas luzes que são bem maiores que a minha - não tenho nenhum problema, neste caso, eu reduzir um pouco a frequência dos meus textos para que outros grandes textos cheguem aos olhos de cada um de vocês :)

Dito isto, este ano eu já estarei reduzindo a "média" de edições de livros digitais, provavelmente de um por mês para um a cada dois meses ou até pouco menos que isso... Assim também poderei voltar a escrever séries no blog - a próxima se chamará "Conectados"...

Abs
raph

24/3/14 10:28  

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