A grande aventura
 
Pé ante pé,  por esta trilha de contos e histórias,
eu procurei  por ti, ó andarilho das beiras de estradas,
sombra das  tavernas, incitador de aventuras,
mas tudo o  que pude ouvir foram seus passos
silenciosos,  sempre próximos,
sempre  ocultos...
Montei uma  frota de balões,
  contratei os  melhores mestres baloeiros de todo o reino,
  e juntos  partimos a lhe buscar pelos céus.
  Você, porém,  estava sempre detrás das nuvens,
  voando além  do poente,
  ou escondido,  em silêncio, no ninho da Fênix.
  Foi o  guardião do portão da Cidadela dos Silfos quem disse,
  “Desistam,  ele não está no céu,
  se estivesse,  os pássaros já o teriam encontrado.”
Então juntei  grandes mestres navegadores
  e juntos  construímos os barcos mais velozes de todo o oceano,
  cujas velas  eram ungidas com o óleo mágico
  fabricado  pelos alquimistas da Casa das Sereias.
  Você, porém,  estava sempre uma onda a nossa frente,
  cortando as  profundezas em sua carruagem de golfinhos,
  ou escondido,  meditando, na última torre do Grande Abismo.
  Foi o velho  Noé, da proa de sua grandiosa Arca, quem disse,
  “Desistam,  ele não está nem na superfície nem pelo fundo do mar,
  se estivesse,  os peixes já o teriam achado.”
Então reuni  os maiores cientistas do mundo
  e juntos  projetamos uma grande nave espacial,
  que era uma  versão ainda mais moderna
  daquela outra  onde voou meu amigo Carl.
  Você, porém,  estava sempre além do próximo asteroide,
  velejando pelo  cosmos em seu barco sideral,
  ou no escuro  da noite eterna, perfeitamente imóvel,
  fingindo ser  uma estrela ou um vaga-lume.
  Foi o  comandante Kirk, em sua Enterprise, quem disse,
  “O que diabos  buscam pelo espaço?
  Ora, se  alguém como ele realmente existisse,
  nós já  teríamos catalogado em nossa rede.”
Pé ante pé,  por esta trilha de contos e histórias,
  eu procurei  por ti...
Rodei por  todos os mundos e todos os caminhos,
  me aventurei  por tenebrosas masmorras
  e enfrentei o  bafo de labaredas de centenas de dragões.
  Foi somente  após morrer no último jogo,
  e passar toda  a madrugada imaginando como seria
  o meu próximo  personagem,
  que  finalmente percebi:
  Você não é,  afinal, como a donzela em perigo,
  aprisionada na  Terrível Caverna do Grande Sono,
  e nem mesmo  como a espada encantada presa na rocha,
  a espera de  um nobre rei para empunhá-la;
  você é mais  do que todos os tesouros desta grande aventura,
  você é a  própria aventura,
  o herói e o  vilão,
  e todas as  histórias
  e todos os  contos
  e todos os  rolamentos de dados.
raph’14
***
Crédito da imagem: Larry Elmore
Marcadores: espiritualidade, fantasia, misticismo, poesia, poesia (111-120), Role Playing Games
 Textos para Reflexão
Textos para Reflexão

 
						 
						 
						 
						 
						 
						 
						 
						 
						 
						 
						 
						
5 comentários:
Boa!
Li escutando isso: https://www.youtube.com/watch?v=F_lw-n_sok8
:D
Grato!
Faz sentido!
:)
Abs!
raph
Parabéns poeta! Tbm já vi o "Peregrino" de relance, quando olhando no "espelho da alma" deixei de ver a mim e minhas projeções e vi, de relance, o meu próprio coração, pulsando em tudo, vibrando em todos, pois meu coração não era só meu coração, mas o coração do mundo... E quando as coisas parecem não fazer sentido, quando o jogo parece perdido e monótono, simplesmente volto o "olho da minha mente" a esse "Coração Sagrado" e digo: "sou tua, máscara! Faça teu teatro e guie-me em teu enredo!" e assim posso vê-lo em cada momento, em cada coisa, ser ou acontecimento, posso vê-lo em tudo, até em mim mesmo, mesmo sem merecimento algum...
E, nesse momento, não é mais necessário rolar dado algum :)
Muito bonito Raph, gostei bastante!
Obrigado por compartilhar!
Abraço.
Postar um comentário
Toda reflexão é bem-vinda:
 Voltar a Home