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1.12.16

A iluminação é um caminho

Eu já não me interesso mais. Rafael Arrais se tornou desimportante, transbordou para olhares alheios, de transeuntes e andarilhos, de toda a gente que passa, dos que se hospedam aqui por alguns dias, algumas vidas, ou dos que somente acenam da estrada, e até dos que sequer me viram.

Não me interessa ser visto, mas ver. Contemplar as pétalas douradas que pairam pelo ar, deslizando suavemente, viajantes das copas das alturas, capazes de embelezar as raízes mais grotescas.

Não que meus bosques também não escondam monstros ocultos nas folhagens, e abominações a se esgueirar no lodo dos lagos e no fundo das cavernas. Mas eu já não me interesso mais.

Me interessa mesmo é perceber até onde se aventura essa luz que vem do Alto, e reflete em pequenos espelhos, perpassando olhares e sorrisos e lágrimas. Todo homem e toda mulher é um espelho. Cada poema, cada conjunto de cascas deste sentimento antigo, nada disso é realmente meu: me interessa a reflexão da luz, Rafael Arrais se tornou desimportante.

Não me interessa ser visto, mas ver. Já singrei por este mundo muitas e muitas vezes, trafegando dentre olhares que nada veem, nada sentem, nada imaginam... Já sangrei por dentro e cheguei a crer que a Criação não tinha mais salvação. Mas tudo isso perdeu a importância no momento em que saí de mim, em que transbordei, em que sangrei e gargalhei e dancei com o Tudo...

Um dia acreditei que entraríamos no céu de mãos dadas, mas agora, vendo toda esta cena do Alto, creio que chegaremos dançando e cantando, celebrando a Alvorada, e é precisamente esta música que irá atrair a todos os demais. A sua melodia e a sua luz ecoará em todos os territórios, e vencerá até mesmo os seres mais acinzentados e entediados. Me interessa é ouvir esta canção de chamamento! Vem, seja você um idólatra ou adorador do fogo, vem assim mesmo...

É verdade que a iluminação é um caminho, não um ponto de chegada. Nesta estrada há muitas vidas e muitas noites, é certo, mas também há muitos archotes a indicar a próxima estalagem, muitos faróis a indicar a próxima ilha. Me interessa é esta procissão galáctica. Não sou o guia de ninguém, somente o mensageiro.

Eu já não me interesso mais. E de tanto me desinteressar de mim, acabei rodopiando junto com tudo o que vibra, tudo o que jamais esteve parado, nem sequer por um piscar de olhos. E foi precisamente aqui, nesta dança em turbilhão, neste movimento eterno em direção a Fonte, é que cheguei a estas palavras:

Rafael Arrais, você que é todo o amor do mundo, você que é o Uno em Tudo, o centro de gravidade deste giro, diga: Eu sou você.


raph’16’A.’.A.’.SG

***

Nota: Este texto trata essencialmente sobre aquilo que nos conecta a todos numa imensa rede de almas. Você pode muito bem ler este texto substituindo o nome "Rafael Arrais" pelo seu próprio nome, não faz diferença, ele apenas chegou por mim.

Crédito da imagem: Irmãos Hildebrandt (Lothlorien)

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2 comentários:

Blogger Rato Saltador disse...

Gratidão mais uma vez pelo espelhamento, caro!

E bela escolha de imagem, sempre vi Lothlorien como uma das melhores representações do refúgio perfeito dentro da ficção. (Talvez perdendo apenas para Valfenda)

Pois que sigamos dançando e cantando, e que sejamos merecedores da hospitalidade dos elfos!

1/12/16 13:02  
Blogger raph disse...

Valeu Saltador!

A referência a Lothlorien tb veio porque estava andando com um amigo no bairro do Paraíso, em SP, onde fui para o Simpósio de Hermetismo, e ele comparou a queda das pétalas de flores amarelas a Lothlorien (é um bairro cheio de árvores frondosas nalgumas calçadas, tb perto do Parque do Ibirapuera).

Foi um insight mais para aquela história de que "não é o mundo que muda, mas a sua visão dele" :)

Namastê.

1/12/16 14:40  

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