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20.1.17

Platão e a reencarnação

Texto retirado de As Leis, a última e mais longa obra de Platão, que ele nos deixou inacabada. Tradução de Edson Bini. Os comentários ao final são meus:

No que tange todas essas matérias [de punição por homicídios voluntários, devemos somar] aquela história em que muitos acreditam quando a ouvem dos lábios daqueles que seriamente narram tais coisas em suas celebrações dos mistérios [1] - que a punição para tais atos criminosos (assassinatos) é acertada junto a Hades [2] e que aqueles que retornam novamente à Terra [3] serão constrangidos a saldar a pena natural - cada culpado a mesma, ou seja, o castigo que fez sofrer a sua vítima [4] - e que sua vida sobre a Terra terminará necessariamente num destino semelhante nas mãos de um outro ser humano (trecho da pág. 380, Livro IX, na edição da Edipro) [5].

***

[1] Quando faleceu, aproximadamente em 348 a.C., Platão ainda escrevia este livro. Ao citar "os mistérios", ele se refere sobretudo aos chamados Mistérios de Elêusis e ao Orfismo, que formavam as doutrinas esotéricas mais difundidas na antiga Grécia. É muito provável que Platão tenha participado pessoalmente de tais cultos, e há quem diga que ele chegou a visitar o Egito para estudar a terra de sua origem. Seja como for, o que fica claro é que ele se refere, séculos antes de Cristo, a doutrinas que mesmo para a sua época pareciam ser muito mais antigas.

[2] Hades ("O Invisível"), deus grego que governa o submundo e julga os mortos. Ao contrário do inferno cristão, o equivalente helênico não é eterno, como veremos a seguir.

[3] A doutrina da reencarnação, muito mais antiga do que a da ressurreição, já existia no Oriente há milênios quando Platão nasceu. Os estudiosos de sua obra, no entanto, dizem que essa doutrina penetrou na Grécia através de Pitágoras. Em todo caso, o que fica claro no relato platônico é que a alma de um ser humano vai ao Hades, recebe sua pena, e retorna novamente à Terra necessariamente como um novo ser humano. Ou seja: não somente o inferno helênico não seria eterno, como necessariamente a reencarnação ocorreria somente na mesma espécie.

[4] Por ser uma crença tão antiga, a reencarnação tem muitas interpretações. Há muitos espiritualistas que, como eu, não creem que ela siga necessariamente o sistema do "olho por olho, dente por dente". Eu já falei sobre isso nas minhas Reflexões sobre a reencarnação.

[5] O objetivo deste post não é impor ou evangelizar crença alguma adiante, apenas servir como um "lembrete histórico" de como a doutrina da reencarnação é não somente muito antiga, como era tratada com seriedade por muitos dos maiores pensadores da antiguidade. De fato, foi preciso muito tempo para que parte do Ocidente passasse a "desacreditar" nela. Como sabemos, no Oriente ela é em grande parte aceita até hoje.

Crédito da imagem: Google Image Search

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