Os dias e as letras
Os dias e as letras são tudo que nos restam.
Pronuncie alto as vogais de seu coração,
não se preocupe como ecoam na imensidão
ou como são compreendidas pela multidão;
neste longo caminho dentre mercados barulhentos
e desertos do ser,
decerto haverão andarilhos
capazes de lhe compreender.
Não se aflija se não encontrou papel para suas letras,
que toda poesia surge primeiro na alma;
e lá, desde sempre, ficou anotada
nos Anais dos Arcanjos.
Não se angustie pelos dias perdidos,
que todo o tempo do mundo
é guardado aqui, na ampulheta
deste exato momento.
Os dias e as letras são tudo o que nos restam,
mas nem mesmo eles poderão ser usados na estalagem da montanha,
de onde se contempla a eternidade
no café da manhã.
Não, ó andarilho, a única moeda que teremos então
é a única que fica, a única que passa:
o amor de todos os seus dias,
o amor em todas as letras deixadas.
Não é preciso morrer para ver o Taverneiro.
Em realidade lhes digo
que ele tem lhes acenado pela beira da estrada
desde há muito, e anunciado o menu
das delícias de sua estalagem
pela música dos pássaros,
o baile das brisas,
e a dança dos torvelinhos de poeira.
Iniciados e não iniciados,
poetas e cientistas,
sábios e vagabundos,
foram todos convidados...
Mas quão poucos, quão poucos
tiveram olhos para ver!
raph'17
***
Crédito da imagem: Google Image Search/alphacoders.com
Marcadores: arte, espiritualidade, existência, poesia, poesia (141-150), tempo
2 comentários:
Olho por toda a estrada e não consigo enxergar.
Saber não é sentir e só se sabe realmente depois que se sente(?!).
Tudo o que tenho, vez ou outra, é um vislumbre, mas isto não é suficiente.
Ver a luz solar através de uma fresta não é o mesmo que contemplar o dia.
Um instante de voo de pássaro para então voltar a rastejar pela terra fria.
Mas ao menos esses lampejos são um passo avante no caminho.
***
Os versos da primeira estrofe, eu sinto que são de você para você, Raph.
A segunda, em especial, está me fazendo refletir. :)
É isso, somos acostumados a pensar na iluminação como uma espécie de "chegada ao Céu", mas hoje penso que ela é mais como os lampejos, insights e inspirações repentinas do caminho, como um chamamento, um incentivo para continuarmos adiante. Por isso também creio que o caminho só vem a se tornar cada vez mais iluminado e recompensador, passo a passo.
E nada disto é para ser dito, mas pelo menos temos a poesia!
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