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13.12.17

Traduzindo o hermetismo, parte 1

Sempre soube que ao longo do meu projeto de traduções de grandes obras em domínio público eu eventualmente chegaria ao Caibalion, mas confesso que me surpreendeu que um livro tão essencial para o estudo do ocultismo e do espiritualismo em geral tenha até hoje basicamente só uma única tradução para o português [1], a de Rosabis Camaysar para a Editora Pensamento, que provavelmente foi a versão lida pela grande maioria daqueles que já conhecem a obra, inclusive eu. Mas, não somente isso, como até hoje não temos uma única versão em e-book do livro, nem mesmo da própria Pensamento.

Parece que estavam todos esperando pela minha tradução, e se for o caso, informo que ela já está a caminho, e deve ser lançada no início de 2018 tanto em e-book (na Amazon) quanto na versão impressa (pelo Clube de Autores, e quiçá também pela própria Amazon, aguardem novidades!).

Como eu tenho estado, justamente, bem ocupado com o trabalho de tradução, pensei em usar o início dela para preencher alguns posts do blog, mais ou menos como fiz quando estive traduzindo o Bhagavad Gita. Portanto, segue abaixo, e nos próximos posts desta pequena série, os trechos iniciais da minha tradução do Caibalion, a obra essencial para quem quer conhecer o hermetismo.

Rafael Arrais

***

Introdução

Nós temos grande prazer em trazer à atenção dos estudantes e investigadores das Doutrinas Secretas esta pequena obra baseada nos Ensinamentos Herméticos do mundo antigo. Há tão poucos escritos acerca de tal assunto, apesar das inúmeras referências aos Ensinamentos em diversas obras do ocultismo, que muitos sinceros buscadores das Verdades Arcanas irão, sem dúvida, apreciar com carinho este volume.

O propósito desta obra não é a enunciação de nenhuma filosofia ou doutrina em especial, mas sim o de ofertar aos estudantes uma exposição da Verdade que servirá de reconciliação para muitos dos pedaços separados do conhecimento oculto que eles podem ter adquirido, mas que por vezes se parecem como que opostos uns dos outros, e terminam por desencorajar e desanimar aqueles que estão no início do caminho. Nossa intenção não é erguer um novo Templo do Conhecimento, mas deixar nas mãos do estudante a Chave-Mestra com a qual ele mesmo poderá abrir muitas portas internas no Templo do Mistério cujos portais ele já adentrou.

Não há porção dos ensinamentos ocultos existentes no mundo que foi tão bem guardada quanto os fragmentos dos Ensinamentos Herméticos que chegaram até nós através das dezenas de séculos que se passaram desde que viveu entre nós o seu grande fundador, Hermes Trimegisto, o “escriba dos deuses”, que residiu no antigo Egito nos dias em que a atual raça humana estava ainda em sua infância. Contemporâneo de Abraão e, se forem verdadeiras as lendas, um instrutor deste venerável sábio, Hermes foi, e ainda é, o Grande Sol Central do Ocultismo, cujos raios serviram de iluminação para incontáveis ensinamentos que foram disseminados desde o seu tempo. Todos os ensinamentos mais básicos e fundamentais embutidos nos conhecimentos esotéricos de cada etnia humana podem ser traçados de volta a Hermes. Mesmo os preceitos ancestrais da Índia sem dúvida têm suas raízes firmes nos Ensinamentos Herméticos originais.

Saindo da terra do rio Ganges, muitos ocultistas de grande conhecimento peregrinaram até alcançar o Egito, e se prostraram aos pés do Mestre. Foi dele que eles obtiveram a Chave-Mestra que explicou e reconciliou suas visões divergentes, e assim a Doutrina Secreta foi estabelecida em bases sólidas. De outros territórios também vieram os avançados no caminho, que da mesma forma reconheceram Hermes como o Mestre dos Mestres, e a sua influência era tamanha que apesar dos desvios do caminho pela parte das centúrias de instrutores de terras tão diversas, ainda há como se rastrear uma certa semelhança e correspondência por detrás das diversas e por vezes divergentes teorias aceitas e ensinadas pelos ocultistas de diferentes culturas e países até os dias atuais. O estudante de Religiões Comparadas terá condições de perceber a influência dos Ensinamentos Herméticos em cada religião digna do nome hoje conhecida entre os seres humanos, seja ela uma religião já morta ou ainda em pleno vigor no transcorrer de nosso próprio tempo. Há sempre uma certa Correspondência entre elas, apesar das aparências contraditórias, e os Ensinamentos Herméticos atuam como o Grande Reconciliador.

A grande obra da vida de Hermes parece ter se inclinado na direção de plantar uma grandiosa Semente da Verdade que desde então brotou e floresceu em inúmeras formas as mais estranhas, pois que ele não quis estabelecer uma mera escola de filosofia destinada a enredar o pensamento humano. No entanto, de qualquer forma, as verdades originais que ele ensinou foram mantidas intactas em toda a sua antiga pureza pelos poucos seres que, em cada época, ao recusarem um grande número de estudantes e discípulos pouco desenvolvidos, seguiram os preceitos herméticos e guardaram tais verdades para aqueles poucos realmente preparados para as compreender e dominar.

» Continua com a parte final da Introdução

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[1] Ao menos entre as versões de editoras brasileiras não esgotadas ou fora de tiragem, que eu saiba há somente esta mesmo.

Crédito da imagem: Aarón Blanco Tejedor/unsplash

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