A psicanálise ainda é necessária?
O mundo moderno nos faz questionar a necessidade de terapia. Afinal, com os avanços da biologia do comportamento, a descoberta das influências químicas sobre o nosso humor, poderíamos trocar anos de análise por um medicamento receitado pelo psiquiatra.
Os tempos modernos exigem também agilidade na solução dos problemas. Não temos tempo para investigar suas causas. Precisamos de uma técnica eficiente, rápida e barata, para logo nos sentirmos funcionando bem.
Será que a psicanálise ainda é necessária nesse mundo? A resposta é sim, mais do que nunca. Há um engano perverso em acreditar que se pode curar-se de um envenenamento ingerindo mais veneno, mas assim agem aqueles que esperam da racionalidade moderna a saída para sofrimentos que são eminentemente modernos.
Por trás da demanda de solução rápida está a própria ansiedade, que sem repensá-la nunca se poderá estar em paz com nada.
Dos comprimidos de felicidade esperam-se mudanças sem responsabilização, como se o destino sempre dependesse de alguém ou algo que não si próprio.
Sócrates havia dito que uma vida sem reflexão é uma vida que não merece ser vivida. Pois parece que aceitamos que, na demanda de praticidade do mundo moderno, em que cada app do seu celular faz o trabalho duro de cem homens, não temos mais por que refletir. Sobretudo refletir sobre nós mesmos.
É preciso reconhecer que o padecimento nos diz outra coisa. Há mais da vida que uma existência irreconhecível, arrastada por um tempo cotidiano incontrolado, em que o contentamento se resume a ansiedade de qual será nosso próximo consumo.
Se alguns pensam monótono, deitar-se no divã do psicanalista resiste hoje como uma oportunidade de aventura para aqueles que ainda ousam desbravar a vida.
Resta algo de místico da psicanálise: o psicanalista como iniciado em sua própria análise sobre os segredos e paradoxos do desejo, e que agora está disposto a receber um neófito para auxiliá-lo em sua jornada pessoal. Há uma sabedoria que se transmite na experiência, que está para além de cursos e livros.
Contra todas as demandas modernas que nos dizem “não pense, apenas faça”, a psicanálise nos convida a refletir sobre a nossa estética existencial. Nosso lugar, escolhas, gozos e perspectivas. Fazendo valer o discurso socrático, é tomar o caminho de uma vida que vale a pena a ser vivida.
Igor Teo é psicanalista e escritor. Para saber mais acesse o seu site pessoal.
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Crédito da imagem: Nine Köpfer/Unsplash
Marcadores: Colunista: Igor Teo, colunistas, existência, psicanálise, psicologia, Sócrates
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