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20.9.23

O pão que um demônio amassou

Diz o Padeiro como fazer pão:
jogue a farinha numa vasilha
e vá adicionando água aos poucos;
então trabalhe a massa com as mãos
acariciando-a enquanto ainda está mole.

Aqui o ingrediente mais essencial
é o tempo!

Dizem que Deus também nos fez assim:
nos pegou da terra mole
e acariciou, acariciou, acariciou,
até que surgissem homens e mulheres,
cada um único na Criação.

Mas faltou dizer em que tempo
isso se deu; e também responder:
“E Deus por acaso tem mão?”

Seja como for, não vale ter pressa
na feitura do pão. Pois que, ao fim,
é esta massa que vai ao forno
arder, arder e arder,
até dourar.

Após dourado, cada pão é o que é,
e devemos agradecer pelo pão de cada dia,
seja ele da massa que for,
ou mesmo o pão
que um demônio amassou.

Pois se saímos da terra mole inacabados,
há que se ter alguém para nos socar,
e socar, e socar, e socar,
até que fiquemos assim,
bem amassados,
prontos para ir ao forno.

E daí, quem sabe, possamos concordar
com o Padeiro: o tempo é, de fato,
absolutamente essencial
para que cada pão-alma
seja dourado.


raph'23

(inspirado por trecho da peça Seco, do grupo teatral Fulano di Tal, em Campo Grande/MS)

***

Crédito da imagem: Annie Spratt/Unsplash

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1 comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Muito bom

17/11/23 18:41  

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