Existe algo

Existe algo, e não nada:
eu não preciso de mais do que isso.
Ainda que nossa vida seja uma insignificância,
um pequeno milagre
que fez do inorgânico algo orgânico
nas profundezas de um oceano primordial
deste planetinha a girar em torno de uma estrela
na periferia de uma entre trilhões de galáxias,
ainda assim somos algo,
e não nada.
Ainda que realmente não tenhamos a decisão final,
ainda que nossos desejos, vontades e consciência
sejam mero devaneio de alguém que sonha desperto,
e acredita que segura as rédeas
do próprio sonho,
ainda assim sonhamos,
ainda assim somos algo,
e não nada.
Ainda que todos esses anjos e demônios
sejam mero fruto da imaginação;
ainda que uns digam que Deus é a cauda do elefante,
e outros, que é a tromba,
e outros, que são as orelhas, as presas, as patas,
ainda assim, imaginados ou não,
anjos, demônios e elefantes são algo,
e não nada.
Portanto, meu amigo,
eu sou da filosofia de que há esta única certeza,
e nenhuma outra:
eu não preciso de mais do que isso.
E ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
não temerei mal algum,
pois que algo está comigo,
e eu mesmo sou formado por algo,
e eu mesmo, quando já não for mais “eu”,
ainda serei algo.
E, para ser bem franco,
até mesmo o vale, a sombra e a morte
são algo, e não nada.
“Algo”: alguma coisa indeterminada;
qualquer coisa;
todas as coisas.
Portanto, meu amigo,
se você me acompanhou até aqui,
deve ter percebido que precisamos consertar
o início do poema...
Existe algo:
eu não preciso de mais do que isso;
pois não preciso negar
aquilo que não existe, existiu ou existirá.
raph'25
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Crédito da imagem: Photos by Beks/unsplash
Marcadores: Deus, existência, nada, poesia, poesia (171-180)
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