Desvios na estrada
Há quem diga que toda nossa história, todo o passado e futuro por vir no espaço-tempo, está já determinado. Como uma estrada a qual todos os obstáculos já foram postos, aquele que conhecesse a posição de todas as partículas do Universo em um determinado momento (como o fez o Demônio de Laplace), poderia prever com exatidão o desenrolar delas, e consequentemente, o futuro exato de todas as coisas.
Ora, e o que seria isso senão a onisciência divina? A grande totalidade dos que acreditam em Deus aceitam de bom grado que ele é onisciente, e que nada, sequer um fio de cabelo nosso que cai, está livre de seu conhecimento. Quanto menos a nossa própria consciência está livre do olhar de Deus... Portanto, como algumas teorias físicas sugerem (para saber mais consultar o livro "O Tecido do Cosmo", de Brian Greene), o espaço-tempo poderia sim estar todo definido, tanto em espaço como em tempo, e todo o desenrolar do tempo, que não necessariamente passa, mas que percebemos como algo que vai do passado para o futuro, estaria definido como um filme.
Nesse filme, seríamos nós apenas atores "coadjuvantes", seguindo um roteiro divino ao qual não temos a possibilidade de alterar nem uma vírgula sequer? Será que cada decisão que tomamos e tomaremos em nossas vidas foi na verdade determinada por um "Mestre do Bonecos" universal... Enfim, seríamos apenas "fantoches" nas mãos desse Senhor?
Ora, nessa história eu acredito que teríamos algumas "opções", como ocorre nos livros-jogo ou Role Playing Games (jogos de interpretação), em que o leitor escolhe o caminho à seguir na história lida, ou os personagens da peça teatral escolhem por si próprios como lidar com os desafios do roteiro... Afinal, isso em nada implicaria a anulação do conceito de onisciência divina.
Deus a tudo pode ver e sabe de nossos anseios e escolhas antes mesmos de serem tomados, porém, onde pressupõe-se que ele interfere nessas decisões?
Foi criado um mundo, um espaço-tempo, um Universo, acima de tudo inteligente, ordenado e, ainda que ainda não consigamos ver totalmente, perfeito. Um sistema perfeito não precisa de remendos, de intervenções divinas para qualquer tipo de "reparo no script ou roteiro". A criação não é uma série televisiva que depende de audiência, e que pode ser alterada a bel-prazer por roteiristas esquizofrênicos para que possa dar um "pico" no próximo feriado... Deus não interfere, mas da eternidade, de onde está e onde não há nem tempo, nem espaço, nem espaço-tempo, ele se "movimenta" e emana-se a si mesmo para todo o cosmos. Em cada partícula do Universo há a impressão digital de Deus, e se pelo lado material elas podem ter um destino pré-determinado, no lado espiritual essa partículas estão antes a serviço do lapidar das consicências, das almas que evoluem à partir de suas próprias escolhas.
Não que fôssemos inteiramente livres. Nós decidimos sem dúvida, porque temos consciência de fazer tais escolhas, de existir... Mas decidimos à partir do que nos é dado. Temos uma estrada à seguir, e por mais que uns caiam em buracos lamacentos e outros consigam pegar desvios e atalhos, ninguém, absolutamente ninguém, pode sair dessa estrada.
No entanto, muitos sábios do passado dedicaram suas vidas a estudar essa estrada, a conhecer as curvas vindouras e mapear todos os buracos que já abocanharam homens... Estudaram anos à fio e nos passaram senão um mapa, ao menos um guia de como percorrer esse caminho. Seja no Bhagavad Gita, no Livro do Caminho Perfeito, na Bíblia, no Livro dos Espíritos, muitos sábios vieram em nosso auxílio para tornar nossa via até a perfeição mais curta e o menos dolorosa possível.
Uns acatam tais conselhos e procuram conhecer a si mesmos, outros não, e estão ainda sujeitos a tantos percalços e armadilhas dessa estrada, as mesmas que tem afetado milhares de homens em milhares de anos de homens... No entanto, por mais que a estrada possa ser sofrida, ela não nos tira a nossa mais preciosa capacidade, que é ao mesmo tempo nosso maior presente, e nosso maior peso:
Marcadores: espiritualidade, livre-arbítrio
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