O reino de Asoka, parte 1
Esta é a história de Asoka, e de como um homem teve de abdicar de seu vasto reino para finalmente conquistar algo de real [1]...
Asoka era um dos filhos do imperador Bindusara, e neto do grande Chandragupta Maurya, primeiro grande imperador da Índia, que surgiu do norte com um bando de tribos e acabou conquistando quase todo o território indiano moderno, no que ficou conhecido pela história com o Grande Império Máuria, que durou de 322 a 185 a.C.
O avô de Asoka conviveu com o neto durante sua infância, e muitos diziam que se tratava do seu neto favorito: “possuí um grande intelecto e habilidade em combate incomparável, com o tempo e a sabedoria se tornará o imperador ideal”. Chandragupta sabia do que estava falando, havia batalhado a vida toda, conquistado cada palmo de terra ao custo de inúmeras vidas e rios de sangue. No fim da vida, este peso sobre as costas era cobrado pela sabedoria que adquirira ao entrar em contato com a religião dos jainistas. Que paradoxo: o homem responsável por tanta matança, em seu íntimo sabia que estava condenado pela própria consciência, agora aberta para as idéias mais profundas do Jainismo.
Foi em uma de suas batalhas que Chandragupta desapareceu para se tornar um monge jainista, deixando para trás apenas a sua espada fincada nas planícies de arroz e sangue. O avô de Asoka havia lhe alertado que ninguém deveria carregar tal espada, amaldiçoada por anos e anos de matanças. Mas Asoka ignorou o aviso: ao avistar a espada do avô, guardou-a antes que outros de seus irmãos e meio-irmãos mais velhos a vissem. Este foi o início do desejo de Asoka de se tornar, ele também, um grande imperador!
Susima era um dos irmãos mais velhos de Asoka, apenas mais um preocupado em ser o escolhido do pai para se tornar o próximo imperador do Grande Império Máuria. Em seu jogo de política e influência, conseguiu sorrateiramente convencer o pai a enviar Asoka para as províncias mais perigosas do reino, onde haveria mais chances de perder uma batalha contra os rebeldes e invasores, e ser definitivamente eliminado da disputa. Asoka, entretanto, repelia os invasores com táticas de batalha cuidadosamente planejadas, e acalmava e persuadia os rebeldes com seu carisma e sua oratória épica, sempre prometendo a todos que comandaria o império até conquistar todas as terras conhecidas...
Apesar do pai, Bindusara, não ter Asoka como seu preferido, com o tempo e os contínuos sucessos de suas campanhas, todos os ministros do imperador sabiam que a escolha mais sensata seria Asoka, e não seu irmão Susima. A sorte de Asoka brilhou no dia em que seu pai morreu repentinamente, tossindo sangue, enquanto seu irmão Susima estava distante da capital do império. Todos os ministros se apressaram em coroar Asoka o imperador, ainda que todos esperassem o retorno de Susima e algum conflito em relação à questão. “Pena que Susima vá regressar e tomar o reino de volta, Asoka seria um imperador bem melhor” – refletiam a maioria dos ministros.
Mas não foi o que ocorreu – assim que tomou o poder, brandiu a espada de seu avô, Chandragupta, e bradou a todos: “eu sou o escolhido dos deuses, eles desceram a terra e me trouxeram a espada de meu avô, eu serei o imperador do mundo!” – Não houve quem duvidasse que Asoka realmente desejava conquistar todo o mundo. E o retorno de seu irmão era apenas o primeiro obstáculo que se interpunha entre ele e seu grande objetivo.
Asoka então mandou construir o primeiro de seus poços infernais na entrada da capital: era um buraco fundo o suficiente para que toda a guarda pessoal de seu irmão caísse, ao galopar de volta descuidadamente. No interior, carvão em brasa. Susima e toda a sua guarda tiveram uma morte agonizante em meio ao fogo e as estocadas de lança dos soldados do império, agora leais a Asoka. Os ministros que não concordaram com a forma brutal com que Asoka eliminou sua concorrência direta ao trono foram banidos ou executados impiedosamente. Nascia um novo Asoka, um homem determinado, sombrio, sanguinário, que não mediria esforços até que seu desejo fosse concretizado:
Asoka o Cruel queria dominar todas as terras abarcadas pelo horizonte!
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[1] Conto baseado na vida de Asoka o Grande, imperador Máuria de 269 a 232 a.C., e figura mítica do Budismo. Não necessariamente absolutamente fiel a história.
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Crédito da ilustração: Divilgação do filme Asoka (2001).
Marcadores: Asoka, budismo, contos, contos (1-20), guerra, história, Índia, jainismo
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