Poemas vivos
A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
Manuel Bandeira (poema "Preparação para a morte")
***
A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais.
Atribuído a Sto. Agostinho
***
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais:
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte.
Fernando Pessoa (poema "Iniciação")
***
Sob a impressão de tais poemas, espero conseguir extrair do Alto a inspiração necessária para a próxima série de artigos – Quase Morte...
Crédito da foto: vribeiro
Marcadores: autores selecionados, autores selecionados (61-70), espiritualidade, existência, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, morte, poesia, poesia (61-70), Sto. Agostinho
7 comentários:
Estou ansioso para a nova série de artigos. :)
Estou ansioso para a nova série de artigos. :) [2]
Belas poesias! Gostei mais da primeira, do Bandeira.
Abraço!
Opa pessoal, legal estarem ansiosos, então as poesias prepararam bem o caminho hehe...
Mas estou viajando a trabalho, só devo escrever a primeira parte quando retornar no início da semana que vem.
Abs!
raph
Ja faz um tempo que vocé publicou um poema de Niestzche que falavas de um Deus desconhecido,gostaria que me desse a fonte para eu analizar pois eu pretendo postar na comunidade de agnosticos.
Oi Lucas,
Veja os comentários deste post:
http://textosparareflexao.blogspot.com/2008/01/3-poemas.html
Mas vale lembrar que, de certa forma, este poema é até mesmo profundamente agnóstico - embora certamente esteja bem distante de ser ateu.
Abs
raph
Ola ralph...
Gosto imenso do 2º poema dirigido ao stº Agostinho, será que me consegues arranjar outro do mesmo género? é importantíssimo !
Obrigado
Olá Telma,
Eu gostaria de encontrar outros poemas como este de Sto. Agostinho, mas infelizmente só achei esse mesmo (até hoje).
Ao que tudo indica, seria uma psicografia, portanto sequer podemos dizer com certeza que foi dele. Como muitos devem saber, Sto. Agostinho foi um dos principais espíritos a responder as perguntas de Alan Kardec em seus livros, talvez essa poesia tenha sido psicografada ainda na época, mas não sei ao certo.
Para quem não acredita, o jeito é tratar da poesia como "autoria anônima"... Em todo caso acho que Sto. Agostinho não estava muito preocupado com isso.
Abs
raph
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