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13.11.10

Isto não é o nada, parte 2

continuando da parte 1

Está na hora de eu dar minha opinião sobre tudo isso... Apesar de admirar o pensamento de todos os autores citados acima – incluindo dos que discordo –, penso que ainda há uma forma de resumir estas questões da unificação fundamental, do surgimento da vida e do paradoxo de ainda não termos encontrado nenhum sinal de vida inteligente neste Cosmos tão grande.

Este é o problema, o paradoxo, e também a solução – ele é grande, muito grande, talvez não muito diferente, na prática, do infinito. Quando os cientistas descobriram a radiação de fundo cósmica, uma das maiores comprovações experimentais da teoria do Big Bang, também se depararam com um grande problema: como explicar como ela era tão homogênea?

Isto foi resolvido pela teoria do físico Alan Guth. A sua idéia é que, na aurora do tempo, o espaço inflou com uma velocidade absurdamente grande. Dois pontos que, inicialmente, eram vizinhos, durante a expansão ultra-rápida se distanciaram mais rapidamente do que a velocidade da luz. Para que o mecanismo funcionasse e pudesse explicar a geometria cósmica e a homogeneidade da matéria, a expansão tinha de ser exponencialmente rápida. Por isso, sua teoria ficou conhecida como Inflação Cósmica. Atualmente esta teoria é aceita pela grande maioria dos cientistas.

Uma das conseqüências da Inflação é o conceito de horizonte cósmico... Sabemos que nada material viaja mais rápido do que a luz, entretanto, durante a Inflação, o próprio tecido do espaço-tempo “inflou” de forma mais rápida do que a luz! Isso significa que existe um horizonte até onde podemos enxergar o universo – e além dele há o “universo desconhecido”, além do alcance da luz do nosso lado, do nosso horizonte, como uma América que jamais poderá ser alcançada por Colombo.

Diante dessas informações, eu muitas vezes me pergunto, ou melhor, me vejo fazendo a seguinte pergunta aos cientistas: “Meus caros, que parte do infinito vocês não entenderam?”

Os cientistas procuram por agulhas no palheiro cósmico, e ao não encontrá-las ficam algo inquietos e angustiados... Para os que seguem a bíblia, como Heeren, isso só pode significar que Deus escolheu mesmo apenas aquele povo perdido num deserto da terceira pedra do Sol, na periferia de uma dentre trilhões de galáxias; Para os céticos desiludidos com a busca pela unificação na ciência, ou pela busca da “vida abundante” no Cosmos, isso só pode significar que somos um raríssimo acidente em meio a um universo caótico e hostil; Ainda para outros, talvez mais moderados, isso tão somente significa que o Cosmos é grande, realmente grande – mas quão grande?

É aí que o infinito entra para bagunçar com todas as teorias e crenças de tantas mentes brilhantes. O infinito não se equaciona, está além da matemática e talvez mesmo além de nossa racionalidade... Mesmo assim, ainda é possível tentar vislumbrá-lo pela lógica, tal qual arriscou o grande Benedito Espinosa.

Em sua “Ética” (Ed. Autêntica), Espinosa analisa a questão da criação, do “porque existe algo e não nada?”. Podem acusá-lo de ser mais um “sonhador da unidade fundamental de todas as coisas” – tal qual o faz Marcelo Gleiser com certa propriedade –, mas apenas acusar não basta: é preciso resolver a questão, é preciso encarar ao infinito face a face. E até hoje, que me desculpem os seguidores da bíblia e cientistas céticos, dentre todas as teorias acima citadas, somente ele avançou efetivamente nesta questão.

Se algo não surge do nada, nem mesmo flutuações quânticas no vácuo, nem mesmo um espaço vazio ou um pensamento, então há que existir algo de incriado, algo de eterno. Espinosa o chamou de Substância, “a Substância que não poderia criar a si mesma”... Ora, como sabemos que espaço e tempo estão intimamente conectados, falar em eternidade é falar em infinito.

Comparativamente, o núcleo de um átomo em relação à órbita de seus elétrons corresponderia a um pequeno inseto no centro de um estádio de futebol, uma mosca no meio do Maracanã. O resto é espaço vazio, ou preenchido por alguma parte dos 96% de matéria ou energia escura que não interagem com a luz e, portanto, jamais foram detectados pela ciência – postula-se sua existência pela observação do movimento das galáxias, na media em que falta bastante matéria para explicá-lo.

Seguindo nesse pensamento, sabemos que apenas em nosso horizonte cósmico existem mais estrelas (sóis como o nosso, cheias de planetas à volta) do que grãos de areia em todas as praias da Terra! E mesmo que nem uma única forma de vida exista em torno desses trilhões e trilhões de sóis, lembrem-se de que estamos falando apenas de nosso horizonte, de até onde nossa luz pode chegar. No “universo desconhecido” temos praticamente um infinito de possibilidades. É muito difícil afirmar qualquer coisa do tipo “não existe vida fora da Terra” ante à tal infinito.

Procuramos por agulhas num palheiro cósmico, mas não devemos esmorecer se a busca tem se mostrado árdua... Não devemos esmorecer ante o infinito, pois ele é tudo o que há, ele é a Substância que abarca a todos nós. Procuramos por versões conscientes dessa Substância, mas por vezes esquecemos que também somos formados por ela, que também estamos encharcados desse mar por todos os lados.

Por mais rara que seja a vida na Terra, ela não se compara à raridade da simples existência de tudo o que há. Como os 4% da matéria que interage com a luz, ou como a ínfima quantidade de elementos pesados que possibilitam a vida como a conhecemos em meio a um oceano de hélio e hidrogênio, somos tão raros quanto a própria Substância. E mesmo que sejamos poucos na Terra, nos confins de nosso horizonte cósmico e além, certamente seremos muitos – tantos quanto às estrelas em meio ao infinito.

Da próxima vez que se angustiarem com a escuridão da noite, com a idéia do nada e da morte vindoura, lembrem-se de que também temos tantos neurônios em nosso cérebro quanto estrelas no céu, lembrem-se de tudo isso que nos lembramos, e pensamos, e sentimos, e intuímos. Lembrem-se e afirmem para si mesmos:

Isto não é o nada.

***

Crédito das imagens: Silent World, de Michael Kenna (os textos são meus)

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6 comentários:

Anonymous Ronaud disse...

Brilhante texto!!!

"É muito difícil afirmar qualquer coisa do tipo “não existe vida fora da Terra” ante à tal infinito." Foi mais ou menos o que me ocorreu após a leitura da primeira parte do texto. Como podem afirmar que "não existe vida fora da terra" se nem conseguimos pisar em Marte ainda (mandar robozinhos não vale). E os trilhões e trilhões de outros planetas? A existência de vida extraterrestre é quase uma questão de bom senso rs.

Há uma citação que diz: "talvez a mente seja pequena demais para entender a mente". Realmente vejo que a realidade possui um nível profundo de funcionamento que a razão não alcança. É como comparar o nível de consciência de um cachorro e um homem. Para o bicho, o universo se constitui daquele mundinho de cerca de 10 metros em volta dele. A visão de mundo (ou o faro dele rs) não vai além daquilo. Já o homem, já fez muito de pisar na lua, criar telescópios, descobrir que é feito de átomos, ou quarks, ou cordas. Mas me parece que chegaram num ponto da compreensão do universo do qual não vão conseguir passar. Ou talvez para conseguir isso, terão que não mais olhar para fora do planeta, e sim, para dentro de si mesmos.

Quem sabe somos como "cachorros" um pouco mais evoluídos, que conseguiram enxergar um grande universo em volta de si mas não conseguem perceber que ele é "muuuito" maior. O infinito e a eternidade dos quais você falou no texto são esse universo maior que nos escapa a percepção.

Parabéns pelo ótimo texto!

13/11/10 19:53  
Blogger raph disse...

Oi Ronaud, obrigado pelo excelente comentário, vejo que chegamos praticamente a mesma conclusão :)

O universo não é somente grande, como tem partes que estão além da própria luz (horizonte cósmico)... E ainda existem cientistas que consideram a possibilidade da existência de infinitos universos em um multiverso infinito - em suma, é Infinito mesmo!

Abs
raph

14/11/10 19:16  
Blogger Sergio Junior disse...

Raph,

Penso que nosso universo deva ser um celeiro de vida. O simples fato de não termos encontrado vida fora do nosso planeta vem de encontro com a nossa dificuldade/impossibilidade de explorar com minúcia outros planetas. Sondas a Marte, foi o máximo que conseguimos nesse sentido e ainda assim parece que o robô enviado nada mais seja que um revolvedor de terra, analisando matéria inerte. Um fato recente que causou certo alvoroço na comunidade científica foi a descoberta de água na Lua, sendo que até então a nossa Lua era uma rocha seca sem graça. Este simples fato da Lua mostra que uma idéia (Lua sem água) pode sofrer uma reviravolta com outra análise, uma nova experiência ou um novo ângulo de visão.
Uma sonda com homens, braços e dedos humanos em Marte pode ter o mesmo efeito que tivemos na Lua. Só que achando vida ou evidências dela, com uma análise mais detalhada, que só nós podemos realizar, como arqueólogos em sítios de fósseis.
Outra questão: e se estamos procurando vida como a conhecemos quando deveríamos estar atrás de vida como poderia existir? Vida composta por outros elementos químicos que não os nossos, enfim.

Como o amigo escreveu acima, complemento: nossa visão persegue apenas frangos girando numa imensa TV e cachorro.

14/11/10 23:41  
Blogger raph disse...

Pois é Sergio, apenas em Gliese 581, uma estrela a meros 20 anos luz (outras galáxias estão a milhares, milhões e até bilhões de anos luz), nossa ciência atual já identificou o segundo planeta que promete ser bem parecido com a Terra.

Acredito que achar comprovação de vida extraterrestre é uma questão de tempo - não é a toa que já existe a astrobilogia -, mas realmente encontrar vida inteligente, do tipo que poderia se comunicar, por exemplo, com emissão de ondas de rádio, talvez ainda demore bastante mesmo...

Abs
raph

15/11/10 16:17  
Anonymous Franco-Atirador disse...

Em outras palavras, nosso universo é um atormentadoramente grande buraco negro, pois nem mesmo a luz pode escapar.

Encontraram o segundo planeta? Há uma lista deles. Levam o nome Kepler alguma coisa, pois é o nome do telescópio que os localiza.

Eu tenho absoluta certeza de que há vida fora da Terra. É como foi dito acima, é apenas uma questão de bom senso. Se uma pessoa não leva em conta essa possibilidade, pode apostar que não faz a mínima - ou faz uma vaga - idéia do tamanho do universo e noções de ciência.

Preciso ver sua sessão de UFOs para ver o que esse site diz a respeito. Mas nesse post você ignora os mistérios da construções antigas, as descrições sumérias do sistema solar e inclusive da composição do planeta. Talvez seja porque você não atribui isso à seres interestelares e sim à antigos estágios mais elevados de consciência humana (Atlântida, etc). Porém, a descrição Suméria me parece mais literal do que simbólica - como de costume em praticamente todas as religiões -, com detalhes de relacionamento entre os ets, parentescos, profissões, o objetivo de nos criar para minar ouro para seu planeta natal, além dos já mencionados detalhes do sistema solar. Sem contar outras evidências, que por TALVEZ (não sei a respeito da veracidade, mas parecem bem reais)serem de natureza duvidosa
não defendo tanto, mas certamente deve ser levada em consideração, como os infindáveis casos de ovnis, caso Roswell, fotos de pirâmides e estruturas e até mesmo florestas em marte, lua... Enfim... acredito sim que o governo nos esconda tudo isso.

Pra mim, o universo é como em homens de preto, Star Wars, Dragon Ball Z: cheio de criaturas das mais diversas formas e personalidades e níveis intelectuais. Isso faz muito mais sentido, e traz muito mais glória à existência. É bem mais 'a cara' do TODO agir assim, afinal, o nome do jogo é experiência, pois que melhor forma de experienciar de todas as formas possíveis - aqui entenda-se não somente em termos de variabilidade de seres, mas também de multiversos com os mesmos seres cada um ramificando-se infinitamente em histórias diferentes - do que essa?

Lógico, essa é uma visão fantástica; mas o fantástico têm me feito muito mais sentido. Contudo, não descarto a possibilidade de os cientistas estarem viajando na maionese - como mencionado suavemente por Gleiser - ao proporem algumas teorias improváveis (no sentido de não se poder prová-las). Mas alguma coisa têm de ser feita, só assim caminharemos ruma a cada vez mais completa forma humana de ver o mundo.

31/8/12 14:39  
Blogger raph disse...

Oi Franco,

Realmente eu tendo a ver a ufologia mais como uma "migração espiritual" do que como uma migração física, embora em ambos os casos as informações possam ter trafegado entre "mundos distintos".

De todas as maravilhas das civilizações antigas, a que mais me intriga são as pirâmides submersas do Japão, muito mais do que qualquer outro grupo de pirâmides, pois elas são milhares de anos mais antigas do que as pirâmides mais antigas, mesmo se formos considerar as egípcias. E o Japão é uma ilha que teoricamente deveria ter sido colonizada muito depois do Egito, da Ásia e até das Américas (pois na pré-história era possível atravessar da Ásia para a América do Norte a pé).

Claro que existem inúmeros outros mistérios, mas essas pirâmides submersas são na minha opinião o Grande Mistério até agora :)

Abs
raph

31/8/12 16:35  

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