Café com poesia
Nem sempre gostei de café
Mas nos últimos tempos tenho apreciado
Xícaras após o desjejum
Não sei que tempos...
Às vezes, amiga, nada é o que é,
E tudo que temos ansiado
Reduz-se a tantos e tantos momentos
Que se tornam apenas um
Pegue as atendentes, por exemplo:
Algumas são mais carinhosas
Mas outras tiram um expresso sem igual
Às vezes, quando quero conversar,
Não me importo do café estar aguado
Mas noutras, quero apenas o melhor aroma,
O melhor café –
A nada dou a devida atenção
Nada é o que é...
Nem sempre gostei de café
Mas num dia li nalgum lugar que fazia bem
E desde então a cada bebericada
Tenho me sentido mais poético!
Mas, amiga, você que é poeta deve saber...
Na verdade o café ajuda a evitar infarto
Em quem está farto é de viver
E, mesmo, assim, há apenas uma chance,
Uma porcentagem
Uma incerta indefinição:
Da vida se fartar, ou infartar,
Eis a questão...
Eu não sei em que medida o café me ajudou
A ser mais poeta
Com qual matemática
Tem me auxiliado a tocar n’alma alheia
Mas sei que nunca fui tão poeta
Nunca fui tão eu mesmo
Quanto quando estava contigo
E o mundo todo estava alheio...
Nem sempre gostei de café
Mas será que foi ele quem me tornou mais poeta
Ou fui eu quem, acreditando nisso,
Não me importei de expor-me em verso?
Sei que hoje, amiga, uns tem me chamado assim:
De poeta
De conhecedor d’alma alheia
Mas como posso conhecer a alma de alguém
Senão da mesma forma que te conheci
E a trouxe para dentro de mim mesmo?
Se eu sou poeta, isso também é por sua causa,
E de todos os seus versos que adentraram minh’alma
E de todas as conversas sem sentido
E de todas as xícaras de café que não tomamos
Pois a poesia, como o amor, não faz sentido,
Nem se mede em porcentagens
Mas, de alguma forma sabemos,
Bem lá no fundo
Que ela é tudo que é
Para Flávia...
raph'11
***
Crédito da foto: Kerrick James/Corbis
Marcadores: amizade, Flávia Lopes, poesia, poesia (71-80), saudade
4 comentários:
"Mas sei que nunca fui tão poeta
Nunca fui tão eu mesmo
Quanto quando estava contigo
E o mundo todo estava alheio..."
Lindo Raph, me emocionei. E sinto o mesmo: era incrível como ela nos fazia sentirmo-nos poetas...
Seu poema foi de uma singeleza e verdade indescritível. A descrição mais pura da saudades que já li.
Obrigada!
Oi Nath,
Obrigado... Você é provavelmente a última "amiga em comum" que tenho com a Flavinha, por isso sempre sinto essa necessidade de te enviar quaisquer poemas que escrevo pensando nela :)
Bjs
raph
Olá Raph,
Muito bonito seu poema cafeinado.
Você não me conhece, mas nossa admiração mútua pela Flavinha e o Flávio é algo que nos une.
Outro dia sonhei com ela. Ela estava feliz e com um sorriso maroto escondido embaixo do boné.
Opa, que legal, obrigado :)
Eu tenho certa dificildade em lembrar dos meus sonhos há muitos anos, mas lembro de ter sonhado indiretamente com ela ainda em 2006, e alguém no sonho me falou que ela estava "se recuperando bem".
Abs
raph
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