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7.5.12

Filhos do Sol

Aqui, por águas frias
Na noite escura
Em meu pequeno barco solto ao vento
Sigo em busca de pequenas alegrias...
Da alma, fugir a secura
Encontrar-te nalgum pensamento:
“Eis me aqui, Pai, perdido ao mar
Eis me aqui, o teu rebento
A aflorar”

Faz tempo que embarquei
Do último Farol no qual morei
Desde então, segui na escuridão...
De tua antiga luz, restou-me a lua
A refletir toda a imensidão
Todo o amor do teu Oceano:
“Eis me aqui, Pai, navegando ao mar
Encharcado em meio ao teu coração”

Na longa viagem
Ao próximo Farol
Encontrei alguns outros barcos
Saudosos de tu, ó Sol

Nalguns deles me ancorei...
Na mais terrível tempestade
Orávamos sussurrantes ao rei
Evocávamos a tu, ó semelhante
O que vive além de toda idade

Assim que mesmo quando as ondas tristes
Ameaçavam quebrar o casco
E nos arrastar a margem
Nós o víamos na superfície:
“Eis nos aqui, Pai, juntos na viagem da vida
Eis nos aqui, tua própria imagem
Tua própria luz feita ser
A trafegar pelo Oceano do Mundo
Que é ti
Eis nos aqui, os Filhos do Sol
A caminho do próximo Farol...”


raph’12’A.’.A.’.

***

Crédito da imagem: Anônimo

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6 comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Belo poema!!! Trata bem do paradoxo da individualidade que emerge do mar, simbolizada pela barca e de sua busca pelo Sol. Meu único problema com a barca é que ela vira cárcere...
Já percebeu amigo, que o sol que agita o mar junto com o ar/vento (ruach), que separa as gotas (uma individualidade, assim como a barca no mar), e que as evapora, é o mesmo que precipita essas gotas, quando elas sobem felizes com o ar, na esperança de encontrar ao sol?! Na queda, a água floresce a vida (faz o trabalho do sol), faz nova jornada e volta a ser mar, só para prosseguir em seu círculo, alimentado pela busca ao sol. O sol é o maestro de todo esse ciclo de águas e se manifesta em todas essas fases, sem ser isso. O sol é a força que gira o ciclo, sem se contaminar com ele...
Argh, que o Sol só insiste em atuar pq é ator e não personagem! Para ele, tudo não passa de encenação e brinquedo!Mas é impossível uma personagem viver sem o ator, assim como a nós vivermos sem o sol. Até tento me afundar em vinte-mil-leguas submarinas nos abismos oceanicos, mas mesmo lá, o sol queima no peito e me faz subir! Eita sol dramático que não me deixa dormir e vive mexendo nas minhas cordinhas de marionete! Que vive encenando dramas para a personagem cansada! Apesar disso, tudo o que posso querer sentir é o calor/amor do sol e é nos dramas que ele encena, que o sinto em mim... eis o drama da individualidade que seu poema me lembrou... Desculpe dar um tom de sombra num poema tão "solar", mas é que o sol, as vezes, me deixa bravo por me lembrar que só posso senti-lo deixando-o atuar em mim e para isso, preciso ser barca, preciso ser cárcere, preciso sair do mar... Vamos nessa, em busca de mais um farol, em busca de representar o sol nesse drama, neste "circo armado", chamado de vida...

7/5/12 14:43  
Anonymous Anônimo disse...

Bem, minha consciencia me fez me arrepender do comentário acima, logo após faze-lo. Como não posso apagá-lo, vai a correção feita por meus devaneios, após escrever algo tão pessimista, maculando a beleza do sol:

Encenação crística-dionisíaca

Meu peito arde em dor,
confusão inebriante,
estupor em não compreender
as chamas que me queimam.
Os pregos em minhas mãos,
porto das cordas
com as quais me move,
rasgam minha carne...
Dai-me mais de si!
Venha ser carne como eu!
Doeu-me sua lança em mim,
espada flamejante
a cortar-me as cordas.
Ainda resta a Cruz...
Você, então, me seduz
a encará-la com firmeza,
como carneiro selvagem
a galopar nos montes.
Voce está aqui?!
Além das cordas,
voce está aqui?!
Uma imagem de mim
diante de mim
e no fim percebo
que o ator encena
sua própria dor
através de mim.
Voce está aqui
e me diz para encenar consigo,
como amigo,
não mais personagem.
Percebo que sou sua imagem,
sua voz, sua carne,
seu cárcere, seu amor,
veículo de seu espírito,
que encena a si mesmo.
Depois, dor, imcompreensão
no vazio de mim...
Não vejo mais nada,
por que me abandonou?
_ Não vê, porque agora,
eu sou você!

Baco Diphues

obs: não cheguei lá, é só uma meditação em um raio de sol. Meditar em uma esfera não é o mesmo que adentrar nela.
Abraços

7/5/12 15:32  
Blogger raph disse...

Bem, ante os seus belos e profundos comentários, o que posso fazer é lembrar de outro poeta que, por ser as vezes tão corajoso em encarar a própria sombra, a própria dor, terminou por ser conhecido como um filósofo - e, pelos mais desavisados, como "o filósofo que matou Deus", o que não poderia estar mais distante da realidade:

A oração ao deus desconhecido

Abs!
raph

7/5/12 17:00  
Anonymous Anônimo disse...

Muito bom o texto e obrigado pelas palavras. Para mim, já passou o tempo de esperar por Deus e adora-lo, ou de ter medo do demonio... o demonio já somos, não aceitemos "vir a ser" nada menos que Deus, nossa potencialidade, desde o princípio (ao menos, ser Ele em nós). Como dito pelos cristãos, que costumam não prestar atenção em seus próprios ensinamentos, "que não seja mais eu que viva, mas que seja Cristo em mim". Bem, fazer o que... a visão deles sobre "cristo" é bem diferente da minha... um dia, o deus por trás da máscara há de dar o ar de sua graça, nesse teatro. Até lá, atuemos e navguemos com nossos barquinhos... abraços

7/5/12 19:31  
Blogger Luiz Antonio disse...

A foto é outro poema. Vejam a solidão do navegante diante da enigmática grandeza da lua...
Muito lido. Adorei.

9/5/12 18:37  
Blogger raph disse...

Pois é, linda mesmo a imagem... Eu salvei ela de algum post do Facebook, mas como não tinha o crédito, continuo sem saber quem fez...

9/5/12 21:17  

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