Ó, asno meu!
 
Um dia  encontrei-me com um antigo mestre
que trilha o  Caminho há tanto tempo
que já não  sabe se segue para leste ou oeste...
Disse-lhe  assim:
  “Mestre  Chuang, agora já sei da dualidade das coisas;
  o Yin passivo  e o Yang ativo, como a mulher e o homem,
  a terra e a  chuva, o caminho da mão esquerda
  e o da mão  direita, o bem e o mal!”
E ele, que  não chamava a si mesmo de mestre,
  levantou-se  da sombra da macieira onde descansava
  e sorriu  enquanto me massacrava:
  “Ó, asno meu!  De onde tirou tamanha imbecilidade?”
Eu, é claro,  pedi que me ensinasse de sua maioridade,
  e ele me  ensinou sem dizer uma palavra...
Trepou de um  meio pulo na macieira
  e com sua mão  esquerda retirou uma maçã da beira;
  depois saltou  de volta e se acomodou recostado ao tronco
  e comeu do  fruto meio tonto,
  saboreando  lentamente cada pequena parte
  enquanto me  olhava com arte
  (seus olhos  continuavam a sorrir).
Depois de  deixar somente um pálido fiapo de maçã,
  retirou com a  direita cada uma de suas pequenas sementes
  e depois  correu até o outro monte
  (eu o segui,  quase a mostrar os dentes).
Lá, do alto  do outro monte, arremessou cada semente numa direção,
  e foi como se  algum vento houvesse me soprado nos ouvidos:
  “Cada semente  é um universo; Quando isto tudo começou?
  Quando isto  tudo termina? Qual nome lhe daremos?
  Imensidão!”
Então  compreendi que até mesmo a mais frágil macieira
  ainda tem  suas raízes encravadas na Terra;
  no Céu pela  vida é capaz de buscar
  e uma doce  maçã nos ofertar.
***
Antes de  ir-me, Mestre Chuang ainda me ensinou assim:
  “Olá asno,  hoje irei lhe demonstrar o segredo dos dois caminhos,
  o da mão  direita e o da mão esquerda”.
  E ele  simplesmente aproximou ambas as mãos,
  quase até que  encostassem (mas sem encostar) e disse:
  “Elas não se  encostam, e no entanto uma sabe da outra;
  Ó asno meu, é  este o segredo do magnetismo dos opostos –
  Não há opostos!”
E esta foi  uma lição de que me lembro até hoje,
  sempre que  saboreio uma nova maçã.
raph’13
***
Crédito da foto: Anders Overgaard
Marcadores: espiritualidade, humor, poesia, poesia (101-110), Tao Te Ching
 Textos para Reflexão
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2 comentários:
Peço licença para publicar este texto no meu blog. Fazendo a devida referência ao Textos para Reflexão e ao autor.
Excelente reflexão e ensinamento!
Grato!
Abraços Allan!
Oi Allan,
Obrigado. Tudo o que está nesse blog e é de minha autoria, salvo nota no próprio post, pode ser compartilhado livremente para fins não comerciais, desde que citada a fonte :)
Abs
raph
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