Um mergulho no gnosticismo
O próximo projeto para as Edições Textos para Reflexão é um mergulho nas águas profundas do gnosticismo.
Em Os Evangelhos de Tomé e Maria, lhes trarei não somente a transcrição destes dois evangelhos ditos apócrifos, como também toda a série de contros O mensageiro dos céus especialmente revisada para a ocasião, além de diversos outros contos e artigos do blog que foram inspirados direta ou indiretamente no gnosticismo cristão. Também iremos contar, provavelmente, com um prefácio especial de um amigo que entende muito mais de gnosticismo do que eu.
A seguir, lhes trago um trecho do capítulo com a transcrição do Evangelho de Tomé. Temos abaixo a introdução e os três primeiros versículos em sua versão final:
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Introdução
O Evangelho de Tomé é uma coletânea de pronunciamentos de um “Jesus sábio”, embora sua sabedoria também possa ser vista como messiânica, fazendo com que a obra seja mais religiosa do que puramente filosófica.
A autoria deste evangelho é atribuída ao apóstolo Judas Tomé Dídimo. Tanto o aramaico Tau’ma (Tomé) quanto o grego Didymos (Dídimo) significam “gêmeo”. Na Igreja Síria, Judas Tomé Dídimo era conhecido como o irmão de Jesus que fundou as igrejas do Oriente, especialmente a de Edessa. Tradições orais antigas também afirmam que ele teria viajado até a Índia e entrado em contato com o budismo e o hinduísmo.
Outras escrituras cristãs das igrejas orientais também têm sido atribuídas ao mesmo apóstolo, como Os Atos de Tomé; e também, provavelmente, O Livro de Tomé, que foi descoberto como parte da Biblioteca de Nag Hammadi.
Quanto ao seu gênero literário, O Evangelho de Tomé se assemelha muito a uma das fontes dos evangelhos canônicos que compõe o Novo Testamento, particularmente a chamada Fonte Sinóptica (“Fonte Q”), que foi usada tanto em Mateus quanto em Lucas. Por outro lado, ele também contém alguns pronunciamentos antigos completamente diferentes, que remetem a João (trechos diversos), Marcos (4:21-25) e mesmo a Coríntios I (2:9).
Além disso, os pronunciamentos sobre a futura vinda do Filho do Homem, característicos da Fonte Sinóptica, não são vistos. Neste evangelho Jesus tampouco é crucificado, demonstrando que ele tem uma relação ao mesmo tempo próxima e absolutamente independente do Novo Testamento. Em sua forma mais original, pode pertencer a última metade do século I d.C. (a mesma data provável, portanto, da Fonte Sinóptica).
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“Muito tempo antes de os textos da Biblioteca de Nag Hammadi e do Códice Gnóstico de Berlim terem sido escritos, havia sabedoria, hokhmah, Sofia. Uma das expressões mais primitivas da religião no mundo mediterrâneo era a que se referia à sabedoria, e a sabedoria mostrou-se ser uma das mais duradouras. Em todos os textos egípcios, mesopotâmicos, judaicos, greco-romanos, cristãos e islâmicos, a sabedoria ocupa um lugar central, e na tradição do Evangelho de Tomé, Jesus é apresentado como um homem de sabedoria.”
Marvin Meyer, em Mistérios gnósticos: as novas descobertas (Ed. Pensamento).
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“No Evangelho de Tomé não aparece o menor indício de uma hierarquia eclesiástica nem hegemonia clerical. O cristianismo original era uma fraternidade espiritual, uma espécie de democracia crística, e não uma monarquia hierárquica [...] Não há referência à transubstanciação nem ao poder de perdoar pecados, conferido por Jesus aos seus discípulos. Tudo visa unicamente ao despertamento do poder espiritual no homem.”
Huberto Rohden, em O Quinto Evangelho (Ed. Martin Claret).
O Evangelho de Tomé
Estas são as palavras secretas que Jesus, o Vivo, disse, e que Judas Tomé, o Dídimo, escreveu.
[1]
E ele disse: Aquele que souber como interpretar estas palavras, não experimentará a morte.
[2]
Disse Jesus: Deixem o buscador continuar buscando até que encontre.
Quando encontrar, ficará perturbado. Quando se perturbar, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo.
[3]
Disse Jesus: Se aqueles que os guiam disserem, “Vejam, o Reino está no céu”, então os pássaros os precederão. Se lhe disserem, “Ele está no mar”, então os peixes os precederão.
Mas certamente o Reino está dentro, e também fora, de vocês mesmos. Se o reconhecerem, serão reconhecidos, e saberão que são filhos do Pai Vivo.
Mas se não o reconhecerem, então estarão na pobreza, serão a pobreza.
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