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27.7.09

Reflexões sobre a reencarnação, parte 2

continuando da parte 1...

A Lei de Causa e Efeito, em filosofia, parte da definição de que "nenhum efeito é quantitativamente maior e/ou qualitativamente superior à causa". Segundo as doutrinas espiritualistas, é um conceito que determina que todo ato moral ocasiona uma resposta da natureza, que mais cedo ou mais tarde "retornará" a quem o efetuou - ou, em outras palavras, "cada um colhe o que plantou".

Pela dor ou pelo amor

Eu dizia que a reencarnação não opera a esmo, e de fato a compreensão da Lei de Causa e Efeito é a essência da compreensão da reencarnação. Primeiramente, é preciso diferenciar a Lei de Causa e Efeito do conceito de Karma: enquanto que normalmente o conceito de Karma sugere uma dívida a ser resgatada, a Lei de Causa e Efeito nos apresenta a idéia de que o futuro depende das ações e decisões do presente. Uma causa positiva gera uma efeito positivo, enquanto que uma causa negativa gera um efeito igualmente negativo. Ou seja, a compreensão do Karma vem muitas vezes associada a conceitos como "punição divina" ou "destino", como se só houvesse uma forma de purificar nosso espírito: pelo sofrimento e pela quitação de dívidas morais pregressas. Já a Lei de Causa e Efeito é mais abrangente e, principalmente, mais fluida: somos nós, e somente nós, os construtores de nosso próprio destino. Nada está escrito em pedra, nenhum evento infortuno é absolutamente inevitável, pois pela mesma via com que contraimos débitos para com a harmonia de nossa própria consciência, poderemos saldar com créditos. Evolui-se pela dor, isso é certo; Mas também evolui-se pelo amor, e isso depende de nossa vontade.

Acredito que seja mais simples ilustrar tal conceito com uma alegoria. Não cabe a nós julgar o porque do sofrimento alheio, disso só mesmo sabe o próprio ser que sofre, e o Deus onisciente, mas como se trata de uma alegoria, queiram desculpar-me.

Imaginemos um padre inquisidor na época medieval que, por sua crença cega, tenha enviado inúmeras pessoas inocentes para a morte na fogueira, por acusações de "bruxaria"... Certamente este espírito que acreditava ser "extremamente religioso" há de ter tido uma inesquecível desilusão quando compreendeu o resultado de seus atos com a consciência plena, seja ainda antes de desencarnar, seja após a morte. Ignoremos o tempo que tal espírito tenha passado em confusão mental ante a própria nebulosidade de sua consciência; Passemos os séculos adiante e imaginemos que tal espírito, após muito vagar a esmo pela escuridão de sua alma, tenha refletido e compreendido a extensão macabra de seus atos pregressos, e neste momento esteja por decidir (certamente com o auxílio de espíritos superiores em moral) quais eventos deseja vivenciar em sua próxima encarnação, com o objetivo de se depurar, de purificar as chagas de sua alma o mais breve possível...

Eis que os espíritos superiores lhe oferecem duas opções (lembremos que isto é tão somente uma alegoria): morrer em um incêndio, da mesma forma que matou tantos inocentes nos séculos passados, ou ser um médico da Cruz Vermelha, passando a vida a atender queimados em guerras e nas regiões mais inóspitas e pobres do planeta, sem no entanto padecer de uma queimadura sequer durante toda uma vida... O que você escolheria? Morrer queimado, porém sem muito esforço ou responsabilidade pela própria melhora, ou passar toda uma vida praticando caridade, convivendo com o sofrimento alheio e auxiliando da melhor forma possível?

Obviamente que qualquer homem são escolheria a segunda opção. O problema, no entanto, é que não basta escolher simplesmente, é preciso arregaçar as mangas e efetivamente praticar a caridade. Oh, e quantos, quantos de nós temos falhados miseravelmente em cumprir aquilo que prometemos aos seres de luz. Em tão somente amar e tomar as rédeas de nossa vida, enquanto tantos outros se limitam a passar pela vida como um barco de papel a flutuar pelo mar. Mas eis que, quando somos postos à prova, preferimos a acomodação, o fascínio de nosso próprio ego, as promessas vãs da matéria que nada mais é do que fumaça condensada, a transformar-se eternamente.

Os estóicos diziam que devíamos nos preocupar somente com aquilo que podemos modificar. Não podemos mudar as leis naturais nem o ânimo dos homens cegos, mas podemos compreender as leis naturais e agir à seu favor - e podemos servir de auxílio para todos aqueles que seguem ainda cegos pelas estradas milenares. Mas os estóicos sabiam: nosso problema é com nós mesmos, é com nossa própria consciência. Nós somos nosso próprio mal, e não poderia ser de outra forma...

Certamente a linguagem poética e alegórica não irá agradar aqueles que desejam, meticulosamente, avaliar a Lei de Causa e Efeito como quem calcula a velocidade de um objeto arremessado pelo ar. Mas não é pela razão pura que a compreenderemos: necessitamos do auxílio da intuição... Será que podemos perceber, em nossa consciência, quando tomamos atitudes que vão contra a harmonia da natureza? Pratiquem! Será que podemos aprender, tal qual a criança no jardim de infância, a fazer caridade, talvez simplesmente por dar o primeiro passo, e visitar algum asilo ou pediatria? Pratiquem! Será que podemos olhar para trás e, analisando as escolhas de nossa própria vida, refletir sobre aquelas que nos trouxeram as recompensas realmente profundas, a sabedoria verdadeira? Pratiquem!

Já foi dito que não há lei além de faz o que tu queres, e que sob a vontade, o amor é a lei... Nada poderia resumir melhor, talvez, a Lei de Causa e Efeito. Não se trata de ajustar as contas com um deus-que-pune-pecados, nem tampouco sofrer egoisticamente circundando a própria culpa, mas sim ter a coragem, o ânimo e a vontade para se colocar novamente de pé e encarar, frente a frente, as próprias faltas. E tomar o remédio amargo para a melhora. Amargo, sim, mas que não deixa de ser remédio. Escolher, na medida em que conquista cada vez mais sabedoria, o caminho do amor e da caridade, e não o da dor e da tragédia. Mas sobretudo compreender que, por bem ou por mal, pela dor ou pelo amor, caminha-se sempre a frente!

À seguir, irei discorrer sobre algumas peculiaridades da crença na reencarnação, como por exemplo "não acreditar em idade"... Será que somos realmente reencarnacionistas?

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Crédito da foto: jackosak

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