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20.12.11

Citações (1)

Este é o primeiro post de uma série com citações, nos moldes da série com frases, com a diferença que as citações são um pouco maiores, e geralmente já terão aparecido anteriormente na página do Textos para Reflexão no Facebook. Quem nos acompanha por lá talvez já tenha cruzado com algumas das citações abaixo:


Acredita-se que o monoteísmo surgiu com o judaísmo, mas se considerarmos que os mitos de doutrinas religiosas ancestrais já compreendiam um “deus criador supremo”, e “deuses secundários inferiores”, pode-se dizer que toda religião teísta já nasceu monoteísta (exceto por algumas poucas que consideravam dois deuses supremos antagônicos, “o bem contra o mal”). Podemos também nos lembrar do estoico Epicteto, que se referia a Zeus como “Deus dos deuses”.

No caso do catolicismo, por exemplo, os anjos e santos vieram preencher a lacuna dos “deuses secundários”. Daí a facilidade com que os escravos africanos que chegaram ao Brasil “adotaram” a religião: cada santo correspondendo a um orixá, muito simples!

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"Mas, quando você sugere que lá está somente esse único Deus, a uma altura inalcançável acima da humanidade, e que não há nada no meio, você está limitando e simplificando o assunto." (Alan Moore)

Exato: o problema não é nem o Monoteísmo, pois mesmo os estóicos já chamavam a Zeus de "Deus dos deuses", o problema é acreditar que esse tal Deus centraliza todas as experiências religiosas e sempre que sentimos qualquer espécie de intuição, é algo que vem diretamente de Deus, e não de algum intermediário.
Claro, de certa forma tudo vem realmente de Deus, e uma substância não pode criar a si mesma, mas ainda estamos um tanto distantes de dialogar com ele face a face. No meio do caminho, tentemos ver seu reflexo nas pedras, nos galhos secos, na superfície das águas...

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Toda grande religião tem sua vertente mística e verdadeiramente esotérica. No Islã, o sufismo; No cristianismo, os gnósticos e martinistas; No judaísmo, a Cabala (kabbalah), etc. Como todos estes são geralmente mais religiosos que eclesiásticos, se preocupam muito mais em sua religação com Deus (religare) do que em ditar preceitos morais e/ou importunar os praticantes de outras religiões com tentativas de “evangelização forçada”; E tampouco se preocupam em participar de uma elite de “escolhidos por Deus”, pois que em todo o canto que olham veem a verdade: que só existe um Deus, e que ele preenche todo o Cosmos (incluindo nós mesmos).

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Na quarta cruzada, a Igreja investiu contra os cátaros (descendentes dos essênios e gnósticos). Em Béziers, tornou-se célebre o diálogo entre o comandante dos cruzados e o representante do papa: “Mas senhor, nesta cidade encontram-se vivendo em paz cristãos, judeus, árabes e cátaros. Como vamos saber quais são os inimigos?” - ao que a Igreja respondeu: “Matem todos; Deus escolherá os seus!”

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Dizem que o homem teme a morte, porém morre todo dia, e renasce toda manhã. E sua própria vida é algo em constante mutação, tanto celular quanto neuronal quanto espiritual: não somos os mesmos de 15 anos atrás, nenhuma célula é a mesma. Então talvez temamos deixar de existir, mas muitas de nossas preferências e características deixaram de existir, sem realmente terem se aniquilado por completo. Não brincamos mais as brincadeiras de criança, mas temos ainda, quem sabe, uma vaga ideia de como elas eram... Enfim, as personalidades mudam e morrem e renascem, mas as potencialidades caminham sempre a frente, quem sabe junto a seta do tempo: todo o inanimado se desorganizando, todo o animado se iluminando. Mas mesmo a existência precede a essência, realmente, pois que antes de todas as substâncias e todas as almas, havia apenas uma única substância incriada e tão eterna quanto tudo o mais... Há uma certa beleza em se pensar assim.

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O nada como possibilidade infinita, ou como um vazio a ser preenchido por algo, ou ainda um campo quântico ou o próprio tecido do espaço-tempo quando no estado de singularidade, é uma coisa - outra MUITO diferente é o nada absoluto, sem tempo, sem espaço, sem movimento, sem pensamento, sem essência: este não existe, jamais existiu e jamais poderá existir, visto que existe ALGO, e não nada.

Por isso se diz que "do nada, nada se cria", e também que "uma substância não pode criar a si mesma" - e daí se tira a existência de um Criador pela pura lógica (o que se opõe ao nada). Já definir como exatamente é esse Criador, bem, essa é a tarefa de nossas vidas, de nossas existências, e ela também tende ao infinito...

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Os milagres ocorrem, quase que sempre, nas pequenas coisas. E que são pequenas coisas? Tudo são pequenas coisas, tudo é milagre. E que é nossa vida, senão um conjunto de milagres a nos cruzar sem que nos apercebamos da parte mais ínfima? Viemos da Luz, de onde a Luz se originou dela mesma. Existimos para ver em parte, e quem sabe dia chegará que a vejamos face a face...

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Crédito da foto: Rick Chapman/Corbis

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2 comentários:

Anonymous Franco-Atirador disse...

Dizem que o nirvana é o estado de união com o criador, com o TODO. Buda e os outros iluminados, pelo que eu sei, não falaram muito sobre isso, talvez por ser difícil colocar nas nossas habituais cascas de sentimentos. Mas eu gostaria de partilhar uma visão que me incomoda:

Também concordo e me maravilho com essa questão de que conhecer o TODO é uma jornada infinita, portanto infinitamente entusiasmante. NO ENTANTO, se o nirvana for ISSO, está tudo acabado? demos final? já? OU, isso é na verdade uma conexão ainda maior - porém não abrange o todo -, um passo no degrau infinito da consciência, enfim, a iluminação?

Acredito na segunda. Mas o que me incomoda é a descrição desse estado, que nos leva a confundir que conheceremos o TODO - o que seria impossível na primeira visão.

Talvez O sentiremos melhor, mas não conheceremos a ponto de entendê-lO; O Grande Sistema Infinito. Oque me diz?

Abraço.

9/8/12 14:29  
Blogger raph disse...

Acho que o próprio Buda respondeu esta sua questão, que é bastante pertinente aliás...

Lembremos que Buda só passou a divulgar sua doutrina e caminhar pelo Oriente passando sua sabedoria adiante **após** ter alcançado o Nirvana. Ou seja, se ele houvesse apenas alcançado o Nirvana e tivesse ficado satisfeito com isso, achando que não teria mais nada que fazer no mundo, neste mundo, ninguém hoje saberia quem foi Buda.

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O Céu não é onde os anjos estão - eles só vão lá se reunir nos intervalos, quando não estão ocupados tentando convidar mais gente para lá :)

Abs
raph

9/8/12 18:40  

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