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5.4.12

Como capturar um gênio

Nesta divertida e estranhamente profunda palestra do TED, Elizabeth Gilbert, a celebrada autora do bestseller mundial "Comer, rezar, amar", nos traz um importante resumo do processo criativo humano.

A criatividade sempre foi um mistério: Todo artista que compreende de onde vem a maior parte de sua inspiração, sabe que o que importa é a informação passada adiante, a luz que veio e refletiu-se de alguma forma incerta. Quanto mais nos "intrometemos" entre a luz e quem a observa, mais corrompemos sua luminosidade. Borges chegava quase a se desculpar por ter sido através dele que seus textos chegaram, e não através de outro escritor – ele sabia, era tão somente o mensageiro.

Dentre outros exemplos curiosos (como o da poeta que precisava "correr como o diabo" atrás de papel e lápis antes que o "espírito da inspiração" passasse por ela e fosse atrás de algum outro poeta), Gilbert nos explica que foi somente após o Renascimento que nossa cultura ocidental passou a crer que a genialidade provinha do próprio artista, e de nada mais "fora" dele... Mas, na Antiguidade, todos sabiam que o grande artista, tal qual Sócrates e seu daemon, era tão somente o porta-voz de algo divino, inefável, eterno, que paira pelo ar, e nos abarca em toda a parte...

O gênio não é o artista (ou somente ele), mas as vezes conseguimos capturar algum passando junto a brisa:

***

» Veja também nossas reflexões sobre a criatividade: A ciência da inspiração

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6 comentários:

Blogger Alfredo Carvalho disse...

Teve uma vez que o Del Debbio postou no TdC uma paletra que o Alain de Bottom fez para o TED. Em certo ponto da palestra ele (Alain) fez uma referência a essa paletra da Elizabeth Gilbert. Fiquei curioso e assisti logo em seguida.
Excelente!

5/4/12 14:54  
Blogger raph disse...

Aquela palestra do de Bottom é muito boa também, mas como basicamente resumia os mesmos pontos elaborados em Religião para ateus, que eu já vinha falando aqui no blog na época, optei por não postar.

Vou deixar passar um tempinho e postar ela aqui, a essa altura já deve ter tradução em português também (na época que o MDD postou ainda não tinha)...

Abs
raph

5/4/12 15:16  
Anonymous Anônimo disse...

Muito bom. O problema é quando a "criatividade" não cala a boca. Talvez por isso eu tenha o vício em escrever. Só depois da "catarse" da escrita que "ela" me deixa em paz...

5/4/12 19:21  
Blogger Rato Saltador disse...

Para mim a palavra chave é gratidão! A inspiração pode vir de um lampejo divino ou da sublime dança elétrica dos neurônios dentro do cérebro, não importa. O que importa é que tudo que passa por você e se transforma em produto criativo provem de algo bem maior - de uma realidade muito mais ampla do que aquilo que você chama de "eu". Essa percepção é extremamente libertadora. É você olhar para o que escreveu ou produziu e dizer: "Isso não é meu, mas isso veio através de mim. Agradeço de todo o coração a quem quer que tenha me permitido receber está dádiva".

Muito grato ao Raph pelo post e a Elizabeth pela mensagem, veio em um momento BEM apropriado!

6/4/12 21:41  
Anonymous Petri disse...

Esses malandros que nos roubam momentos para dar inspiração são realmente matreiros, mas não gosto de tratá-los assim com distância no exterior da minha pessoa. São uma parte minha, uma parte de cada um.
Conheci pessoas que viviam com esses demônios deitados no colo enquanto resolviam contas matemáticas e outras que tinham a habilidade de acionar um dispositivo invisível e descarregar um torrente imprevista sobre a realidade a sua volta. E quando menos se espera, em uma viagem que não foi informada a ninguém, aquele diabrete (que é uma parte sua) te segue até longe, e sussurra palavras incríveis em alguém ao seu redor. Esse alguém podem ser aquelas pedras no canto que esperavam por anos para fazer isso e nem sabemos se ela se dará conta amanhã de como foi importante para o universo.

Abraço e muito obrigado
Petri

7/4/12 17:28  
Blogger raph disse...

É interessante como os dois comentários acima, do Rato Saltador e do Petri, ainda podem se complementar, se reconciliar: Claro que a inspiração precisa passar por dentro de nós, de nosso campo consciente, afinal é assim que a "capturamos"; Mas como nosso inconsciente é tão vasto e incompreendido, não seria nenhuma surpresa se descobríssemos que, afinal, a inspiração veio de alguma parte oculta dentro de nós mesmos. E o daemon, e o próprio Deus, também habite em nós, talvez tenha sempre estado lá...

Abs e obrigado pelos comentários reflexivos :)
raph

8/4/12 14:37  

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