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8.10.13

A enciclopédia de todas as mitologias

Você deve ter reparado que nunca escrevi uma resenha para algum livro em todos esses anos de blog. Geralmente prefiro postar trechos das obras com meus comentários acerca dela, no lugar de uma resenha mais abrangente. Vou abrir uma exceção para este caso em específico, pois nem se trata bem de um livro, daqueles pequeninos que você lê no metrô, mas de uma enciclopédia com 640 páginas, do tamanho de um livro de RPG (só que mais grossa e pesada que a maioria deles). Quem escreveu esse calhamaço, após muitos anos de pesquisa intensa, foi meu amigo: Marcelo Del Debbio.

Você pode estar pensando, “ah ele vai falar bem a beça do livro porque é do amigo dele”. Bem, primeiro, se eu não houvesse gostado da Enciclopédia de Mitologia, bastava não me dar ao trabalho de escrever esta resenha. Segundo, vocês hão de convir que fica difícil falar mal de uma obra com 7.200 verbetes, 994 ilustrações, e informações “dos principais deuses, anjos, demônios, monstros, personagens, heróis, criaturas, objetos mágicos, locais sagrados e rituais das mitologias grega, romana, hindu, celta, nórdica, assírio-babilônica, persa, africana, eslava, fenícia, etrusca, goética, asteca, maia, inca, nativo-americana, sul-americana, brasileira, japonesa, chinesa, medieval, bíblica, aborígene e muitas outras”.

Sim, o Del Debbio exagera mesmo. Mas tampouco estou aqui somente para tecer elogios a obra. Se você por acaso pretende abri-la na primeira página e ir lendo na sequência, é bem provável que se torne uma experiência maçante... Não é um livro para se ler do início ao fim, mas é, isto sim, uma das maiores enciclopédias de mitologia impressas do mundo e, sem a menor sombra de dúvida, a mais extensiva e detalhada na língua portuguesa. Mas, então, o que fazer com mais de 7 mil descrições de mitos?

Joseph Campbell dizia que o mito “é algo que não existe, mas que existe sempre”. Esta célebre frase nos passa um entendimento que não pode ser totalmente apreendido apenas pela leitura de palavras, mas não custa tentar: é que os mitos são nada mais que os fatos da alma humana encenados no cotidiano. Os séculos se passam e muitos deuses e heróis são imaginados, alguns exaltados e outros tantos esquecidos, alguns demonizados, outros amados, e alguns outros campeões de bilheteria nos cinemas, porém todos eles fazem parte de uma mesma história, uma mesma mitologia, o “monomito” da história humana.

Todos estes heróis que são chamados as grandes aventuras, que enfrentam dragões e monstros obscuros, que viajam até outros reinos desconhecidos e retornam vitoriosos, que salvam princesas e restauram o equilíbrio em mundos inteiros, todos eles se referem a nós, a você:

Você enfrentou aos demônios das cavernas de sua própria alma? Você resgatou sua princesa interior do charco de desejos desenfreados em que ela se encontrava presa? Você morreu para sua natureza animal? Você ressuscitou, após três ou sete dias, em uma encarnação mais humana? Você reconheceu, enfim, que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, e que cuidar da própria alma é e sempre será a maior delas?

Foi para tal, afinal, que tanto Gilgamesh quanto Osíris foram imaginados. Que tanto as pedras de Stonehenge quanto os moais de Ilha da Páscoa foram erguidos. Que tanto o Anjo do Senhor quanto Gandalf, o Cinzento, vieram bater a sua casa. A sua casa!

O que o Del Debbio nos traz, afinal, não é um livro para se ler de uma vez, do início ao fim. Seria inútil... A sua Enciclopédia me parece mais útil, preciosamente útil, como um guia de consulta para se ter sempre a mão (ou, pelo menos, na estante de casa). Um guia de consulta não exatamente sobre histórias lendárias de seres que nunca existiram além da imaginação humana, mas um guia para tudo o que a mente humana foi capaz de conceber em 6 mil anos de história documentada em símbolos. Se você acha que os mitos ancestrais são irrelevantes para a sua vida, enquanto é fã de quadrinhos, RPG ou da maior parte do cinema de Hollywood, pode ter certeza de que está profundamente equivocado.

» A Enciclopédia de Mitologia se encontra à venda, em nova edição, pela Daemon Editora

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Crédito da imagem: Marcelo Del Debbio (Enciclopédia de Mitologia)

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2 comentários:

Anonymous PeX disse...

A única crítica que eu tenho a fazer é que o livro não é capa-dura D':

9/10/13 01:41  
Anonymous Wilins disse...

Belo texto Rafh, Infelismente como voce cita acima as pessoas usam Iblis como uma forma de colocar os proprios erros delas nele,sendo que deviam se arrepender dos proprios erros e encarar seu proprio ego de frente para o espelho.

20/10/13 14:33  

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