O criacionismo de Spore
Em Setembro de 2008 o conceituado designer de jogos Will Wright realizou o projeto de sua vida: finalmente o jogo Spore era lançado. Will é conhecido por seus jogos de simulação, como Sim City, um simulador de administração de cidades que até o ex-prefeito do Rio, César Maia, jogava; ou The Sims, o jogo que "simula a vida real" e foi o grande responsável por uma legião de mulheres passar a se interessar por jogos de computador... Mas Spore foi algo muito mais ambicioso: um simulador do desenvolvimento de uma espécie de vida, desde os estágios celulares (em uma poça) até a conquista do espaço, após ter passado pelos estágios intermediários de criatura, tribo e civilização.
Não quero aqui analisar o jogo em si, que achei excelente (principalmente nas duas primeiras fases, geniais!), mas sim lembrar que foi lançado a poucos meses do ano em que a teoria de Darwin-Wallace para a evolução das espécies completa 150 anos, enquanto também comemora-se os 200 anos do nascimento de Charles Darwin. Ora, para os cientistas e céticos, nada mais oportuno do que se deleitar com um jogo tão educativo, e verificar que a ciência finalmente está chegando no "campo de visão" dos jovens, correto?
Nem tão depressa... Na verdade, muitos cientistas tem criticado Spore num ponto fundamental: por incrível que pareça, acaba por defender, de certa forma, o criacionismo, ou neo-criacionismo. Ora, sabemos que durante o jogo nossa célula vai evoluindo até virar peixe, depois uma espécie anfíbia, depois uma espécie que pode lembrar diversas outras conhecidas, de répteis a aves ou mamíferos, ou algo completamente novo e exótico... Isso porque é o jogador quem decide! É o jogador quem define como a espécie vai se desenvolvendo com seus "pontos de DNA". É simples identificar porque os cientistas céticos não gostaram muito da idéia: primeiro, não existem os tais "pontos de DNA", na verdade as espécies se desenvolveram pela seleção natural de mutações em seu próprio DNA ancestral - segundo, teoricamente não existe inteligência alguma por trás desse desenvolvimento das espécies. Será mesmo?
Segundo a Wikipedia nos fala sobre o Neocriacionismo:
"Apesar da predominância de correntes evolucionistas nos meios acadêmicos, alguns cientistas tornaram-se notados por defenderem o criacionismo clássico, que envolve a crença num criador. Os argumentos de pessoas pertencentes a comunidade científica em favor do criacionismo apontam para a organização e exatidão das leis naturais. Essa visão dá uma imagem que parece com aquela proposta por Isaac Newton, ao comparar o mundo a um mecanismo que evidencia um projeto inteligente e sobrenatural."
Ou seja, me parece irônico e pitoresco que exatamente no jogo eletrônico onde mais se investiu em estudos para que a ciência fosse corretamente retratada, tenhamos o velho dilema do Evolucionismo vs. Criacionismo... Porém, não seria o caso de nos perguntarmos se, em realidade, as coisas não sejam exatamente uma mistura das duas teorias? Será que antes não se complementam, antes de se exlcuir mutuamente?
De fato, a teoria de Darwin-Wallace nunca pretendeu explicar a origem da vida, apenas a forma pela qual ela se desenvolveu na Terra. Porém, mesmo lembrando que os elementos químicos que teoricamente possibilitaram o surgimento da vida no planeta tenham chegado aqui através de asteróides nômades, há que se perguntar - "mas e de onde exatamente vieram esses elementos?" - Pois ainda que toda a evolução das espécies na Terra seja fruto do código gerado por tais elementos, fica a questão de quem ou o que os criou, e se não teve um objetivo inteligente ou consciente. Afinal, todo efeito tem causa, e todo efeito que gera consciência teoricamente teve causa consciente. Lógica pura e simples.
Mas não temos provas: nem para o Evolucionismo (dentre os problemas podemos citar as grandes "lacunas" entre espécies de hominídeos, assim como o mistério do grande salto da consciência humana), nem para o Criacionismo (basta lembrar que "deus" ainda não desceu na Terra e nos informou de seus planos divinos, ou pelo menos não nos deixou nenhuma prova científica de que tenha feito isso). Então, só nos resta continuar jogando Spore, e ponderando sobre a grande questão... "Como você criaria o Universo?"
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Crédito da imagem: minha espécie no Spore
Marcadores: ciência, criacionismo, Darwin, evolução, Spore, videogames, Will Wright
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