O fogo de Prometeu, parte 3
O Sol é a estrela central do Sistema Solar. Todos os outros corpos do Sistema Solar, como planetas, asteroides, cometas e poeira, bem como todos os satélites associados a estes corpos, giram ao seu redor.
Sejamos como os girassóis
Poderemos então imaginar que, no final das contas, a fórmula sagrada de Einstein – E=MC² – é tão somente um arauto da destruição. Mas a mesma equação que produz a morte é essencial para a vida.
O universo é formado principalmente por elementos leves, como gases. Somente o hidrogênio representa cerca de 75% da massa detectada no espaço-tempo. Não fosse pelas reações nucleares nas fornalhas estelares, elementos pesados não existiriam, incluindo o carbono, no qual toda a vida na Terra é baseada.
Nas estrelas o que ocorre, no entanto, é a fusão nuclear, quando dois átomos se fundem e formam um outro núcleo de maior número atômico, liberando vasta energia e formando detritos, que são exatamente os elementos pesados. A fusão nuclear, apesar de produzir bem mais energia do que consome, só ocorre em ambientes com quantidades enormes de energia, como no calor das fornalhas estelares... Apesar de até hoje o homem não ter conseguido dominar este deus, é graças há fusão nuclear que existimos. Nós somos formados, literalmente, por poeira de estrelas, ou o que sobrou do choque atômico no fogo de Prometeu.
A Terra é a terceira pedra do Sol. Deve sua formação e manutenção quase que exclusivamente a esta estrela, que representa 99,86% da massa do Sistema Solar. Sua atração gravitacional, ou a curvatura que provoca no espaço-tempo, é a única coisa que nos impede de orbitar o vácuo cósmico, congelando na escuridão dentre as galáxias longínquas. A gravidade nunca nos falhou, e o Sol ainda nos auxiliará por bilhões de anos.
Desde a pré-história o homem já tem cultuado o Sol como um deus. O deus Invicto, que jamais perdeu a batalha contra a escuridão da noite... Os homens, entretanto, passam longe de terem sido os primeiros seres terrestres a prestar homenagens ao Sol. Foi graças à fotossíntese das plantas que toda a cadeia evolutiva da vida se tornou viável no planeta; Em última instância, nós realmente temos nos alimentado do Sol.
Mesmo o petróleo, este fétido ouro negro pelo qual os homens são capazes de fazer as guerras mais absurdas, nada mais é do que fruto da fotossíntese ao longo de milhões de anos, assim como qualquer outro combustível fóssil. Em nossa sede por energia na era moderna, temos buscado por soluções miraculosas, e foi assim que a fissão nuclear nos pareceu convidativa... Mas, será mesmo segura? Será mesmo que podemos bater no peito e dizer: “agora sim, nós temos exata noção do que ocorre, e podemos controlar totalmente a energia nuclear, jamais teremos outra Chernobyl...”? Acredito que a história fale por si só.
Não há nada de errado, diabólico ou “não-natural” com o uso da energia nuclear. Em realidade, ela é natural, como tudo o mais que compõe o Cosmos... O problema é insistirmos em fazer usinas em areia movediça, enquanto sempre tivemos uma Usina Central funcionando a pleno vapor. Porque não deixar que o Sol continue sendo a nossa usina nuclear? Afinal, ela sempre esteve lá, e nós temos recebido sua energia sem interrupções por bilhões de anos. Em todo caso, se um dia ela falhar, nossa última preocupação seria com o apagão no metrô.
Os girassóis são plantas originárias da América do Sul cultivada pelos povos indígenas para alimentação, foram domesticadas por volta do ano 1000 a.C. Elas tem esse nome porque acompanham a trajetória do Sol todos os dias, do nascente ao poente. Certamente os girassóis já reverenciavam o deus Invicto muito antes do homem ter surgido no planeta. Quem sabe não podemos aprender com eles? Sejamos, pois, como os girassóis!
As sementes do girassol produzem um óleo comestível, e sua produção anual ultrapassava 20 milhões de toneladas em 2008. Este óleo também serve para produzir combustível, o biodiesel, uma solução energética limpa e sustentável, muito embora continue sendo um sub produto da Usina Central.
E que tipo de energia enviada pelo Sol pode nos ajudar, afinal? Ora, a energia solar é a designação dada a qualquer tipo de captação de energia luminosa (e, em certo sentido, da energia térmica) proveniente do sol, e posterior transformação dessa energia em alguma forma utilizável pelo homem, seja diretamente para aquecimento de água ou ainda como energia elétrica ou mecânica. A radiação solar, juntamente com outros recursos secundários de alimentação, tal como a energia eólica e das ondas, hidro-eletricidade e biomassa, são responsáveis por grande parte da energia renovável disponível na terra. Apenas uma minúscula fração da energia solar disponível é utilizada. Ora, e a energia solar nada mais é do que a energia nuclear produzida num local seguro...
Os desertos do planeta recebem mais energia do Sol em seis horas do que todo o consumo da humanidade em um ano. Estima-se que apenas 1% da superfície de 9,1 milhões de quilômetros quadrados do Saara, onde o Sol brilha 4.800 horas por ano, seria suficiente para suprir as necessidades energéticas de todo o mundo. Esse potencial de fonte alternativa, no entanto, permanece até hoje mal aproveitado, pelas limitações logísticas que se impõem à geração de eletricidade em grande escala a partir da radiação solar. Um passo significativo no sentido de utilizar melhor a energia do sol foi dado em 2009, com a assinatura na Alemanha de uma carta de intenções num consórcio de doze empresas, que apresentou o Desertec, um projeto para produzir eletricidade no Saara, no norte da África, e abastecer a Europa.
Concluso, o megaprojeto teria uma capacidade instalada de 100 gigawatts. O sistema conseguiria atender a 15% da demanda europeia em 2050. Com ele seria possível produzir energia o bastante para suprir o Brasil por seis meses, ou o equivalente a quatro Itaipus. Seus idealizadores acreditam que, num mundo de crescente escassez energética e de necessidade premente de buscar fontes que não sejam de origem fóssil, são boas as chances de que o plano saia do papel. O investimento ganhou o apoio da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.
Os detratores da energia solar dizem que ainda é muito cara a produção de painéis solares, e que a simples produção dos mesmos já envolve um certo gasto de energia. Mas, convenhamos, será que não vale a pena investirmos nessa tecnologia? Ou será que o gasto nessas pesquisas chega sequer a 1% dos trilhões que são gastos no comércio de armas em todo mundo?
Tolos são os governantes que preferem gastar todos os seus recursos em armamento, apenas para assim poderem manter o domínio sobre territórios ricos em ouro negro, enquanto o deus Invicto, o que possibilitou nossa vida, e dos girassóis, e que em última instância produziu o próprio ouro negro, tem flutuado acima de nossas cabeças por todo esse tempo. Prometeu tem nos enviado seu fogo a cada momento, mas não aproveitamos... Talvez a guerra e os horrores dos desastres nucleares nos pareçam mais interessantes?
Se os governantes continuam cegos, saibam que hoje ao menos podemos, pouco a pouco, aproveitar a energia da Usina Central... Conforme a tecnologia para a produção de painéis solares caseiros vai ficando mais barata, cada vez mais projetos residenciais, particularmente na Europa, vão incluindo painéis nos telhados das casas. Não é uma solução tão vasta quanto os planos para usar o Saara como receptor global de energia solar, mas já é um começo... Um passo que já foi dado há alguns anos, aliás.
Quem sabe não chegue o dia em que produziremos nossa própria eletricidade em nossa casa, e dependeremos quase que somente dela para nossa manutenção diária, e inclusive o transporte em carros elétricos. Hoje, não é algo tão difícil de imaginar. Cada casa, um girassol... Não vai acontecer enquanto não tivermos vontade que aconteça.
Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu
- Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
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Crédito das imagens: [topo] Andreas Rocha; [ao longo] Mirian Guarnieri.
Marcadores: artigos, artigos (111-120), ciência, ecologia, economia, energia, natureza, política, radioatividade, sol, tecnologia
4 comentários:
Energia solar aproveitada sem ser através de paíneis solares neste link:
http://www.abengoasolar.com/corp/web/en/our_projects/solucar/ps10/index.html
Funciona a vapor, exatamente como uma usina nuclear.
Muito bom!
Apesar de não andar comentando, não perco uma atualização do blog.
Esse texto deveria ser leitura obrigatória nas faculdades de Engenharia.
Parabéns Rafael, seus textos alimentam a alma!
Abraço
Obrigado por acompanhar o blog Pedro, comentando de vez em quando já está ótimo :)
Espero realmente que esse post possa ajudar algum jovem que se interesse pela área. Imagina, não sei (quase) nada de engenharia, mas sei que são as escolhas dos jovens universitários, principalmente, que determinarão nosso futuro.
Tomara que deixem a radioatividade na casa das estrelas, e se dediquem a aprimorar as tecnologias sustentáveis (que não são poucas, e muitas são muito promissoras)...
Abs
raph
Enquanto ainda estamos gastando para tirar energia fóssil do fundo do mar, noutras partes do mundo já começam a colher a energia direto da fonte... Porque será que a Google investe nisso?
http://gizmodo.uol.com.br/maior-usina-solar-mundo/
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