O Reino
 
I.
“Que é a  vida?” 
Um  desconhecido me perguntou
Há muitas  vidas, quando lhe disse:
“A vida é o  que me foi revelado
Por um  profeta cheio de segredos
Falando aos  brados”
“Tudo é  pecado, tudo é pecado!”
  Gritava  aquele homem santo
  Que sabia ver  a sombra do Demônio
  Debaixo de  cada pedra e galho seco...
Com ele  aprendi a orar para me salvar
  Do grande Fim  de Tudo
  E do  Julgamento do Pai Justo:
  Aquele quem  diria quem de nós iria ao Céu
  E quem iria  arder abaixo da Terra
Mas, foi  nalguma vida que pensei...
  “Ó Pai Justo  e Onisciente, se Tu a tudo criou
  Mesmo o  Inferno é Tua obra
  E mesmo do  que lá ocorre, Tu bem sabes:
  Sabes de cada  gemido e ranger de dentes
  De cada filho  Teu a arder no enxofre
  Sabes  perfeitamente!”
Foi nesta vida que tornei-me ateu...
II.
  “Que é a  vida?” 
  Perguntei a  um rabi que andava pela Galileia
  E parecia  estar cheio de vida
  No olhar
  E em todos os  poros do corpo...
“A vida é uma  festa que se dá no Reino”
  “Mas onde  está o Reino, é alguma ilha além do mar?”
  “Se o fosse,  os peixes teriam nos precedido...”
  “Então,  estaria acima das nuvens?”
  “Se  estivesse, os pássaros seriam já como anjos...”
  “Onde está  tal Reino? Diga-me, ó rabi!”
“Primeiro é  preciso que você aprenda a dançar;
  Pois que, do  contrário, não será convidado para a festa”
III.
  Foi então que me dediquei a essa tal dança
  De corpo e  alma
  E, em cada  vida que fosse
  Se houvesse  aprendido mais um passo
  Um movimento  sequer...
Não teria vivido em vão
IV.
  “Que é a vida?”
  Me perguntará  outro desconhecido
  Nalguma vida  que virá;
  E eu citarei  o rabi:
  “Uma dança.  Uma dança belíssima”
E mostrarei  seus passos
  E o  desconhecido ficará espantado
  E achará que  sou um homem santo
  Ou profeta...
“Não há  santos nem profetas”
  “Mas como se  pode dançar tão perfeitamente?”
  “Nenhuma  dança nunca será perfeita”
  “Mas quero  dançar como tu, ó dançarino!”
  “Digo-te o  que me disse uma vez um rabi, há muitas vidas:
  Tudo que  tenho feito, dia virá que farão o mesmo
  Mesmo a minha  dança, dia virá que a dançarão com ainda mais vida
  E ainda mais  entusiasmo
  Pois que são  deuses
  E é dançando
  Que os deuses  alcançam ao Céu”
“Mas, onde  está o Céu?”
  “Onde sempre  esteve: na alma do dançarino...
  Hoje danço e  apenas danço
  E sei que  nada precisa ser revelado
  Além do que  já percebo em meu coração
  Ouça, ouça o  ritmo!”
  “Nada ouço, ó  dançarino”
  “Como pode?
  Como pode não  ouvir o ritmo da vida
  Na ânsia por  si mesma
  Tempestuosa e  caudalosa
  Preenchendo  todos os espaços?”
“Onde está a  vida? Está aqui, no presente?”
  “O presente é  como um rio a escaldar
  Uma chuva  torrencial
  De vida ancestral
Não há mais  medo
  Não há mais  dúvida ou certeza
  Não há mais  profecias
  Nem Deus ou o  Demônio
  Há apenas  esta dança na chuva
  Há apenas  esta vida, gota de inúmeras outras
  Que encharcam  há tudo que há...
Agora vejo:
  Debaixo da  cada pedra e galho seco
  Além do mar e  das nuvens
  E ainda  dentro da alma que dança:
  Tudo foi Céu
  Tudo será Céu
  Tudo é Céu!”
Bem vindo, tu que não é mais  desconhecido
    Meu semelhante...
    Bem vindo ao Reino
raph'13'A.'.A.'.
***
Crédito da foto: favim.com (Anônimo)
Marcadores: A.'.A.'., céu e inferno, dança, espiritualidade, gnósticos, poesia, poesia (101-110)
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