A canção da lua e do sol
Nunca acreditei muito num Céu futuro.
Creio mais no Céu que a gente mesmo faz
em meio a este mundo escuro
onde a vida é nada mais que lampejo fugaz.
Dizem que Deus criou o homem e a mulher,
um sol e senhor do dia;
outra lua e dona da noite.
Talvez os homens tenham cegado
ante tamanha luz ao seu lado,
pois foi a mulher quem viu primeiro a noitinha
a luz das estrelas na linha sem fim.
Foi um cientista quem o disse,
“Todos somos poeira estelar”.
Não é somente através da ciência
que chegamos a tal conclusão,
é preciso também saber amar...
Amar! Amar!
Além mar, além horizonte,
além planetinha a girar,
todas as estrelas são sóis
com luas e mundos e deuses
bailando junto a poeira sideral.
Há afinal na Antiguidade
esta conclusão magistral
de que não fomos criados
nem homens nem mulheres,
mas que antes o somos
(todos nós o somos)
da raça dos deuses!
Deuses! “Vós sois deuses
e dia farão tudo o que tenho feito
e ainda muito mais!”
Esqueçam desse velho deus decrépito.
O ancião patriarca
de barba muito, muito branca,
a exigir devoção,
a barganhar favores,
a determinar que há um gênero forte,
superior e muito macho,
e outro que lhe deve submissão.
Esqueçam dele, abandonem-no
em seu trono de escuridão.
Meus irmãos e irmãs,
caros viajantes das estrelas,
não foi este o deus quem os criou.
Há um outro, menos perfeito,
e por isso mesmo bem mais interessante,
que de fato, moldou ao homem e a mulher,
não apenas para que procriassem,
mas para que se amassem!
E assim se amando, cantassem em uníssono
esta tal canção que une lua e sol
e nos carrega sempre adiante...
Além mar, além horizonte,
além planetinha a girar,
até a ponta da teia
eterna e infinita
que tece o Céu:
um passo,
um gesto,
um manifesto,
um canto,
um pensamento,
um momento por vez...
Até que raie o dia definitivo,
o dia que também é noite,
e se faça Céu enfim
onde antes era tudo assim
tão, tão escuro.
por raph em 31 de Agosto de 2013
***
Crédito da imagem: Helena Nelson Reed
Marcadores: espiritualidade, feminilidade, hermetismo, machismo, poesia, poesia (111-120)
3 comentários:
"Nunca acreditei muito num Céu futuro.
Creio mais no Céu que a gente mesmo faz
em meio a este mundo escuro
onde a vida é nada mais que lampejo fugaz."
Caro, teu texto conversa com este, em determinado ponto:
http://www.baciadasalmas.com/2013/os-sinais-da-segunda-reforma-a-fenda-crescente-dentro-do-novo-testamento/#identifier_2_2963
Abs!
Ops, o link correto é este:
http://www.baciadasalmas.com/2013/os-sinais-da-segunda-reforma-a-fenda-crescente-dentro-do-novo-testamento/
Pois é, Paulo, embora tenha deixado de ser Saulo, nem sempre deixou de carregar sua sacolinha de pedras (prontas para serem arremessadas).
Paulo não é Jesus exatamente por não ser, nem de longe nem de perto, revolucionário como ele.
Esta cisão é muito bem vinda no novo pensamento cristão, mas a que se lembrar que, entre os gnósticos, ou pelo menos entre os que leram O Evangelho de Tomé, ela já era clara e evidente há muitas décadas...
Abs!
raph
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