Neruda, Pontual e a poesia
Jorge Pontual é um dos jornalistas mais bacanas do mundo. Além de ser especialista em relações internacionais, ciências sociais, divulgação científica e bactérias, também parece ter sido o principal responsável por trazer ao programa GloboNews em Pauta um quadro semanal onde, vejam só, recita poemas de grandes poetas da história.
Desta vez ele nos presenteou com uma primorosa tradução do poeta chileno Pablo Neruda:
(clique na imagem para abrir o vídeo no site da GloboNews)
***
[A poesia]
E foi nessa idade,
chegou a poesia para me buscar...
Não sei, não sei de onde saiu,
de inverno ou rio,
não sei quando nem como...
Não, não eram vozes,
não eram palavras, nem silêncio;
mas de uma rua, me chamava...
Dos ramos da noite,
de repente entre os outros,
entre fogos violentos,
ou voltando sozinho,
ali estava, sem rosto,
e me tocava...
Eu não sabia o que dizer,
minha boca não sabia dar nome,
meus olhos estavam cegos,
e algo me golpeava a alma...
Febre? Ou asas perdidas?
E fui ficando só,
decifrando aquela queimadura,
e escrevi a primeira linha vaga;
vaga, sem corpo, pura tontice!
Pura sabedoria
de quem não sabe nada...
E vi de repente o céu,
descascado e aberto,
planetas, plantações palpitantes,
a sombra perfurada,
crivada por flechas, fogo e flores.
A noite avassaladora,
o universo...
E eu, mínimo ser,
ébrio do grande vazio constelado,
a semelhança, a imagem do mistério,
me senti parte pura do abismo,
rodei com as estrelas,
meu coração se desatou no vento...
Pablo Neruda (tradução de Jorge Pontual)
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